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SELEÇÃO BRASILEIRA

Emily Lima exalta 'rebelião' de jogadoras contra sua demissão da Seleção

Três atletas prometem não defender mais o Brasil. Novo técnico, Vadão diz que o movimento não é direcionado a ele, mas Fran critica a postura do treinador

postado em 29/09/2017 09:30 / atualizado em 29/09/2017 09:23

Rafael Ribeiro/CBF
Emily Lima vem fazendo história em relação ao empoderamento das mulheres no esporte brasileiro. Em dezembro de 2016, ela se tornou a primeira mulher a assumir o comando da Seleção de futebol feminina. Dez meses depois, os 56,4% de aproveitamento em jogos e torneios amistosos foram suficientes para a CBF derrubá-la do cargo. A demissão motivou debandada de jogadoras da equipe em forma de protesto. “É triste, mas chegou o momento de as atletas buscarem o respeito e o direito delas. Fazemos alguma coisa agora ou nada vai mudar. Pena que por enquanto foram três, mas são nomes de peso”, protesta Emily Lima, ao Correio.

A primeira a anunciar a aposentadoria da Seleção foi Cristiane. Aos 32 anos, ela é a maior artilheira do futebol em Jogos Olímpicos, tanto no feminino quanto no masculino, com 14 gols. “A saída da Emily foi um balde de água fria. Simplesmente tiraram essa comissão em pouquíssimo tempo, quando todas as atletas estavam gostando do trabalho”, criticou a atacante do Changchun Yatai, na despedida publicada na quarta-feira nas redes sociais. A decisão foi anunciada como a mais difícil da vida dela: “Aguentei por 17 anos. Não tenho mais força”.

Cristiane ressaltou que a atitude não era pessoal contra o novo treinador da Seleção feminina, Vadão. A atacante inclusive conversou com o técnico antes de publicar o anúncio da aposentadoria. Vadão antecedeu Emily Lima no cargo e esteve com a equipe no quarto lugar nas Olimpíadas do Rio-2016.

Ao Correio, Vadão disse que Cristiane estava “irredutível”. “Mas falei a ela que as portas da Seleção estão sempre abertas”, pontuou. Ele ainda comparou a saída da atacante à de Formiga, que se aposentou no fim de 2016. “A Cristiane é uma jogadora top e a repercussão acabou sendo maior. Mas vamos deixar passar o tempo.”

A atitude de Cristiane encorajou outras duas jogadoras a aderirem ao protesto. Aos 27 anos, a meia Francielle disse ter encerrado ciclo de 12 anos defendendo a camisa verde-amarela. Fran, como é chamada, foi mais crítica. “Não tenho nada contra o Vadão, mas, sim, contra a omissão dele em relação a alguns casos”, alfinetou. E completou: “Não vejo coerência em fazer parte de um trabalho que não acredito que possa dar certo”.

A outra atleta a anunciar a saída da Seleção foi a lateral-esquerda Rosana, do PSG, que tem quatro Olimpíadas no currículo: Sydney-2000, Atenas-2004, Pequim-2008 e Londres-2012. Foram 18 anos na Seleção. As três estiveram juntas na conquista da medalha de prata em Pequim-2008, o último pódio do futebol feminino tanto em Olimpíadas quanto em Copas do Mundo.

Em nota, a CBF diz entender que a decisão de algumas jogadoras em não atuar mais pela Seleção é uma questão de ordem pessoal e que deve ser respeitada.

Carta à CBF

Antes de as três jogadoras tomarem decisão mais drástica, com o afastamento da Seleção, 24 das 26 jogadoras das comandadas por Emily assinaram uma carta enviada à CBF com o pedido da permanência da treinadora. “A demissão dela foi precipitada. Ela, em 10 meses de trabalho, conseguiu fazer algo que ninguém fez. Tenho certeza que isso aconteceu simplesmente porque ela é mulher”, esbravejou Fran.

Sobre o apoio manifestado pelas jogadoras, Emily ressalta que a relação com as atletas era “somente dentro de campo”. “Claro que batia um papo fora dos treinos, mas muitas vezes era sobre futebol”, conta. “Acho que o próprio trabalho fez surgir o respeito delas. Ganhamos isso tratando todas iguais, independentemente se era Cristiane, Marta, Bárbara ou qualquer uma delas. O respeito foi uma soma por tudo isso”, pondera.

Convocação

Novo técnico da Seleção, Vadão prepara a equipe para disputar a Copa América, em abril do ano que vem. A competição é a mais importante de 2018. Emily não acredita que a mudança de treinador faça com que a Seleção não consiga atingir o objetivo de assegurar vaga na Copa do Mundo da França, em 2019, e a Olimpíadas de Tóquio-2020. Por ironia, o próximo compromisso da Seleção é um torneio amistoso na China, país onde Cristiane atua pelo Changchun Yatai. Na competição, o Brasil enfrentará China, México e Coreia do Norte. A convocação é hoje.