2

Rogério Ceni diz que não recebeu um centavo do Cruzeiro e crava: 'Se eu tivesse ficado, não iria para a Série B'

Técnico dará detalhes da passagem pela Toca da Raposa no programa Bola da Vez de sábado, às 23h, na ESPN

17/09/2020 20:29 / atualizado em 18/09/2020 12:53
compartilhe
Rogério Ceni revelou que ainda não recebeu um centavo do Cruzeiro
foto: Juarez Rodrigues/EM

Rogério Ceni revelou que ainda não recebeu um centavo do Cruzeiro

Rogério Ceni será o convidado do programa Bola da Vez, da ESPN, no próximo sábado, às 23h, e dará detalhes da passagem conturbada pelo Cruzeiro no ano passado. Em declarações já divulgadas pela emissora, o treinador de 47 anos separa bem o que é o clube e as pessoas que o comandaram. Apesar de grande admiração pela instituição, ele lamenta que, até hoje, não tenha recebido nenhum centavo pelo trabalho que executou entre 11 de agosto e 27 de setembro de 2019. Ainda assim, preferiu não ir à Justiça. Ceni ainda lamentou muito a queda à Série B e afirmou que, se tivesse ficado na Toca da Raposa II, teria conseguido evitá-la.

“Lamento muito não conseguir ajudar, mas uma coisa eu te digo: se eu tivesse ficado, com as mudanças que estavam sendo implementadas, o Cruzeiro não iria para a Série B. Isso eu garanto para você. Eu acho que o Cruzeiro conseguiria escapar da zona do rebaixamento”, disse o treinador, atualmente no Fortaleza.

Trabalhou e não recebeu


O treinador lembrou ainda que teve grande prejuízo financeiro na passagem pelo Cruzeiro por ter assumido gastos na saída do Fortaleza e por jamais ter recebido um centavo na gestão de Wagner Pires de Sá. Nem mesmo o Conselho Gestor e a atual gestão, de Sérgio Santos Rodrigues, teriam o procurado para um acordo.

“Além do que eu paguei para trabalhar no Cruzeiro, é bom esclarecer isso. Eu gastei muito dinheiro para ir para Minas e nunca recebi um centavo por um dia de trabalho até hoje. Nunca entrei na justiça contra ninguém, não gosto disso, mas isso é muito triste, não receber uma ligação sequer. Absolutamente nada. Eu fico triste porque é um grande clube, mas eu gastei dinheiro! Paguei rescisão contratual de onde eu morava, rescisão contratual de onde eu aluguei imóvel, mais transferência, carro etc”, contou Ceni.

A reportagem pediu um posicionamento à atual gestão do Cruzeiro sobre a afirmação de Ceni. A resposta foi enviada no fim da manhã desta sexta. “O Cruzeiro Esporte Clube confirma que a atual gestão fez um contato formal com Rogério Ceni, para entender quais são os valores envolvidos e devidos ao treinador. Em sinal de respeito à história e à postura de Rogério, a atual gestão fez um pedido de desculpas em nome do Clube e sinalizou que está plenamente disposta a resolver a situação da melhor forma possível”.


Rebaixamento


O treinador atribuiu o rebaixamento do Cruzeiro aos dirigentes e não a treinadores e jogadores. Na campanha da queda, o clube ainda foi comandado por Mano Menezes, Abel Braga e Adilson Batista. “Eu digo: os maiores culpados, ou melhor, uma pessoa em especial é culpada, que foi quem dirigiu o clube, não os jogadores”.

“Cruzeiro é um belíssimo lugar para se trabalhar, é uma pena o que fizeram com o Cruzeiro. Ele sempre foi um time que eu tinha muita sorte quando eu jogava, nos confrontos eu fazia gols, mas eu tinha muita admiração pelo clube. Além da camisa, que eu acho muito bonito esse tom de azul. Mas infelizmente lá no Cruzeiro quem administrou naquele tempo não soube lidar. Acho que o Cruzeiro vai ter sérias dificuldades, mas continua sendo um grande clube. Fui muito recebido, adoro os funcionários de lá, fui muito bem tratado. Morei dentro do CT 21 dias para entender como tudo funcionava. Quando eu entendi como tudo funcionava eu mudei para uma casa, aí eu entendi que não ia funcionar muito”, concluiu Rogério Ceni.

Outros trechos estarão na edição do Bola da Vez de sábado, dia 19, às 23h. 


Passagem pelo Cruzeiro


Ceni comandou o time celeste em oito partidas, com quatro derrotas, duas vitórias e dois empates. Foram exatos 46 dias à frente do Cruzeiro.

Rogério Ceni iniciou sua trajetória no Cruzeiro com bons resultados. A Raposa vinha de uma sequência de uma vitória em 18 jogos com o técnico Mano Menezes. Logo na estreia de Ceni, o time venceu o Santos por 2 a 0, no Mineirão. Depois, empatou com o CSA por 1 a 1, no Rei Pelé, em Maceió. Na sequência, bateu o Vasco, no Gigante da Pampulha, por 1 a 0.  O futebol não era brilhante, mas, enfim, o time voltava a somar pontos no Campeonato Brasileiro.

Começo dos desentendimentos


A primeira derrota também trouxe a público o descontentamento de um dos principais atletas do elenco. Thiago Neves expôs o treinador após a goleada sofrida pelo Internacional por 3 a 0, no Beira-Rio, pela semifinal da Copa do Brasil, no dia 4 de setembro. O armador disparou contra as mudanças promovidas pelo técnico Rogério Ceni na escalação do time.
 
Ceni improvisou Jadson na lateral direita, preterindo Edilson, substituto imediato de Orejuela, que estava com a Seleção Colombiana. Ainda na linha de defesa, optou por manter Fabrício Bruno, deixando Leo no banco de reservas. Na etapa final, ao perder Dedé, por lesão, o treinador chamou Ariel Cabral e deslocou Henrique para a defesa.
 
“É um jogo diferente, a gente precisou se adaptar. Na minha opinião, você mudar três ou quatro jogadores em uma decisão fora de casa é muita coisa, em um time que já vem formado. Improvisar jogadores é difícil, ainda mais jogadores que não vêm jogando. Ficou um pouco complicado, mas mesmo assim a gente conseguiu fazer um bom primeiro tempo. E aí o primeiro gol complicou”, disse o meia.
 
Thiago Neves também criticou a revelação da escalação para o elenco poucas horas antes da partida decisiva. “A gente ficou sabendo na preleção, sei lá, duas ou três horas antes do jogo. Na minha opinião, achei muito em cima da hora. Você improvisar três ou quatro jogadores numa linha que já vinha formada há dois anos. Nada contra, óbvio que queremos ganhar, jogadores que entraram jogaram bem, mas é muita coisa para um segundo jogo de semifinal”, complementou.


Resposta de Ceni

 
Ceni respondeu Thiago Neves na entrevista após a goleada sofrida pelo Grêmio, por 4  a 1, no Independência, no dia 8 de setembro. Na opinião do treinador, o meia usou aquelas palavras pelo fato de Edilson, um de seus grandes amigos no elenco, ter ficado no banco de reservas.
 
“Não estamos aqui para crucificar o Thiago, algo assim. Muito pelo contrário, é um jogador que tem uma história no clube. Dentro de suas melhores condições e com a cabeça boa, é um jogador importante para a gente. Acredito muito que a declaração do Thiago foi porque viu um amigo no banco de reservas, que, no caso, foi o Edilson. Houve a improvisação do Jadson na lateral direita. De resto, se você pegar o time que jogou contra o Internacional, é o mesmo que jogou contra Vasco e CSA, todos conhecedores de sua posição”.
Na sequência da entrevista, Rogério foi categórico ao dizer que os jogadores já tinham conhecimento da opção por Jadson, diferentemente do alegado por Thiago Neves. O comandante cruzeirense esclareceu também a tomada de decisões por questões profissionais, e não baseado em amizades. Segundo ele, se não for desse jeito, precisa “passar a vez” a outro profissional.
 
“A escalação nunca é divulgada só três horas antes do jogo. Quero deixar isso bem claro. Mas tenho o maior respeito. E mais do que amigo ou emocional, sou profissional. Entendo o nervosismo na saída do jogo, é um momento difícil, você quer tentar uma explicação. Mas não temos um ou outro jogador culpado. Só tenho que, de alguma maneira como treinador, se for para ficar no Cruzeiro, preciso fazer alguma coisa diferente. Se não, preciso passar a vez a outra pessoa que tenha uma mentalidade diferente para continuar no Cruzeiro”.

Dedé cobrou confiança em veteranos

 
Em entrevista no dia 23 de setembro, Dedé destacou a história dos jogadores do elenco. Disse que muitos, como ele, Fábio, Rafael, Henrique, Leo e Egídio, foram bicampeões pelo clube em 2013 e 2014. Justamente por isso, o zagueiro afirmou que o clube precisava reerguer os veteranos mentalmente. Ele chegou a citar Edilson, um dos atletas preteridos por Rogério Ceni, como um dos melhores da posição no Brasil.
 
“Não posso perder um Thiago Neves, que deu um título para o Cruzeiro, um título não, que foi importante nos dois títulos da Copa do Brasil, fora os dois Mineiros. Não posso perder o Edilson, que, pra mim, é um dos melhores da posição. Não vive boa fase hoje, como ninguém no Cruzeiro vive boa fase. Mas, do grupo do Cruzeiro, da instituição, foi o cara mais próximo de ter ganhado a Libertadores, também foi campeão da Copa do Brasil e do Mineiro com a gente. (...) Não posso deixar de citar esses jogadores que são muito importantes, como Sassá”, frisou Dedé.


Jogos de Ceni no Cruzeiro

 
Cruzeiro 2 x 0 Santos – Campeonato Brasileiro
 
CSA 1 x 1 Cruzeiro – Campeonato Brasileiro
 
Cruzeiro 1 x 0 Vasco – Campeonato Brasileiro
 
Internacional 3 x 0 Cruzeiro – Copa do Brasil
 
Cruzeiro 1 x 4 Grêmio – Campeonato Brasileiro
 
Palmeiras 1 x 0 Cruzeiro – Campeonato Brasileiro
 
Cruzeiro 1 x 2 Flamengo – Campeonato Brasileiro
 
Ceará 0 x 0 Cruzeiro – Campeonato Brasileiro


Compartilhe