Ídolos do Cruzeiro vão comandar projeto de redenção do Valério na Segundona mineira

Pedra no sapato dos times de Belo Horizonte entre as décadas de 1970 e 2000, o Valério quer ressurgir como uma das forças do interior mineiro. Para comandar esse projeto na Segunda Divisão do Estadual, o presidente Luiz Antônio de Oliveira 'Precata' convidou os ídolos cruzeirenses Roberto Gaúcho e Marcelo Ramos. O primeiro será o treinador e o segundo, auxiliar. O acordo foi fechado verbalmente. Agora, o clube de Itabira busca parceiros e patrocinadores para confirmar sua presença na disputa, marcada para julho, e assinar os contratos com toda a comissão técnica. A intenção da diretoria é contratar entre 25 e 27 jogadores.

Em 2016, o clube chegou ao hexagonal final da Segunda Divisão, mas terminou em quinto lugar. Já na temporada passada, a equipe desistiu de participar da competição por falta de recursos. Sem o apoio financeiro da Vale, empresa que o sustentou por muitas décadas, o clube de 75 anos perdeu força no interior e hoje acumula dívidas na ordem de R$ 8 milhões. A ideia de convidar os ex-atacantes cruzeirenses Roberto Gaúcho e Marcelo Ramos para comandar o projeto tem como objetivo atrair mídia e apoiadores.

Se tudo der certo, essa não será a estreia de Roberto Gaúcho como treinador. Entre 2003 e 2009, ele dirigiu Joinville-SC, Veranópolis-RS, Caxias-RS, Tubarão-SC, Araxá e Mamoré. Recentemente, fez estágio de uma semana com Renato Gaúcho no Grêmio. Marcelo Ramos, por sua vez, debutará na função de auxiliar. 

Mesmo sem contrato assinado, Roberto Gaúcho se dirigiu à população de Itabira em um áudio postado no Whatsapp e pediu apoio para o projeto de recuperação do Valério. “Gostaria de falar pra você que eu, como treinador de futebol, Marcelo Ramos, meu auxiliar-técnico, e Ítalo, preparador físico, estamos chegando em breve ai em Itabira, com muita alegria, muita satisfação, para o Valeriodoce, um time de muita tradição no futebol brasileiro e mineiro, que eu tive o prazer de diversas vezes jogar contra, aí na década de 1990, era muito difícil ganhar do Valério aí em Itabira, time muito forte e está adormecido. A gente precisa do apoio de todos vocês da região, da cidade”, declarou.

Segundo ele, a proposta é reconduzir o Valério à divisão de elite do futebol mineiro. Para isso, seriam necessários ao menos dois anos de trabalho. Um eventual acesso levaria o time ao Módulo II da Primeira Divisão em 2019. O retorno ao Módulo I seria viável só em 2020. “A gente está chegando em Itabira para dar uma alavancada nesse clube, levar à segunda divisão, à primeira divisão, essa é a intenção minha, do Marcelo Ramos, porque a gente é conhecido no mundo todo, somos ídolos, não vamos aí para passear, para brincar. Vamos em busca de fazer um grande trabalho e sair do Valério para uma equipe grande do futebol brasileiro. Essa é a intenção nossa, da diretoria também, fazer um trabalho brilhante, e conto com a colaboração de todos os empresários, do prefeito da cidade”, concluiu.

Mas a simples confirmação da presença do Valério na Segundona é incerta, justamente pela falta de recursos. Ao Superesportes, o presidente Luiz Antônio de Oliveira 'Precata' revelou que as escolinhas de futebol são a única fonte de receita mensal. A folha salarial, sem o futebol, é de R$ 27 mil. Com a retomada do time profissional, os gastos aumentam muito. “Com alimentação, transporte, estadia nas viagens, comissão técnica e a contratação de 25 a 27 jogadores, vamos gastar cerca de R$ 450 mil em cinco meses, entre julho e novembro, quando é disputada a Segundona. Não temos esse direito, mas estamos atrás”.

”Já estamos com o projeto pronto e vamos apresentar às empresas da cidade, da região. Vamos também conversar com a direção da Vale, para ver se eles podem apoiar a volta do time. Eles têm recursos, são donos de muitos terrenos em Itabira, e precisamos deles. Depois desse acerto com o Roberto Gaúcho e com o Marcelo Ramos, só se fala nisso aqui na cidade. Está bombando. Mas precisamos de apoio e parcerias para levar adiante. Tenho fé que vou colocar de novo o Valério entre os principais clubes do estado”, disse 'Precata'.

A direção quer negociar espaços publicitários no uniforme e 26 placas no entorno do Estádio Israel Pinheiro, que tem passado por obras de melhoria para receber os jogos. A capacidade é de 11 mil espectadores, mas pode cair para 8 mil com os laudos. “Já estamos trabalhando para fazer pequenas adequações que o Corpo de Bombeiros pediu. Vamos gastar R$ 30 mil com isso”, disse o presidente. 

Na Segunda Divisão, os times inscrevem atletas de até 23 anos. Apenas cinco nomes podem ultrapassar essa idade. O presidente do Valério admite contar com ajuda de outros clubes na montagem do elenco. “Temos bom relacionamento no Cruzeiro, no Ipatinga, no América, mas não posso fazer isso enquanto não estiver 100% fechado com a comissão”.

Se o projeto vingar, os treinos serão no Estádio Israel Pinheiro e em um campo menor, que integra o clube social do Valério. “Temos contratos com times amadores da cidade para usar outros campos também. Não temos centro de treinamento. Esse foi o grande erro do Valério nos tempos em que ainda tinha parceria com a Companhia Vale do Rio Doce, justamente porque a empresa é dona de muitos terrenos”, lamenta o atual mandatário.

Para viabilizar o time profissional em médio e longo prazo, o Valério também precisará reativar suas categorias de base. Nesse primeiro momento, o clube firmou parceria com o empresário Denis Alacoque para coordenar a base e montar times Sub-15 e Sub-17. “Iniciaremos em abril o Sub-15 e o Sub-17 para disputar o Mineiro e começaremos a preparar em maio para o profissional. O Valério já foi tricampeão mineiro júnior”, lembra, com orgulho, o presidente do Dragão, como também é conhecido do time itabirano.