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MINAS E AS COPAS

Gerações talentosas amargaram jejum de 24 anos sem título mundial

Seleção Brasileira levou 24 anos para conseguir o tetracampeonato mundial. Nesse período, gerações de grandes jogadores passaram em branco pela Seleção

postado em 23/04/2018 19:59

Arquivo EM


“O sonho acabou. Agora é voltar ao trabalho e esperar até 1986.” A manchete do Estado de Minas de terça-feira, 6/7/1982, acompanhada da foto de um torcedor de cabeça baixa e da cidade vazia, retrata bem a decepção do torcedor diante de uma das mais dolorosas derrotas do futebol brasileiro: o revés sofrido para a Itália, por 3 a 2, no Sarriá, em Barcelona, que decretou a eliminação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Espanha’1982.

O Brasil, do técnico Telê Santana, precisava apenas do empate para ir à final, mas os três gols de Paolo Rossi frustraram uma das gerações mais talentosas das Copas. “Tínhamos que ter a humildade de chegar e falar: ‘olha, vamos jogar pelo empate que nós vamos passar’. E isso não aconteceu pela qualidade dos jogadores, da maneira que jogava, sempre procurando vitórias e isso não aconteceu nesse jogo”, analisa o zagueiro Luizinho, à época no Atlético, titular nas cinco partidas do Brasil na Espanha.

Depois de maravilhar o mundo com a campanha impecável no México, em 1970, o Brasil amargou um jejum de 24 anos até voltar a levantar a taça, nos Estados Unidos. Nesse período, algumas das gerações mais brilhantes dos clubes brasileiros passaram em branco. Luiz Pereira e Leivinha, da segunda academia de futebol do Palmeiras; Luizinho, Cerezo, Reinaldo e Éder, do Atlético; Leandro, Júnior e Zico, campeões mundiais com o Flamengo, são alguns dos muitos exemplos.

Na Alemanha’1974, Zagallo manteve no time titular três jogadores da campanha vitoriosa de quatro anos antes: Piazza (Cruzeiro), Rivellino (Corinthians) e Jairzinho (Botafogo). A eles se juntaram jovens promissores, como os laterais Marinho Chagas (Botafogo) e Nelinho (Cruzeiro), que foi chamado pela primeira vez para a Seleção três meses antes do Mundial.

“Em julho de 1972, eu era reserva do Remo. E, em dois anos, eu fui de reserva do Remo a jogador do Cruzeiro e convocado para uma Copa do Mundo. E entrei no lugar do cara que eu mais admirava, que era o Carlos Alberto Torres. Ele machucou e fui convocado. Na preparação, o Zé Maria machucou também e fui titular na Copa”, lembra Nelinho, à época com 24 anos. Nelinho foi titular na primeira fase e Zé Maria retomou o posto na fase final, quando o Brasil se despediu com derrotas para a Holanda, de Cruyff, e para a Polônia, de Lato.

UPI/Arquivo EM

O lance inesquecível do lateral cruzeirense, entretanto, ocorreria quatro anos mais tarde, no Monumental de Nuñez, em Buenos Aires. Aos 19min do segundo tempo da decisão do terceiro lugar, contra a Itália, ele recebeu a bola na direita, ajeitou e chutou com tanta força que a bola fez uma curva improvável e entrou no canto direito de Dino Zoff.

“Em 1978, eu achei que poderíamos ter jogado, pelo menos, a final da Copa do Mundo. O grande pecado foi contra a Argentina. O banco desse dia era eu, Edinho, Zico e Rivellino, nós quatro. A comissão técnica entendia que empate era bom resultado, eu não entendia assim. Eles temiam a gente. Na rodada final, eles entraram em campo sabendo do resultado que precisavam e venceram o Peru por 6 a 0. Saímos invicto, mas não ganhamos nada”, lembra Nelinho.

Confusões na Toca I

A derrota na Espanha até hoje é lembrada como uma das mais dolorosas da história da Seleção Brasileira. Telê Santana conseguiu reunir o talento de Waldir Peres, Leandro, Oscar, Luizinho, Júnior Falcão, Zico, Sócrates, Serginho, Éder, além de reservas de luxo como Edinho, Paulo Isidoro e Dirceu.

Entre a Copa da Espanha e do México, o Brasil teve três treinadores: Carlos Alberto Parreira, Edu (irmão de Zico) e Evaristo de Macedo. Telê voltou ao comando em 1985 e, às vésperas do Mundial, precisou lidar com uma grande polêmica. A Seleção Brasileira se preparava na Toca da Raposa. Durante o período de concentração, Renato Gaúcho e Leandro chegaram de madrugada ao CT do Cruzeiro, desrespeitando os horários rígidos estabelecidos por Telê. Na lista final, o técnico mineiro cortou o ídolo do Grêmio, mas manteve o lateral do Flamengo no grupo. No dia do embarque, no entanto, Leandro não compareceu ao aeroporto e não viajou em solidariedade ao gaúcho.

No México, mesmo com remanescentes da Copa da Espanha, como Júnior, Falcão, Sócrates e Zico, o Brasil parou nas quartas de final, nos pênaltis, na primeira de três eliminações para a França em 20 anos. O jejum do Brasil continuou no Mundial seguinte, na Itália, quando a Seleção de Sebastião Lazaroni caiu para a Argentina nas oitavas de final.

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