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Queda em Tóquio pode marcar fim da geração de Marta e Formiga na Seleção

Depois de mais de uma década, Seleção Brasileira deve ter de se reinventar sem as duas jogadoras que ajudaram a elevá-la para o 1º escalão do futebol feminino

30/07/2021 10:15 / atualizado em 30/07/2021 11:04
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Com Formiga e Marta, o Brasil ganhou outro patamar no cenário do futebol feminino mundial
foto: Fabian Bimmer/Reuters - 3/7/11

Com Formiga e Marta, o Brasil ganhou outro patamar no cenário do futebol feminino mundial

A Seleção Brasileira Feminina de Futebol voltou a ficar pelo caminho em uma Olimpíada ao ser eliminada pelo Canadá na madrugada desta sexta-feira (horário de Brasília), em Miyagi, pelas quartas de final dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Mas do que a queda precoce, o revés nos remete a dois pontos importantes: o primeiro é o fim da geração de Marta, que por duas vezes bateu na trave e voltou para casa com a prata em Olimpíadas.

A eliminação brasileira no torneio de futebol feminino dos Jogos de Tóquio



O outro ponto é que a volta antecipada da Seleção é uma ameaça ao apoio que a modalidade vem buscando para tentar se aproximar da igualdade de reconhecimento e da estrutura do futebol masculino.

A participação brasileira nesta edição dos Jogos até trouxe marcas interessantes. Aos 35 anos, a camisa 10 alagoana, por exemplo, tornou-se a primeira mulher a fazer gols em cinco edições olímpicas.

Veterana do elenco, Formiga, de 43 anos, foi ainda mais longe. Esteve presente em sete Jogos Olímpicos com o Brasil. A primeira delas, em Atlanta'1996.

No entanto, a ausência da equipe na briga por uma medalha no Japão acabou tirando o brilho de um encerramento à sua altura. Formiga e Marta são há ciclos a cara desse time brasileiro. Não serão mais.

A campanha das meninas em Tóquio teve um começo animador e com direito a goleada de 5 a 0 sobre a China. Com sete pontos em três partidas, a classificação na fase de grupos veio dentro do esperado.

Mas no meio do caminho, tinha o Canadá. Diante do desfecho inesperado, resta agora à premiada técnica sueca Pia Sundhage ter força suficiente para bancar uma reestruturação no futebol da seleção a fim de colocar o Brasil, de fato, entre as potências do futebol feminino, lugar que já ocupou em passado recente.

Contratada em julho de 2019, a expectativa em cima do seu trabalho era alta para Tóquio. O Brasil não tem medalha de ouro no futebol feminino. Consistia em aproveitar o ato final da carreira de Marta e sua geração para buscar, senão esse ouro, ao menos um lugar no pódio. Mas, neste primeiro teste de fogo, a treinadora sueca fracassou em sua missão.

Martadependência


Desde sua chegada, a preocupação da comandante foi livrar o time da "Martadependência", característica que marcou a trajetória das meninas do futebol desde que a camisa 10 passou a se destacar internacionalmente.

"O Brasil é muito mais do que a Marta", afirmou Pia, mostrando que uma equipe vencedora não pode depender apenas de uma estrela.

Outra preocupação que a treinadora pretende comprar é quanto à criação de uma liga mais forte de futebol no Brasil. "Isso é fundamental para a formação de mais jogadoras de talento. E o Brasil tem muita gente boa", disse a técnica.

Há ainda uma terceira situação no momento: a bagunça que está a CBF, com presidente afastado por acusação de assédio moral e sexual, troca de comando e pedido da justiça para anular a eleição passada. Pia foi escolhida pelo presidente Rogério Caboclo, que não ocupa mais o cargo.

Ciclo de prata


A partir de 2004, quando veio a primeira medalha de prata para o futebol feminino, a obsessão pelo ouro passou a pesar nos ombros das meninas. Era o despertar de uma geração que tinha, além de Marta, Pretinha e Cristiane.

"Era uma época de muita dificuldade, onde a superação contou muito. Muitas vezes nem material esportivo nós tínhamos. Tinha até que emprestar a chuteira para outra poder atuar", lembrou Cristiane, uma das principais atletas da sua geração.

O ouro no Pan de 2007, além do vice na Copa do Mundo do mesmo ano, reforçaram a sensação de que o país estava se tornando uma potência no futebol feminino.

Mas como em Atenas'2004 o Brasil falhou em seu ato final e também teve de se contentar com o segundo lugar nos Jogos de Pequim quatro anos mais tarde, a modalidade não conseguiu o apoio que precisava, nem na CBF nem no País.

Fiasco em Londres e no Rio


A soberania de Marta como melhor do mundo foi um contraste no que diz respeito à expectativa do Brasil em Olimpíadas. Enquanto a camisa 10 brilhava, o time não vencia nada.

Em Londres, a Seleção Brasileira feminina fez a sua pior campanha, caiu nas quartas de final também e não chegou sequer a brigar pelo pódio, a exemplo desta edição.

Quatro anos mais tarde, jogando diante de sua torcida, no Rio, o Brasil até entrou na briga por medalhas, mas acabou olhando o pódio de longe. A pressão de ter a melhor jogadora do mundo e não conseguir um título de expressão para a Seleção passou a pesar.

E o futebol masculino, sempre alvo de comparação, liderado por Neymar, quebrou a sequência de fracassos e festejou seu primeiro ouro olímpico.

Em 2019, na Copa do Mundo na França, Marta chegou a jogar a toalha e culpou a falta de apoio da CBF para que o futebol feminino emplacasse, de fato.

Após a eliminação do Brasil nas oitavas de final, o tom foi de desabafo. "Temos de lutar pelos nossos direitos. É muita falta de estrutura. Temos de estar sempre lutando para provar que somos capazes. O que peço para essas meninas é que corram mais e estejam sempre prontas. É melhor que chorem no começo para sorrir no fim".
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