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Ex-América, Andrei Girotto vira zagueiro na França e é referência no Nantes

Jogador de 29 anos, que também defendeu Palmeiras e Chapecoense no Brasil, falou sobre a carreira no futebol europeu em entrevista ao Superesportes

18/03/2021 06:00 / atualizado em 18/03/2021 14:25
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Ex-América, Andrei Girotto é capitão do Nantes, da França
foto: Arnaud Duret/FC Nantes

Ex-América, Andrei Girotto é capitão do Nantes, da França

Ex-volante de América, Palmeiras e Chapecoense , Andrei Girotto está perto de completar quatro anos no Nantes , tradicional clube francês detentor de oito títulos da Ligue 1 , três da Copa, um da Copa da Liga e três da Supercopa. No entanto, as glórias do passado não se aplicam ao cenário de momento, já que Les Canaries brigam contra o rebaixamento à segunda divisão, em 18º, com 27 pontos em 29 rodadas. Em entrevista ao Superesportes , o jogador colocou o confronto direto com o Lorient (17º, com 28), às 11h (de Brasília) de domingo (21), no Stade de la Beaujoire, como o mais importante da temporada.

“É um adversário direto, então temos que vencer para ultrapassá-los na tabela e ganhar tranquilidade para trabalhar. Temos nove jogos, nove finais. Contra um concorrente direto, é mais ainda. Estamos cientes disso, que será um jogo difícil. Jogamos em casa, gostaríamos de contar a torcida. Aqui em Nantes a torcida é muito apaixonada, parecida com a torcida brasileira, que apoia, canta e vibra. Vai fazer muita falta”.

ASSISTA À ENTREVISTA DE ANDREI GIROTTO, ZAGUEIRO DO NANTES, AO SUPERESPORTES


O sopro de esperança veio no último domingo (14) com a vitória de virada sobre o Paris Saint-Germain, por 2 a 1, em Parc des Princes, na capital francesa. Nesse compromisso, Andrei carregou a braçadeira de capitão. Em vez de atuar no meio-campo, como era de costume no Brasil, foi zagueiro num 3-4-3 implantado pelo técnico Antoine Kombouaré, contratado há um mês com a missão de evitar a despromoção à Ligue 2. Um grande alento para uma campanha titubeante do Nantes - 5 triunfos, 12 empates e 12 derrotas.

“A gente acabou de fazer um grande jogo contra o PSG. Para a nossa equipe, que está em uma situação mais delicada, foi extremamente importante para a sequência. É difícil explicar o porquê (da fase ruim), mas são vários motivos. Tivemos muitas trocas de treinadores, estamos com um pouco de turbulência entre o dono do clube e os torcedores e isso afeta um pouco o ambiente. Com a chegada do novo treinador, o Kombouaré, ele conseguiu implantar uma ideia que a gente necessitava para escapar do rebaixamento. A equipe está focada para fazer grandes jogos nas últimas nove rodadas e não precisar brigar por esse play-off. Com esse esquema que ele vem mostrando, temos tudo para sair dessa situação”.

Veja os gols de PSG 1x2 Nantes


É com a camisa 3 e o sobrenome Girotto estampado nas costas que o gaúcho natural de Bento Gonçalves, a 109 quilômetros de Porto Alegre (RS), encara a missão de enfrentar craques como Neymar, Di María, Icardi e Mbappé, do PSG. Volante de origem, ele aprendeu a ser zagueiro por orientação do técnico bósnio Vahid Halilhodzic, atualmente na Seleção de Marrocos, em 2018/2019. Em 2019/2020, o francês Christian Gourcuff informou ao brasileiro que gostaria de mantê-lo na função. Adaptado, Andrei não esconde a preferência por seguir no setor defensivo, em vez de retornar ao meio-campo.

“Nas duas primeiras temporadas, joguei como volante. Na terceira, também joguei de volante, mas quando precisava, o treinador da época, o Vahid Halilhodzic, me colocava de zagueiro quando outro machucava ou estava suspenso. Ele já via isso em mim. Na outra temporada, o Christian Gourcuff chegou até mim e falou que queria me utilizar como zagueiro. Logo no primeiro ano dele, fui zagueiro. Fiz uma ótima temporada em 2019/2020. Posso fazer as duas funções: estou como zagueiro, mas nesta temporada já participei de jogos como volante”.

“Hoje em dia, (a preferência é de ser) zagueiro. Adaptei-me muito bem à função, gostei bastante e minhas características se encaixam melhor nessa função. Posso atuar nas duas, se o treinador quiser que eu jogue de volante, vou jogar, mas a minha preferência hoje em dia é zagueiro. Estou feliz com essa nova posição que vem dando certo para mim”.

Em 107 jogos pelo Nantes, Girotto marcou cinco gols graças às principais características ofensivas - o chute de fora da área e o cabeceio. Na vitória por 1 a 0 sobre o Caen, em 16 de setembro de 2017, pela sexta rodada da Ligue 1 2017/2018, o ex-camisa 8 do Coelho ainda atuava no meio-campo quando, aos 27 minutos do segundo tempo, recebeu passe do nigeriano Chidozie e soltou a bomba de pé direito. A bola fez uma curva de fora para dentro, bateu na trave e entrou. Um belo lance que agitou os mais de 20 mil torcedores no Stade de la Beaujoire e deixou o goleiro Rémy Vercoutre sem reação (confira no vídeo abaixo) .


Chegada ao Nantes e adaptação à França


Andrei se transferiu para o Nantes em agosto de 2017, por cerca de 2 milhões de euros - R$7,3 milhões na época. Seus direitos econômicos estavam ligados ao Tombense (gerido pelo empresário Eduardo Uram), e a Chapecoense recebeu R$1,6 milhão de vitrine. Mas como surgiu o interesse dos franceses? O jogador conta que as conversas começaram no momento em que o clube catarinense excursionou pela Europa e realizou amistosos contra Barcelona e Roma.

“A gente estava fazendo vários jogos amistosos pela Europa na Chapecoense. Naquele dia, eu tinha um jogo contra o Barcelona, no Camp Nou. Nesse meio tempo recebi uma proposta do Nantes. Logo depois, iríamos viajar para a Itália para outro amistoso, mas com essa proposta eu nem viajei. Vim direto para a França e acabei concretizando com o Nantes. Foi bem estranho, porque eu estava concentrado em fazer os jogos amistosos pela Chapecoense. No meio dessa viagem, mudei o caminho e vim parar no Nantes”.

Girotto não entrou em campo na derrota da Chape por 5 a 0 para o Barcelona, pelo Troféu Joan Gamper, em 7 de agosto de 2017. Cinco dias depois, apresentou-se ao Nantes, com o qual assinou contrato até junho de 2021. No começo, o jogador sentiu dificuldades principalmente com o idioma, mas contou com o apoio e a paciência do técnico italiano Claudio Ranieri, que conduziu a equipe à nona colocação da Ligue 1, com 52 pontos.

Vídeo: Andrei Girotto em ação pelo Nantes


“A adaptação sempre é difícil. Sair do futebol brasileiro para o europeu é um pouco diferente. No começo é complicado, mas o treinador da época, o Ranieri, pôde me ajudar nessa adaptação. Eu consegui encaixar na equipe, o mais difícil era a comunicação com os colegas. Mas depois de seis meses já estava conversando um pouco em francês”.

Quatro anos depois, Andrei domina a língua francesa a ponto de ser um dos capitães do time. “Seis meses foi mais para comunicação. Alguns gestos, palavras, porque é difícil você não saber nada da língua francesa e ter que conviver todos os dias com pessoas que falam francês e alguma coisa em inglês. A adaptação no começo foi mais nessa situação do dia a dia de falar com os companheiros. Hoje em dia já consigo me comunicar muito bem com eles. Como capitão da equipe, tenho que ter uma comunicação muito boa. Dentro de campo, procuro falar bastante e orientá-los. Temos uma equipe nova, como falei, e eu com 29 anos estou em uma idade boa para ser capitão. Consigo liderar bem a equipe dentro de campo para, quem sabe, fugir dessa zona delicada em que nos encontramos”.

O fracasso de Domenech



A vivência no clube credencia Girotto a analisar a decisão errada da direção de “desaposentar” Raymond Domenech, selecionador da França entre 2004 e 2010. Figura polêmica no país, sobretudo por tomar decisões por influência da astrologia, o treinador teve retrospecto pífio à frente do Nantes no Campeonato Francês. Em sete jogos, contabilizou quatro empates e três derrotas e não conseguiu ter jogo de cintura para colocar ordem no vestiário da equipe.

“A contratação dele pegou todo mundo de surpresa. Fazia muito tempo que ele não treinava uma equipe. Se não me engano, há mais de dez anos. Lógico que ele tem qualidades, mas não era, na minha opinião, o (ideal no) momento para o Nantes. O momento era buscar um treinador que já estava trabalhando, como estamos hoje com o Antoine Kombouaré. O Domenech é um grande treinador, como mostrou na Seleção da França, só que as ideias dele são mais para a seleção. Para um clube como o nosso, de atletas jovens, foi melhor trazer esse novo treinador, que colocou um esquema bom de jogo, com disciplina no vestiário e no clube”.

“É difícil quando você pega um time com uma sequência ruim. Ele, como fazia tempo que não treinava, afetou bastante. Não estava preparado para a situação que viria. As ideias dele não eram as que a gente necessitava. Nosso grupo é muito jovem, e precisava de um treinador que colocasse mais ordem no dia a dia. Ele não fez isso. Agora, com o Kombouaré, ele chegou e colocou ordem na equipe. Isso está se refletindo em campo”.

Substituto de Domenech, Antoine Kombouaré alcançou até o momento duas vitórias, dois empates e uma derrota a serviço do Nantes. Se permanecer em 18º, o clube do País do Loire precisa disputar um playoff com confrontos de ida e volta diante de um clube oriundo da Ligue 2.

Jogo veloz na Europa


Desde o início de sua trajetória no Nantes, Andrei Girotto teve de se acostumar com o dinamismo do futebol praticado nas grandes ligas europeias. Dentro de campo, a sensação é de disputar um jogo mais “corrido” que no Brasil. Segundo ele, as decisões com a bola nos pés precisam ser tomadas de maneira imediata, pois os atacantes adversários marcam como se fossem zagueiros.

“O brasileiro é mais técnico e gosta de jogar com a bola. Aqui o jogo é mais rápido, às vezes com ligação direta, com atacantes rápidos, a bola não fica tanto com o jogador. No Brasil tem aquela condução de pisar na bola e olhar o jogo com mais calma. Isso no começo dificultou. Aqui o pensamento tem que ser mais rápido, pois sempre tem alguém por perto. Agora, mais adaptado, vejo essa diferença para o Brasil”.

“Aqui há equipes que pressionam muito, os atacantes parecem que vão te marcar da mesma forma que um zagueiro marca o atacante. A gente tem que sempre fazer passes fortes, sair rápido e quebrar essa linha de ataque, porque eles marcam mesmo, não é aquele que vai enganar, fazer aquela sombra e achar que está tudo bem. Aqui eles tentam roubar a bola para fazer o gol. A gente treina muito forte também para os atacantes ajudarem o defensor nosso, porque se o atacante da nossa equipe já conseguir pressionar, a bola fica mais fácil para a gente tentar recuperar”.

Girotto disputa a bola com Marco Verratti, volante do PSG
foto: Arnaud Duret/FC Nantes

Girotto disputa a bola com Marco Verratti, volante do PSG


Outra qualidade bastante valorizada na Europa é a versatilidade. Segundo Andrei, os treinadores estudam os adversários para definir se precisam, por exemplo, escalar um zagueiro como lateral ou um volante na defesa (o próprio atleta se encaixa nesse perfil no elenco do Nantes).

“Se há atacantes de beirada que vão precisar de uma marcação mais forte, eles optam por colocar zagueiros jogando de lateral. Ou se tem um lateral que apoia muito, o improvisa na ponta para marcar o lateral do time adversário. Os treinadores daqui têm essa ideia de montar o time conforme vai precisar. No Brasil você tem uma escalação e os jogadores que atuam nas posições, e não muda. Aqui eles se adaptam mais conforme o próximo jogo. Para mim foi muito bom, porque fazendo duas posições eu dou mais opções ao treinador. Abre um leque para ele no grupo. Se fizer uma função, a gente fica limitado”.

Contrato, Seleção e futuro


Andrei tem contrato com o Nantes até julho de 2024. O vínculo foi ampliado em dezembro de 2019, após boas exibições na nova posição.  “No primeiro ano em que atuei como zagueiro, renovei com o Nantes até 2024. Surgiram algumas propostas, então até por isso eles optaram por renovar. Eu fico feliz de ter um contrato longo com o Nantes. Claro que a gente sempre pensa em voos mais altos, mas eu fico feliz de trilhar uma boa carreira na Europa. O Campeonato Francês é uma grande competição, então fico feliz de estar atuando aqui”.

Girotto e Diego Carlos vestiram camisa em homenagem a ex-jogador e ex-treinador Henri Michel, um dos maiores ídolos do Nantes, que morreu em 2018, aos 70 anos
foto: Divulgação/Nantes

Girotto e Diego Carlos vestiram camisa em homenagem a ex-jogador e ex-treinador Henri Michel, um dos maiores ídolos do Nantes, que morreu em 2018, aos 70 anos


O lateral-esquerdo Fábio, ex-Manchester United, Queens Park Rangers, Cardiff City e Middlesbrough, é outro brasileiro no grupo do Nantes, que também já teve o zagueiro Diego Carlos, de 28 anos, hoje atleta do Sevilla, da Espanha, e nome lembrado nas convocações do técnico Tite, da Seleção Brasileira. Andrei Girotto se mostrou contente pelo amigo, com quem jogou por duas temporadas e meia na França, e falou sobre a possibilidade de um dia também vestir a amarelinha.

“A gente sempre pensa. Seleção é um sonho de todo jogador. Fico feliz por um amigo meu, um companheiro que estava aqui no Nantes, ter alcançado isso. O Diego Carlos é um grande zagueiro, com grande potencial, por isso foi chamado à Seleção. Está vivendo grande fase no Sevilla, que ganhou a Liga Europa. Está muito bem lá, acho que já recebeu propostas de outros times, e eu fico feliz por ele. É um amigo que fiz no futebol”.

Apesar de ressaltar a alegria de representar o Nantes, Andrei Girotto não descarta uma negociação futura, sobretudo para jogar em uma liga de outro país da Europa. “Tenho contrato até 2024 aqui, já é o quarto ano que estou no clube. A gente sempre pensa em voos maiores, na expectativa de crescer e jogar em outras ligas, como Espanha, Alemanha, Inglaterra e Itália . Agradeço muito pela oportunidade que estão me dando na França, mas tenho esse desejo de conhecer outras ligas. Já a Seleção é um caso à parte. A gente sonha, mas sabemos das dificuldades (de ser convocado). Venho fazendo o meu trabalho e deixo nas mãos de Deus, que ele sabe de todo o caminho que a gente vai trilhar”.

No bate-papo com o Superesportes , Girotto ainda falou de Neymar como referência no futebol francês, da possibilidade de o Paris Saint-Germain seduzir o craque Lionel Messi, da contratação do ex-técnico do Atlético, Jorge Sampaoli, pelo Olympique de Marselha, e da tensão em meio à pandemia de COVID-19 que já causou mais de 91 mil mortes no país.

O que Neymar, craque do PSG, representa para o futebol francês?

Para mim ele é muito importante. É um dos jogadores tops do mundo e dá muita importância para o Campeonato Francês. Aqui na França o pessoal não gostou de algumas atitudes que ele teve no decorrer de sua passagem pelo PSG, mas dentro de campo ele desequilibra e é uma figura que todos gostam de ver jogar.

Uma pena que ele não esteve em campo (contra o Nantes), porque com ele o jogo sempre é mais brilhante, e uma vitória sobre o PSG com Neymar seria mais importante. Claro que tinham outros nomes importantes, como os brasileiros Rafinha e Marquinhos, e o Mbappé também estava em campo. Para nós foi de grande importância (a vitória) para a sequência do campeonato e deu grande confiança para o próximo jogo .

Você tem algum contato com Neymar? E outros jogadores brasileiros?

Com Neymar não tenho nenhum contato, é só de jogar contra mesmo. Com alguns jogadores a gente tem amizade maior. Pouca gente conhece (no Brasil), mas aqui na França ele tem uma carreira brilhante, que é o Hilton, zagueiro do Montpellier. Ele tem uma passagem muito bonita na França, todos o admiram. É um cara que eu admiro muito pela carreira que ele construiu aqui .

O Hilton impressiona pela carreira longeva. Aos 43 anos, ainda joga regularmente pelo Montpellier, que conquistou a Ligue 1 em 2011/2012...

Já pude trabalhar com dois assim. O Zé Roberto no Palmeiras tinha mais de 40 anos. Foi uma experiência legal, um exemplo de chegar aos 40 jogando em alto nível. Aqui na França, como você disse, o Montpellier é uma grande equipe. Ele continua jogando, é capitão da equipe e serve de exemplo para todos que estão começando que a idade às vezes não importa, e sim estar bem dentro de campo fazendo o seu trabalho .

Você também pretende chegar aos 40 anos de idade jogando futebol profissionalmente?

Acho que para mim não chega a essa idade. Lógico que tem muita gente que, geneticamente, está muito bem. O Zé Roberto depois de parar de jogar bola segue bem fisicamente, até poderia estar jogando. Mas para mim acho que não. Vou parar um pouco antes para aproveitar a família. A gente está viajando, sempre longe, então quero parar um pouco antes para aproveitar isso também”.

E as especulações que colocam Messi, do Barcelona, no PSG? Como os jogadores dos demais clubes têm acompanhado isso?

A gente só fica sabendo pela imprensa. Claro que são rumores. Muita gente o coloca no Manchester City, no PSG. Se ele viesse para a França, seria muito bem-vindo, vai acrescentar muito à Liga Francesa. Seria uma grande oportunidade para o Campeonato Francês e para nós que atuamos aqui”.

Mas ter o Messi como adversário não tornaria as coisas ainda mais favoráveis ao PSG?

“Seria bom para a Liga, mas o Messi como adversário ninguém quer pela frente. Este ano a Liga tem o Lille em primeiro, o Lyon disputando o título. Claro que financeiramente o PSG está muito acima dos outros, isso dificulta também a diferença de elenco e de equipe. O Nantes é uma grande equipe, mas não estamos vivendo um momento como naquele tempo em que o clube ganhava o Campeonato Francês. Isso se deve à crise financeira que vem vivendo. Mas o clube está bem servido com o presidente, que faz um bom trabalho aqui com o elenco que tem”.

A propósito, a disparidade do PSG para os demais clubes da Ligue 1 é muito grande? Seria como o Flamengo no Brasil?

“A diferença é grande, como no Brasil. Mas no Brasil vejo oportunidades maiores para um campeonato um pouco mais equilibrado. Aqui a diferença é muito maior. No Brasil tivemos várias equipes brigando pelo título até o fim do Campeonato. No Francês, isso dificulta quando tem uma equipe muito acima financeiramente que a outra. Este ano estão brigando Lille, PSG e Lyon, fica um campeonato mais interessante de acompanhar”.

Como você vê a chegada de Jorge Sampaoli ao Olympique? Pelo perfil dele, crê que fará um bom trabalho no clube? No Atlético houve cobranças por causa da perda de força na briga pelo título e principalmente pelo investimento de mais de R$200 milhões em reforços...

“No Atlético ele teve um grande plantel na mão. Mas é difícil fazer um grande trabalho no curto prazo mesmo tendo um grande elenco. A pressão no Brasil é grande, e ele não aconteceu como esperado. No Olympique de Marselha eu creio que ele terá mais tempo. Ele já tem um plantel qualificado com jogadores que jogam juntos há algum tempo. Tem uma vantagem de encontrar um grupo formado. Até engraçado, que quando ele chegou aqui, só via nos jornais falando sobre ele. Estavam apelidando ele de 'El Loco' por ele ser bem agitado à beira de campo”.

Pelo seu conhecimento, o Olympique terá condição de atender todos os pedidos do Sampaoli?

“Ele vai pedir reforços, e o Olympique tem condições de contratar bons reforços. Mas, para bater com o PSG, vai ter que colocar mais dinheiro na mesa. No Brasil, Flamengo e Palmeiras têm grandes elencos. Acho que era mais fácil de conseguir ser campeão brasileiro com o Atlético Mineiro, com o elenco qualificado que ele tinha, do que aqui na França com o Marselha. É uma grande equipe, mas o PSG tem uma grande diferença financeira. Ele vai sofrer um pouco para conseguir ter um elenco com o do PSG, que joga a Champions e tem Neymar fazendo grande diferença”.

Como foi a adaptação à cultura na França? 

“O dia a dia aqui agora está complicado, pois todos estamos vivendo uma situação muito delicada com esse vírus. Estamos trabalhando, mas é do trabalho para casa, só necessidades básicas mesmo. Estou vivendo com minha esposa, claro que quando não tinha COVID era muito bom. A culinária aqui todos falam muito bem, tem grandes chefs, é bom aproveitar a cultura francesa. A cidade aqui é uma das maiores da França, que me acolheu bem. Como falei, a torcida aqui é muito apaixonada. Claro que sente falta dos momentos de glória da equipe, de brigar por títulos, hoje em dia estamos com mais dificuldades. Aqui também tem uma pressão pelos títulos que tinham antigamente”.

De que forma o país enfrenta a pandemia de COVID-19? As pessoas respeitam as medidas de distanciamento social? Qual o seu recado para os brasileiros?

“No ano passado tudo isso começou. O campeonato parou, teve lockdown, ninguém trabalhava, todo mundo nas suas casas. E no Brasil estava tudo normal. Eu dei algumas entrevistas e disse que no Brasil as pessoas deveriam começar a se cuidar desde aquele momento. Não era porque a situação não estava crítica naquele momento que era para todo mundo sair, não usar máscara e fazer o que quisesse .

Aqui a situação agora está um pouco mais controlada, claro que ainda há muitos casos, mas todos respeitam, usam máscaras. Aqui a situação é mais rígida, tem multas, tem coisas que não se pode fazer. O horário (de confinamento) era de 18h às 5h, você não podia sair de casa se não tivesse uma justificativa. Isso ajudou a não ter tantos casos que nem no Brasil .

No Brasil é uma situação diferente financeiramente, com muitas pessoas que precisam trabalhar e buscar no dia a dia o seu alimento. Mas tem que respeitar a situação, não é só porque não teve ninguém da família atingido que pode sair e curtir a vida como se nada estivesse acontecendo. Tem que pensar no próximo e nas pessoas que já perderam entes queridos”.

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