Copa do Mundo

COPA DA RÚSSIA

Copa do Mundo e Brasil, paixões que rompem barreiras e alcançam todas as idades

Os jogos da Copa do Mundo concentram em si os olhares de todos os países do mundo e criam um ambiente de diálogo entre as mais espaçadas gerações

postado em 13/06/2018 10:00 / atualizado em 12/06/2018 18:34

Shilton Araújo/Esp.DP, Gabriel Melo/Esp.DP e Nando Chiappeta/DP
Copa do Mundo, evento internacional, de dimensão única, capaz de reunir pessoas das mais diversas culturas, costumes e idades em torno de si. Um mês de emoções a flor da pele, de patriotismo, de paixão. De frustração também, afinal, ao redor do mundo, quem não se recorda das eliminações mais vexatórias de suas Seleções? No caso do Brasil, quem ousará esquecer a dramática derrota para a Alemanha por 7 a 1 em 2014 em território nacional? Fato é que os jogos do Mundial concentram em si os olhares do mundo inteiro e criam um ambiente de diálogo entre as mais espaçadas gerações.

O “abismo” de 78 anos de diferença de idade, por exemplo, não separa uma criança de sete anos de uma idosa de 85. É exatamente esse o caso do pequeno Arthur Mourão e da dona Wanda Feitosa, pessoas com histórias tão diferentes, com costumes tão distintos, mas detentores de uma paixão atemporal: torcer pela Seleção Brasileira e alimentar a confiança de vê-la erguendo a taça da Copa do Mundo 2018. Para Arthur, cena esta que poderá ser contemplada pela primeira vez, para Wanda, imagem cinco vezes conhecida, mas igualmente desejada. 

Geração Neymar

Shilton Araújo/Esp.DP
Arthur Mourão, de sete anos, representa uma parcela da geração de torcedores brasileiros que, embora tenha visto o país ser campeão nas Olimpíadas de 2016, nunca presenciou a conquista de um título de Copa do Mundo e cuja principal lembrança da Seleção é o episódio do dia 8 de julho de 2014, em que perdeu vergonhosamente da Alemanha por um placar histórico, e, pior, sendo o anfitrião do evento na ocasião. “Na Copa de 2014, meus pais chamaram toda a minha família para o nosso prédio antigo para ver os jogos do Brasil. Só não quero falar sobre a goleada do 7 a 1. Eu estava assistindo, mas quando o time levou o quarto gol eu desisti de ver e fui para o meu quarto muito triste”, lamentou ele, enfatizando querer apagar aquele dia da memória.

A servidora federal Roberta Mourão é mãe de Arthur e reforçou que a paixão do filho pela Seleção é algo inato a ele, frisando a importância de incentivá-lo a amar a sua pátria em todos os sentidos. “Desde muito pequeno, o futebol sempre chamou a atenção dele. É muito natural, independente do incentivo que recebeu do pai”, pontuou. “A gente prioriza incentivá-lo a torcer pela Seleção Brasileira porque se trata do nosso país, da nossa cultura e de onde viemos. Queremos incentivá-lo para que pelo menos o esporte desperte nele essa paixão pela nação, principalmente no atual momento de crise do país”, acrescentou.

Geração Romário

Gabriel Melo/Esp.DP
Bruno Vinícius Félix, de 29 anos, já faz parte de uma geração intermediária. Trata-se daquela que presenciou o inesquecível e dramático tetracampeonato da Seleção Brasileira, no ano de 1994, mas que não teve a chance de ver o Pelé, rei do futebol, jogar. Nesse caso, as boas lembranças do passado ajudam a manter acesa a chama do amor pelo futebol do Brasil. “A minha primeira e melhor lembrança foi ver, aos quatro anos de idade, a carreata da Seleção de 1994 ‘desfilando’ em um caminhão do corpo de bombeiros depois que o Brasil foi tetra. Essa cena marcou a minha infância e me marca até hoje”, disse sorrindo e relembrando o avô, um dos grandes responsáveis por estimulá-lo a torcer pelo Brasil. 

Tendo visto seis Copas do Mundo, Bruno destacou as mais especiais: “Quatro Copas me marcaram muito. A de 1994, por conta do episódio de carreata; a de 1998, porque perdemos para a França de forma vexatória e dramática, com direito a convulsão de Ronaldo Fenômeno no campo; a de 2002, pois foi a primeira vez que, já com entendimento, eu presenciei o Brasil ser campeão, além de ter assistido à performance do melhor atleta que vi jogar, Ronaldinho Gaúcho. E, claro, não poderia faltar a de 2014, que a gente levou sete gols da Alemanha com a Copa sendo no nosso território”, explicou o jovem.

Geração Pelé

Nando Chiappeta/DP
Dona Wanda Feitosa é uma amante do futebol, e, com seus 85 anos, faz parte de uma geração privilegiada. Carregando em sua bagagem existencial 15 Copas do Mundo, ela viu em campo desde a singular maestria de Pelé até a impressionante habilidade de Neymar, tendo presenciado absolutamente todos os cinco títulos da Seleção Brasileira em Copas. O primeiro deles, inclusive, quando o rei Pelé disputou o seu primeiro Mundial, em 1958, ela acompanhou pelo rádio, já que a televisão ainda era um advento de difícil acesso. Cronologicamente, ela citou qual foi o título que mais inesquecível e, em seguida, o mais emocionante. 

“A Copa de 1970 foi a que mais me impressionou, porque ali, mesmo com o Pelé em campo, a Seleção era completa. Esse time era realmente impressionante, excelente e na época foi considerado o melhor time do mundo. Eu tive o privilégio de ver os meninos jogarem. Inclusive, foi neste ano que lançaram aquela música ‘A Copa do Mundo é nossa, com o Brasil não há quem possa, pra frente, Brasil, salve a Seleção!’ Essa música foi um sucesso tremendo no país e esse título, muito comentado. O Pelé era uma grande destaque da equipe, mas ele não levava o time inteiro nas costas, o coletivo era bom”, relembrou citando nomes como Garrincha, Rivelino e Gerson.

“Mas, falando de emoção, a Copa de 1994 é especial. Foi a mais difícil! Só não morreu gente porque todos estavam com o coração bom (risos). Nos pênaltis contra a Itália só faltava Baggio bater o pênalti. Ele precisava errar para o Brasil ter chances. Parece que eu tou vendo. Ele tinha um cabelão no rosto, ficou bem concentrado, não olhava nem para os lados; mas chutou com tanta força que a bola passou por cima do travessão e foi pra fora, quase nas nuvens (risos). Decisão por pênaltis em uma final foi cruel demais. Eu sou muito tranquila, mas não sou de ferro. O coração acelerou! Quando o Brasil fez o último gol, todo mundo saiu correndo, cheio de alegrias”, recordou saudosa. 

2018

Apaixonado pela Seleção Brasileira apesar daquela frustração, Arthur está otimista para acompanhar o possível hexacampeonato do Brasil, e, quem sabe, soltar o seu primeiro grito de campeão. “Eu tenho 100% de certeza de que o Brasil ganha essa Copa. É a melhor Seleção de todas, porque todo o time é bom”, exclamou ele citando craques como Neymar, Coutinho, Firmino, elevando o Tite ao posto melhor técnico do mundo e avaliando o Miranda como o melhor zagueiro do mundo. Vislumbrando o título, Arthur completou: “Se o Brasil ganhar, vou ficar gritando junto com os amigos que eu vou chamar para a minha casa”.

Dona Wanda também espera a taça de hexa, e, se possível, a “vingança”. “Eu acredito que o Brasil vai ganhar esse ano, porque os meninos estão arrumadinhos,eles são bons; o Brasil é o único país do mundo que nunca perdeu uma classificação e isso porque todo ano o país tem uma seleção forte. Eu, particularmente, quero mais um título, e, se possível, jogando contra a Alemanha na final (risos)”, finalizou.

Nando Chiappeta/DP, Gabriel Melo/Esp.DP e Shilton Araújo/Esp.DP

Acreditando ser a Seleção Brasileira atual uma das favoritas ao título, Bruno destacou a força do time e liberou elogios ao técnico Tite. “Essa não é a melhor Seleção brasileira da história, mas para alguma equipe conseguir ganhar desse time, vai ter que suar bastante”, comentou. “Tite é autoridade em termos táticos, técnicos e em tudo o que é relacionado a futebol. Ele só compete com o Telê Santana. É um cara humano e íntegro. Tem meu respeito”, acrescentou ele. “Depois do 7x1 muita gente tem medo de outro vexame, mas o Brasil perdeu a copa de 1950 em casa para o Uruguai no Maracanã (“maracanaço”) e, logo depois, em 1958, foi campeão. Então vamos aguardar com confiança a copa de 2018”, afirmou.

“Copa do Mundo é o único momento em que o país fica unido em torno da mesma causa, acho isso muito positivo, porém, sempre costumo não associar futebol e política. Vejo muita gente criticando ‘ah, o país está em crise e as pessoas se preocupam com a Seleção’. Não se importar com futebol não vai mudar o Brasil. Gosto de acompanhar os jogos e de torcer, mas sei que a minha vida não se resume àquilo. Se no país todo mundo houvesse patriotismo, educação e honestidade, o país não estaria nessa situação. Copa, na verdade, é um estímulo a você amar sua pátria, cantar e refletir sobre o hino e querer o melhor para a sua nação”, concluiu.