Durante a partida, Bala pouco pegou na bola. Nem de longe lembrava o jogador de outros tempos
“Isso aqui é jogo pra homem! Se eles quiserem dar pau, vamos dar pau! Se querem guerra, vamos pra guerra!” As frases dão o tom da importância da partida. Ninguém está ali para perder. Afinal, do outro lado do gramado está o maior rival. O capitão segue com o discurso. Pede motivação e raça aos companheiros. Em seguida, o homem que um dia disse ter falado com Deus, inicia o Pai Nosso. Tudo pronto no estádio Antônio Dourado Neto. Em uma noite de terça-feira, o municipal de Ipojuca recebe um bom público. Cerca de 900 pessoas. Campeão da Copa do Brasil e de mais quatro títulos estaduais, Carlinhos Bala veste a camisa 10 do Porto, de Porto de Galinhas, e vai dar a saída para o clássico contra o União, pela 3ª rodada da Liga Ipojucana de Futebol Amador. Aquela foi uma das poucas vezes em que tocou na bola.
A maior atração do campeonato teve uma apresentação que pode ser classificada como “discreta”, para ser elogiosa. Foram apenas dois chutes a gol. Ambos sem direção. Ao longo dos 80 minutos da partida (dois tempos de 40), Bala, hoje com 35 anos, foi mudando de posição. Começou como atacante, passou a atuar como meia e terminou como lateral esquerdo. Em todas, teve participação mínima, se resumindo a cobrar faltas e escanteios. Nem de longe lembrava o jogador rápido e arisco que infernizava as defesas adversárias com as camisas de Santa Cruz, Sport e Náutico. Ou mesmo a apresentação no jogo anterior do Porto, quando fez dois gols. Na vitória sobre o Pinga Pura.
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Prestígio Mesmo assim, Bala segue tendo seu prestígio. Os pedidos para fotografias, desde o momento em que desceu do seu carro, lembravam o assédio da época em que se auto-intitulou “Rei de Pernambuco”. Antes do início do jogo, os companheiros de equipe e até os rivais também não escondiam o orgulho de poder atuar ao seu lado. “Sou rubro-negro e vibrei muito com o gol dele na final da Copa do Brasil. Nunca imaginei que poderia atuar do lado dele. Quando falei para o meu irmão ele não acreditou”, disse o pescador José Henrique Nascimento, de 36 anos, lateral esquerdo do Porto.
A presença de público também é reflexo do efeito Bala. “Hoje tivemos pouco mais de 900 pessoas. Quando ele não joga, fica entre 500 e 600”, disse o vice-presidente da Liga de Ipojuca, Jael Silva. No jogo contra o União, o ingresso custou R$ 3. Bala recebe apenas uma ajuda de custo para atuar no campeonato. “O dinheiro da gasolina”, justifica.
Vidraça O “prestígio” de Bala acaba quando a bola começa a rolar. Por ser o grande nome em campo, Carlinhos Bala também se torna alvo dos xingamentos e das piadas também. Após um chute fraco no final do segundo tempo, um dos torcedores não perdoou. “Bala esse teu chute não quebra nem um ovo”. Gargalhada geral. Dentro de campo, o atacante também não tem vida fácil. Afinal, currículo não ganha jogo. Muito menos na Liga de Ipojuca. Um dos seus poucos piques no jogo foi interrompido por um carrinho brusco de um zagueiro adversário. Esperto, o atacante fugiu dividida. E não deve ter ouvido a resposta desaforada do defensor. “Coloca o pé, filho da p***!”.
No final, a sua atuação acabou não tendo influência no empate por 1 a 1. O próximo desafio é no dia 22, quando o Porto enfrenta o Camela. Vale classificação. E Bala promete estar em campo.
