Futebol Nacional

OPINIÃO

Coluna de Fred Figueiroa: 'O sorteio oco do Nordestão'

Colunista do Superesportes comenta sobre o atual momento do torneio

postado em 04/10/2018 18:09

Paulo Paiva/DP
A Liga do Nordeste realiza hoje, em Maceió, o sorteio dos grupos do regional da próxima temporada no mais completo cenário de incerteza. Neste momento, a competição não tem contrato de televisionamento com a TV fechada, não possui patrocinadores e nem sequer tem datas reservadas no calendário oficial do futebol brasileiro em 2019, divulgado ontem pela CBF. Tudo isso depois de uma edição com baixa repercussão este ano e de um grau de descontentamento crescente do Bahia, que já deixou em aberto a possibilidade de não disputar o torneio - ou de não utilizar seu elenco principal. Com tantos obstáculos pela frente, o momento para a Copa do Nordeste é de resistência, de marcar o mínimo de território possível para evitar o colapso e conseguir se desenvolver a partir das poucas garantias que restam.

A base de sustentação 

As garantias são minimamente suficientes para fazer a roda girar. Primeiro, existe um acordo com a CBF que garante a realização do torneio até 2022. Segundo, há um contrato de transmissão na TV aberta com o SBT Nordeste - o que permite a negociação de patrocínios por parte da Liga (até então toda essa negociação sempre foi feita pela Turner, empresa que controlava o Esporte Interativo). A terceira garantia vem justamente da promessa da Turner de honrar o compromisso de pagar as cotas de participação aos clubes e os gastos com passagens e hospedagens - mesmo sem transmitir a competição. Como disse acima, são garantias suficientes para a edição 2019 acontecer. A partir daí é fundamental, entretanto, que o Nordestão corrija erros graves de conceito de competição que foram decisivos para o fracasso do torneio em 2018.

Os problemas de 2018... 

Foram dois fatores principais e um agravante para que a Copa do Nordeste deste ano não engrenasse. Na minha análise, o mais significativo foi a saída da Rede Globo - que diminuiu drasticamente a visibilidade da competição não apenas nas transmissões ao vivo, mas também na cobertura do dia a dia. Se a Globo não tivesse desertado, o segundo fator poderia ter sido minimizado: O fatiamento das datas que espalhou o regional ao longo do calendário, entrando pelo Campeonato Brasileiro e tendo as semifinais e finais disputadas durante a Copa do Mundo. Um absurdo que não pode se repetir (e o risco existe). Esses foram os dois problemas cruciais. O terceiro - uma espécie de agravante - foi o rompimento do Sport, que poderia ter sido minimizado se o Nordestão tivesse mantido a estrutura de tabela e visibilidade dos anos anteriores. Mas numa condição vulnerável, a ausência do clube que gera maior audiência e engajamento de mídia da região foi sentida.

...ameaçam 2019 

O pior é que essa mesma tríade de problemas não apenas permanece, como foi agravada para 2019. Na questão fundamental do televisionamento, além de seguir sem a Rede Globo, a Copa do Nordeste perdeu o Esporte Interativo que investia, transmitia e promovia a competição. Por enquanto não há nada engatilhado para negociar o torneio na TV fechada e não vejo a alternativa das transmissões pela internet consolidada o suficiente para atrair o mercado. Ainda estamos na fase de transição neste segmento. Mas, se considerei a saída da Globo como o maior problema de 2018, desta vez direciono um peso maior para os outros dois fatores que ameaçam a próxima edição: O calendário e a deserção de clubes (caso o Bahia realmente abandone ou despreze a competição, ela ficaria sem os os dois maiores geradores de audiência, consumo, engajamento e receita da região).

De novo, o achatamento 

O calendário oficial do futebol brasileiro divulgado ontem reserva 18 datas para os Estaduais entre 20 de janeiro e 21 de abril (sendo 14 nos fins de semana e 4 nas quartas-feiras). Nesses três meses também serão disputadas as três primeiras fases da Copa do Brasil - ocupando todas as outras datas de meio de semana disponíveis. Como as federações nordestinas se comprometem a fazer seus estaduais em 14 datas, restariam apenas quatro reservadas para a Copa do Nordeste, que está estruturada para utilizar pelo menos 12. Ou seja, restam duas alternativas: achatar oito rodadas em dias como segundas e sextas-feiras, forçando os clubes a atuarem três vezes por semana ou repetir a estratégia que deu errado em 2018 e jogar as fases finais para o período da Copa América, que será disputada no Brasil e vai paralisar as séries A e B.