Futebol Nacional

OPINIÃO

Coluna de Fred Figueiroa: 'Tão longe. Tão perto. E agora, novamente, tão longe'

Colunista do SuperEsportes avalia contexto rubro-negro após derrota em casa para o Flamengo e o que esperar para a continuação do Campeonato Brasileiro

postado em 20/11/2018 09:26 / atualizado em 20/11/2018 10:02

Paulo Paiva/DP
 A montanha 

Tão longe. Tão perto. E agora, novamente, tão longe. Esta é a sensação que ficou na Ilha do Retiro após os dois resultados negativos da última semana - empate com o Vitória e derrota para o Flamengo. Havia uma espécie de “atalho” para garantir a permanência na Série A em 2019. Dois jogos em casa, um deles contra um adversário mais fraco e ambos com enorme mobilização da torcida. A conta de somar quatro pontos era factível. Com 41, o rubro-negro hoje estaria praticamente sem perigo de queda. No atual cenário, até arrisco dizer que seria possível escapar com esta pontuação - mesmo perdendo os três últimos jogos. Mas fazer cálculo sobre o que não aconteceu é perda de tempo, concorda?  As duas frustrações em sequência são página virada na frieza matemática. Resta saber se também serão na condição psicológica. Ela será determinante nas três rodadas finais. Mais que a matemática e até mais que a própria técnica - afinal todos os times que lutam pela permanência estão nivelados neste quesito. O fundamental para o Sport é entender que o “tão perto”, na verdade, não se transformou em “tão longe”. A sensação pode até ser esta. Mas a realidade não. A definição perfeita para o momento é “nem tão longe que não possa ver, nem tão perto que possa tocar"

Onde tudo (re)começou

Há exatamente 45 dias, o Sport fazia o jogo da assimilação do rebaixamento. Perdia para o então co-líder, Internacional, por 1 a 0 na Ilha do Retiro até os 32 minutos do segundo tempo. A derrota selaria o destino. Até que o jovem zagueiro Adryelson - que jogou sua primeira partida na Série A - fez o gol de empate e recolocou o time no campeonato. Dez minutos depois, Matheus Gonçalves fez o gol da virada. No jogo e no destino. Os autores dos gols se tornaram personagens fundamentais para a reação rubro-negra no campeonato. Vencer aquela partida não deixava o Sport em situação segura. Muito longe disso. Foi apenas uma porta aberta para tentar sair de uma situação quase irreversível. E, surpreendentemente, o trabalho de Milton Mendes conseguiu conduzir o Leão pelo único caminho possível. Lembra que ali estabeleci um planejamento de pontuação dividido em blocos, mirando os 43 pontos? A conta está, basicamente, mantida. Veja o quadro: 

Bloco 1:  Vencer Vasco, Ceará e Vitória

(Projeção: 9 pontos /  Realidade: 7 / Saldo: -2 

Bloco 2:  Somar 7 pontos contra Fluminense, Flamengo, Chape e Santos

(Projeção: 7 / Parcial: 1 / Em disputa: 6) 

Bloco 3:  Derrotas para Grêmio e São Paulo

(Projeção: 0 / Parcial: 3 / Em disputa: 3 / Saldo: + 3)  

Perspectiva

Os números são frios. Mas sua leitura dentro do universo do futebol parte de perspectivas passionais. Se naquela noite de 5 de outubro, antes da virada sobre o Inter, o torcedor do Sport imaginasse que, na 35ª rodada, estaria com 38 pontos e fora da zona de rebaixamento, ele consideraria o cenário dos sonhos. E realmente era. Além da reação do time, isso só foi possível pela queda do desempenho de adversários diretos. Os da zona de rebaixamento e do seu entorno imediato. O aproveitamento do 16º colocado oscilou entre 36,2% e 37,3% durante quase todo o Brasileiro. Hoje está em 35,2%. E, para completar o desenho do “cenário dos sonhos” idealizado oito rodadas atrás, imagine se fosse previsto que o Sport ainda enfrentaria uma Chapecoense abalada e pressionada fora de casa e um Santos possivelmente desmotivado em casa na última rodada… Pois é justamente este o quadro que se aproxima, quase real (falta confirmar a situação do Santos) e, mesmo assim, a sensação entre os rubro-negros não é mais de “cenário dos sonhos”. Pelo contrário. A frustração recente se impôs sobre o planejamento traçado. Os dois resultados negativos pesam mais que os cinco positivos. Um misto de medo, desconfiança e desânimo foi estabelecido. E precisa ser enfrentado com muita consciência e frieza pelos que estão diretamente envolvidos com a equipe: Dirigentes, comissão técnica e jogadores. 

O que se deve lembrar  

Houve queda de desempenho do Sport nos dois últimos jogos? Não. No máximo, escolhas erradas do técnico Milton Mendes - como a escalação confusa contra o Vitória para corrigir ausências insubstituíveis (limitando opções ofensivas no segundo tempo) e a inexplicável opção por Felipe Bastos justamente quando o Flamengo ficou com 10 jogadores. Mas são detalhes pontuais, recortes das partidas. Uma bola na trave impediu a vitória na quarta e um gol de bola parada tirou o empate no domingo. Mas, na essência, o desempenho rubro-negro não mudou em relação ao jogo contra o Vasco ou Ceará, por exemplo. Segue um time organizado, dedicado, mas naturalmente limitado e com pouca (ou nenhuma) construção ofensiva. Talvez tenha havido até uma evolução defensiva neste período mais recente. O ponto fundamental está no aspecto psicológico. Na capacidade de concentração e confiança. Milton Mendes tem que restabelecer esse perfil da equipe para a decisão contra a Chapecoense. Não adianta cálculos de pontuação ou muito menos invencionismo tático. De todos os envolvidos com o rebaixamento, o Sport é o time com melhor pontuação nas últimas 8 rodadas. Somou 14 pontos contra 10 do “segundo colocado”. Ou seja, é o único que tem o recorte recente favorável. Lembrar disso é muito mais importante do que lembrar dos jogos contra Vitória e Flamengo.