TORCEDOR-CONSUMIDOR

Indústria e comércio podem 'comemorar' que derrota não veio antes

Empresários minimizam impacto da derrota no ânimo do torcedor para consumir produtos ligados ao futebol

REUTERS/Kai Pfaffenbach

O vexame da Seleção Brasileira diante da Alemanha pode ter feito a cerveja sobrar na geladeira, e quem ainda não tinha comprado a camisa amarela deve ter desistido da compra. A surra, porém, não vai gerar grandes prejuízos para o Brasil justamente porque a equipe verde-amarela avançou até as semifinais e terá a disputa pelo terceiro lugar. Assim, com mais uma partida marcada, contra a Holanda, e na véspera da grande final, o comércio e a indústria têm o baque amenizado. “Com dois ou três jogos a menos, a derrota seria mais sentida pelo mercado”, analisa o economista Milton Pignatari Filho, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

A previsão mínima de perda se justifica pela paixão brasileira ao futebol — mesmo diante de um 7 x 1. “Não vamos deixar de consumir produto esportivo por conta disso. Em pouco tempo, a torcida começa a se empolgar de novo”, argumenta Paulo Henrique Azevedo, professor de marketing esportivo da Universidade de Brasília. A volta do Campeonato Brasileiro, já na semana seguinte à final da Copa do Mundo, pode ajudar a diminuir o impacto. “Os pacotes de assinatura de campeonatos continuarão ocorrendo, não vai haver perda significativa”, prevê o especialista.

De acordo com Azevedo, a pior parte da derrota foi ver as pessoas tristes na rua. “O que ficou no prejuízo mesmo foi o sonho da população”, ressalta. A possibilidade de uma vitória, claro, faria com que camisas de seis estrelas fossem comercializadas. E beber para comemorar encheria os bolsos dos donos dos bares. Do ponto de vista econômico, porém, o legado não seria duradouro. “Por mais que o Brasil vencesse a Copa, e isso gerasse um boom de consumo, a euforia não duraria mais do que algumas semanas”, analisa Creomar de Souza, professor de comércio internacional da Universidade Católica de Brasília.

Mesmo que minimamente, no entanto, alguns setores sofrem com a derrocada do Brasil. O de produtos diretamente ligados ao Mundial, como as camisas oficiais, é o principal deles. Os uniformes eram vendidos a R$ 229 no início do torneio e, a partir das oitavas de final, custavam R$ 149. A expectativa é de que, a partir de agora, os itens saiam por um preço ainda menor, mas a liquidação não seria sinônimo de dano econômico para a fabricante. “Eles já calculam o preço das peças em cima da possibilidade de um fracasso. No valor, está embutido o preço da provável frustração”, explica Azevedo.

A classificação para a final empolgaria mais os torcedores, que se organizariam para assistir ao jogo no próximo domingo, mas o setor de serviços também tem como prêmio de consolação a disputa de terceiro lugar. “O Brasil ‘saiu’ no fim do Mundial. Dois ou três dias de consumo dariam algum movimento no comércio, mas nada significativo”, constata Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio.

Além da torcida nacional, saíram perdendo os setores sem muita relação com o torneio. “Quando empresas fecham durante os jogos, deixam de produzir e vender. Isso poderia diminuir a arrecadação, mas algumas se prepararam para isso, invertendo férias e pagando horas extras antecipadas. Assim, a perda é menor”, afirma Milton Pignatari Filho. O excesso de feriados atribuídos ao Mundial diminuiu o movimento nos grandes centros urbanos em dias de partidas. E a cada folga, o comerciante lucra 9,2% a menos que em um dia normal.