FINAL

"Tiki-taken" da Alemanha terá pela frente uma Argentina dependende do brilho de Messi

Na decisão, "tiki-taken" da Alemanha terá pela frente a Argentina, altamente dependente do brilho do astro Messi

postado em 11/07/2014 08:05 / atualizado em 11/07/2014 10:07

Braitner Moreira /Correio Braziliense

AFP PHOTO / FABRICE COFFRINI

Lionel Messi arranca pelo meio. Dribla o primeiro, com a bola colada no pé. Passa pelo segundo, pelo terceiro, quantos surgirem, chuta em direção ao gol. O roteiro que o argentino repete à exaustão no Barcelona também é visto na Copa do Mundo: mesmo cobrado por torcedores e imprensa, o astro participou diretamente de sete dos oito gols da equipe alviceleste na competição. Se está num dia apagado, o time pena para conseguir avançar.

Em solo brasileiro, ninguém é tão decisivo quanto a Pulga. Na melhor seleção da Copa até agora, não há necessidade que alguém assuma tanto protagonismo. A Alemanha joga como time, troca passes com tranquilidade, se desdobra para dominar os espaços na defesa e no ataque. Por alguns minutos, o craque germânico é Thomas Müller. Depois, Bastian Schweinsteiger pede os holofotes, seguido de Toni Kroos, Philipp Lahm, Miroslav Klose.

O confronto entre Argentina e Alemanha coloca frente a frente um gênio contra um time. O grupo sul-americano foi montado aos tropeços, definido só às vésperas da convocação para a Copa. Se teve dificuldade para definir seus eleitos, o técnico Alejandro Sabella ao menos salvou o trabalho durante os treinamentos para o Mundial. O comandante conseguiu transformar a defesa alviceleste em um setor surpreendentemente confiável e, no meio do mata-mata, encontrou em Lucas Biglia o parceiro certo para Javier Mascherano na proteção à retaguarda. Com segurança, há espaço para que a tática “bola no Messi” possa funcionar.

O surgimento do time alemão, por outro lado, se deu com o passar dos anos. O planejamento em longo prazo começou há uma década, dedicando atenção às categorias de base, pelas quais os melhores atletas da geração começam a jogar juntos ainda adolescentes. O resultado não poderia ser mais claro. Em 2010, na Copa do Mundo da África do Sul, os germânicos derrotaram a Argentina por 4 x 0 nas quartas de final. Dos titulares naquele jogo, apenas dois não participaram do massacre contra o Brasil: o zagueiro Arne Friedrich, aposentado, e o atacante Lukas Podolski, no banco de reservas. Nesses quatro anos, a Argentina trocou seis titulares.

Gestões diferentes

As finalistas têm modelos antagônicos na gestão do futebol. O país europeu está na vanguarda administrativa e, desde 2001, investiu cerca de US$ 1 bilhão para implantar um plano arrojado de mudanças estruturais, investindo principalmente nas categorias de base. Já os argentinos, sob a batuta de Julio Grondona desde 1979, seguem no atraso em que vivem a maioria das federações nacionais. O país sofre com a competitividade cada vez menor dos clubes, além das más condições dos estádios e centros de treinamento — chegou à decisão graças à boa fornada de craques, liderada por Lionel Messi, cuja formação se deu no Barcelona.

Dos 23 convocados por Joachim Löw para a Copa do Mundo, apenas o mais velho deles, o centroavante Miroslav Klose, não passou por algum dos 366 centros de formação construídos pela federação alemã. Os equipamentos estão abertos para meninos e meninas de 9 a 17 anos e não têm vínculo com os clubes. O foco das academias está no trabalho técnico, quando atributos como passe, finalização e cruzamento são ensinados.

Somado à chegada de Pep Guardiola ao Bayern de Munique, o maior clube alemão, o trabalho de base explica por que a seleção tricampeã se tornou adepta do “tiki-taken”: é o time da Copa com a maior quantidade de passes concluídos, cerca de 570 por jogo. Sem desespero e com recursos técnicos em todas as posições, consegue manter a bola e fazer dela o que bem quiser. Sem ter de apelar para um passe desesperado rumo a Lionel Messi, a receita argentina nos momentos mais difíceis.

Di María ou Khedira para a história

O argentino Ángel Di María (foto) — que deve se recuperar a tempo da decisão — ou o alemão Sami Khedira: um dos atletas do Real Madrid se tornará, no domingo, o 10º na história a vencer a Liga dos Campeões e a Copa do Mundo na mesma temporada. Em 1974, sete jogadores conseguiram o feito: Beckenbauer, Breitner, Hoeness, Kapellmann, Maier, Müller e Schwarzenbeck foram campeões pelo Bayern de Munique e pela Alemanha. Em 1998, Karembeu se consagrou com o Real Madrid e com a França. Em 2002, o brasileiro Roberto Carlos levantou a taça da Liga dos Campeões, com a camisa do Real Madrid, antes de conseguir o penta com a Seleção.