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FÓRMULA 1

Jovens pilotos de Brasília explicam idolatria por Senna, morto há 25 anos

Dez pilotos nascidos no DF que jamais viram o maior nome da história do automobilismo brasileiro competir em vida contam ao Correio como Ayrton inspirou suas carreiras. País só venceu 22 GPs após adeus ao mito

postado em 01/05/2019 10:50 / atualizado em 01/05/2019 13:27

<i>(Foto: Julio Pereira/AFP)</i>

 
Ímola, 1º de maio de 1994. Às 9h13 daquela manhã de domingo, Dia do Trabalho, Ayrton Senna percorria a sétima volta do Grande Prêmio de San Marino, na Itália, quando o Brasil e o mundo pararam. Ao passar pela curva Tamburello, o maior piloto da história do país perdia o controle da Williams azul, amarela e branca, e colidia em cheio com uma barreira de concreto a 216 km/h. Chegava ao fim a trajetória do mito de 34 anos que, além de acumular vitórias e títulos, tornou-se o símbolo de uma geração que o tratava como herói e acordava cedo com a certeza de que festejaria os seus triunfos.

A cena da tragédia que tirou a vida de Ayrton não sai da memória dos brasileiros. É difícil encontrar alguém que não se lembre do que estava fazendo naquela fatídica hora. O mais impressionante: ele continua sendo ídolo até entre quem era criança ou sequer havia nascido naquele temporada — especialmente quem sonharia em seguir carreira no automobilismo.

Para entender a relevância de Senna mesmo 25 anos após sua morte, o Correio Braziliense conversou com 10 jovens pilotos do Distrito Federal e todos responderam de forma enfática que são fãs do tricampeão mundial de Fórmula 1 sem jamais tê-lo visto competir. É o caso de Lucas Foresti, de 26 anos. “Senna conseguiu fazer fãs sem a tecnologia de hoje. Quando eu tiver filho, ele saberá quem foi o Senna”, promete. O herói nacional é unanimidade desde nomes firmados no automobilismo, como o de Lucas, que atua na Stock Car há seis temporadas, aos que começam a traçar carreira, como Pedro Clerot, 12, talento do kart em Brasília.

Para Pedro, todo 1º de maio é triste. “Lembrar da morte do Senna nunca é bom. A forma como tudo aconteceu dói bastante. Eu fico muito mal”, assume. Assim como muitos brasileiros, o menino gostaria de que Senna não tivesse perdido a vida há 25 anos. “Graças ao Ayrton, encontrei um objetivo para a minha vida. Queria que ele estivesse vivo para que eu pudesse agradecer pelo que representa para mim e ao nosso país. Seria ótimo vê-lo nas pistas e pedir para dar uma volta ao lado dele”, imagina.
    

Insuperável

 
O Brasil não conquista o título mundial de pilotos da Fórmula 1 desde a tragédia de Ímola. Depois da morte de Senna, o país venceu apenas 22 grandes prêmios com Rubens Barrichello e Felipe Massa. Em 11 anos de carreira, Senna subiu ao degrau mais alto do pódio 41 vezes e ergueu o troféu de campeão mundial em três oportunidades: 1988, 1990 e 1991.

“Pelo que conseguia fazer com o carro, dava para perceber que o Senna não era normal”, elogia Guga Lima, 22. Tudo o que o piloto da Stock Car sabe sobre o ídolo foi visto em vídeos ou ouvido em histórias contadas por familiares e colegas de profissão mais experientes. “Meu pai me falou quem foi Ayrton Senna. Eu, com certeza, vou falar para o meu filho e isso vai passando adiante”. E não é difícil prever o que ele contará aos herdeiros. “Imagina se colocar no lugar do Senna, vencer uma corrida e ter a força do Brasil inteiro te vendo? Deve ser uma sensação única.”

Não ter acompanhado Senna em vida não impediu Raphael Reis, 26, de ficar inteirado de toda a trajetória profissional e desenvoltura do piloto. “Os resultados dele na pista falam por si só, mas fica na imaginação como seria a carreira dele se não tivesse acontecido o acidente”, reflete. Para o jovem piloto da Stock Car, nem mais 25 anos serão capazes de apagar Ayrton da memória dos brasileiros e dos apaixonados pelo automobilismo. “Ele é referência da minha geração e acho que continuará sendo das próximas”, projeta Raphael.

“Ver as ultrapassagens que Senna fazia, como ele corria na chuva... Eu uso o número 12, que ele já usou na McLaren”
Lucas Foresti, 26 anos, único piloto de Brasília a ganhar uma etapa da Stock Car
“Nunca vi o cara ganhando uma corrida e, mesmo assim, ouvir o hino da vitória marcado por ele me arrepia”
Guga Lima, 22 anos, piloto da Stock Car desde 2015

“Vai ser difícil mudar Senna como referência, mesmo entre os pilotos que ainda vão nascer”
Raphael Reis, 26 anos, piloto da Stock Light e Stock Car 

“Senna é maior do que o próprio automobilismo e se compara a Pelé e a Maradona no futebol, ao Michael Jordan no basquete”
Pedro Cardoso, 20 anos, piloto da Stock Car

“Quero ser profissional no futuro e chegar à Fórmula 1, assim como Ayrton fez. Ele é o meu grande ídolo no esporte”
Pedro Clerot, 12 anos, atual campeão brasiliense de Kart na categoria júnior-menor

“A gente sente bastante falta, pois Ayrton foi um brasileiro que representou o país muito bem. Perdê-lo foi como ficar sem alguém da família”
André Martinho, 23 anos, piloto de Kart

“Ele nos ensinou que, se tivermos muita dedicação e fé, somos capazes de alcançar qualquer coisa. Ayrton foi um sinônimo de esperança e felicidade para o nosso país”
Lucas Okada, 18 anos, piloto de Kart

“Se Senna estivesse vivo, o parabenizaria por tudo o que fez pelo esporte e pelo exemplo de ser humano que era. Foi uma inspiração nacional, muito mais do que um grande piloto”
Enzo Elias, 17 anos, piloto da Porsche Cup

“Senna deixou um legado importante para todo o mundo: temos de dar o nosso melhor em qualquer coisa que fizermos. Ele é o principal espelho para a minha vida”
Pedro Caland, 18 anos, piloto de Stock Light

“Eu o tenho como referência em tudo. Tanto dentro quanto fora da pista, Senna nos deu uma lição de humanidade”
Pedro Fortes, 21 anos, piloto de Kart