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Cuidado com a canelite: ela pode evoluir para lesões mais graves

postado em 24/03/2014 11:19

Praticantes de atividades físicas podem ignorar diversos tipos de dores. “Não é nada grave” e “logo passa” são pensamentos frequentes quando se trata de sintomas de “menor” importância. Aparentemente, as dores na canela, conhecidas como canelites, podem se encaixar nesse grupo. Mas especialistas alertam para o risco de se desenvolver lesões graves quando os indícios de problemas são ignorados por atletas.

“A síndrome do estresse tibial medial (canelite) pode evoluir para algo mais grave, como uma fratura por estresse”, exemplifica Marcus Montenegro, especialista em traumatologia esportiva. Ele reforça que, em alguns casos, identificar se os sintomas são mesmo de canelite não é tão simples. “A pessoa pode se confundir se já for uma fratura por estresse”, reforça. Dessa forma, o ideal é que ao sinal de dores constantes - ainda que não tão fortes - no local, a pessoa busque a orientação de um ortopedista.

“As duas canelas latejavam, era como se estivessem batendo um martelo nelas”, descreve Alexandre Alves, 21 anos, estudante de história da Universidade de Brasília (UnB). Jogador de futebol, ele sentiu fortes dores nas tíbias quanto tinha 16 e atuava pela equipe juvenil do Red Bull-SP. “Fiz raios X e os médicos falaram que eu corria o risco de ter uma fratura”, conta. “Fiquei um mês de repouso, fazendo bicicleta e fortalecimento. Tomava duas ou três injeções de anti-inflamatório.”

Daniel Ferreira/CB/D.A Press


Além do tratamento, Alexandre utilizou palmilhas especiais nos tênis e chuteiras para corrigir a pisada, que foi diagnosticada como uma das razões do problema. Um erro que poderia ter sido evitado com a realização do exame de baropodometria computadorizada.

Esse teste é responsável por detalhar o tipo de pisada dos atletas (profissionais ou amadores). Nele, a pessoa anda e corre sobre uma plataforma, que vai captar a pressão dos pés e formar imagens em um computador. “Traçamos o perfil da passada e podemos identificar o melhor tênis ou uma palmilha para correção do problema”, relata o fisioterapeuta Danilo Saigg.

"A síndrome do estresse tibial medial (canelite) pode evoluir para algo mais grave, como uma fratura por estresse”
Danilo Saigg, fisioterapeuta

TIPOS DE PASSADA
Apesar de não ser o único fator que causa a canelite nos esportistas, a pisada irregular é o problema mais comum apontado por especialistas.

Neutra: a passada ideal, quando os lados externo e interno do pé tocam o chão ao mesmo tempo
Supinada: quando há maior pressão para o lado externo dos pés
Pronada: quando a pressão principal é interna
Mista: quando em um pé a pressão é supinada e, no outro, é pronada

Mudança de calçado
O analista de sistemas Marco Amorim, 27 anos, começou a sofrer dores na canela quando praticava corrida, nos primeiros meses de 2013. Antes de consultar um especialista, ele recorreu a um exame caseiro para averiguar o tipo de passada. “Molhei os pés e pisei em folhas de papel. Descobri que minha pisada era diferente e comprei tênis apropriado por indicação de um ortopedista. Nunca mais tive dores”, relembra.

De acordo com o fisioterapeuta Danilo Saigg, as dores na canela podem ser acentuadas pelo uso de calçados impróprios. “Às vezes, o fabricante produz os tênis com uma borracha rígida por fora e outra macia por dentro. Isso leva a pessoa que tem a pisada pronada (ver quadro) a aumentar a distensão”, exemplifica.

O estudante de administração João Ibanhez, 19 anos, sofreu por causa de canelite em 2012, quando jogava pelo time sub-17 do Goiás. Os médicos do clube concluíram que a causa era o desgaste e o tipo de gramado onde o atleta treinava. “O campo era duro e eu usava chuteira de travas altas, piorava muito. Passei a usar palmilha e chuteiras para gramado sintético - com travas baixas - para diminuir o impacto”, explica.

Os fatores que provocam canelite são diversos. Além da pisada errada e dos tipos de calçados e solo em que se pratica determinada atividade, sobrepeso, predisposição genética e idade avançada podem originar o problema. “Pode ser algo associado à idade, por exemplo. Com o passar dos anos, os tendões vão ficando mais extendidos”, exemplifica o ortopedista Marcus Montenegro.