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ESPECIAL JOAQUIM CRUZ

Família vive lembranças da medalha olímpica

Feito do caçula da família ainda causa surpresa na mãe, mesmo 30 anos depois

postado em 04/08/2014 10:00 / atualizado em 06/08/2014 11:26

Gustavo Marcondes /Correio Braziliense , Lorrane Melo /Correio Braziliense

Carlos Vieira/CB/D.A Press

Os três retratos pequenos no lado esquerdo da geladeira ajudaram a detectar os primeiros sintomas. O filho caçula, figura predominante nas fotos, estava ficando apagado para Dona Lídia de Carvalho Cruz. Era como se a imagem estivesse distante, mais longe que esse tanto de terra que separa Taguatinga de São Diego, na Califórnia, no sul dos Estados Unidos. Aos 80 anos, a mãe de Joaquim Cruz está ficando cega, e os médicos descartam mais uma cirurgia para corrigir o problema da visão.

As principais imagens do filho famoso, no entanto, seguem vivas e coloridas na cabeça de cabelos brancos, que ela diz não pentear desde que o filho mais velho, Hélio, morreu há um ano, depois de complicações com uma pneumonia. O casamento; a chegada a Brasília, vinda de Corrente, no Piauí, na madrugada fria de 3 de maio de 1960 para acompanhar o marido, Joaquim Cruz, que havia vindo construir a capital; a morte do companheiro por enfarto em 1981; e aquele 6 de agosto de 1984, quando uma dezena de jornalistas lotaram o apartamento onde morava, na QNL, para assistir o outro Joaquim Cruz ganhar uma medalha de ouro para o Brasil.

Sim, o outro. Porque “o marido que era o verdadeiro”, conta, ainda sem dimensionar e entender, depois de tanto tempo, o tamanho do feito do caçula. Era o primeiro título olímpico transmitido ao vivo para o Brasil. E, com todo mundo sentado no piso de carpete, era difícil acreditar que o “Quina”, como é chamado na família, era o responsável por aquele clamor todo.

“Foram quatro anos de muito trabalho”, lembra a mãe, que deixou o filho mudar para os Estados Unidos com o treinador Luiz Alberto de Oliveira poucos meses depois da morte do pai. “Eu sabia que, se estivesse vivo, ele deixaria. Ele sentia o maior orgulho do filho, mesmo tendo acompanhado pouco da carreira dele”, recorda uma Dona Lídia, saudosa e sem arrependimentos.

Nem mesmo de estar longe do filho. Foi duas vezes aos Estados Unidos, mas não gostou do país onde Joaquim tem a vida feita. Achou as pessoas geladas, assim como aquela madrugada de maio, quando chegou a Brasília. Só que, agora, aos 80 anos, ela não tem muito tempo para se acostumar a novos ambientes. Pouco sai de casa, a não ser para uma consulta ou outra.

Apoiada no braço da filha Elita, ela tenta caminhar diariamente por um trajeto desenhado por Joaquim, da porta de casa até o Pistão Norte. Não chega a um quilômetro. E isso nem importa. “São os meus 800 metros rasos”, ri, comparando, mas com o mesmo sentimento de vitória.