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Enfim, a recompensa do trabalhador Kevin Durant

MVP das finais ralou muito, conquistou o título e dividiu as glórias com os companheiros do Golden State

postado em 13/06/2017 10:05 / atualizado em 13/06/2017 10:48

Erza Pound/Getty Images/AFP

“Olha pra mim: você conseguiu!” As palavras de Wanda Durant para o filho Kevin foram disparadas de forma firme, olhos nos olhos. Ela segura a barba do homem de 28 anos e 2,06m, e ele sorri de volta. Mais tarde, enquanto recebia o troféu de jogador mais valioso (MVP) das finais da temporada 2016/2017 da NBA, Kevin respondeu: “Lembra do que eu te falei quando eu tinha 8 anos? Nós conseguimos!”. A vitória do Golden State Warriors sobre o Cleveland Cavaliers, na noite de segunda-feira, fechando a série melhor de sete em 4 x 1 para o time, foi também o final feliz de uma família que sofreu bastante antes de sorrir.

Afinal, títulos assim sempre carregam uma história de superação pessoal. Mesmo no caso do Golden State, que lutou para construir uma equipe, pouco a pouco, sem a necessidade de um único herói. Mas nem sempre os planos dos homens seguem os desígnios dos deuses do esporte. E antes de ser o quinto atleta mais bem pago do planeta — hoje, ele recebe mais de US$ 26 milhões por ano e o salário deve saltar para quase US$ 28 milhões na próxima temporada —, Kevin Durant ralou. E sofreu, como só os mais competitivos sofrem quando perdem.

Ronald Martinez/Getty Images/AFP
Corta para 2012. Nas finais da NBA daquele ano, Durant, James Harden e Russel Westbrook queriam fazer história para o Oklahoma City Thunder — que até poucos anos antes se chamava Supersonics e era de Seattle. Mas eles foram atropelados pelo Miami Heat por 4 x 1, com belas apresentações de Dwyane Wade, Chris Bosh e um impecável LeBron James. Durant ficou impressionado com LeBron. “Desde 2012, é para ele que eu olho”, disse na noite de segunda-feira, pouco antes de levantar o troféu de campeão da NBA.

A saída do Thunder

Desde então, Kevin Durant treinou duro e jogou como poucos. Em 2013/2014, chegou a receber o título de MVP da temporada regular. Mas, com exceção de Westbrook, o time não chegava aos pés dele. James Harden havia partido para o Houston Rockets e ele praticamente carregava o Oklahoma nas costas. No ano passado, tomou uma das decisões mais difíceis da vida, segundo palavras do próprio: queria ganhar um título da NBA e, por isso, resolveu mudar de ares e seguiu para o surpreendente Golden State Warriors, campeão de 2014/2015 e vice de 2015/2016.

“Estou em um ponto da minha vida, no qual é importante encontrar algo que encoraje minha evolução como homem: sair da minha zona de conforto para uma nova cidade e uma comunidade que ofereça o maior potencial para minha contribuição e crescimento pessoal", discursou quando vestiu a camisa do time. Do outro lado, os chefes do Golden State Warriors tinham objetivos certeiros ao trazer Durant: construir um jogo mais agressivo e superar a tragédia da temporada anterior, quando o time vencia as finais da NBA por 3 x 1 e acabou derrotado pelo Cleveland Cavaliers de virada. O trabalho de Durant era chamar a responsabilidade nas horas mais difíceis e fazer frente ao incansável  e extraordinário LeBron James.

Ele fez isso com uma desenvoltura digna de ser chamado de bailarino, sem chamar a atenção. Mas não foi perdoado pelos torcedores do Thunder, que chamaram Kevin Durant de traidor, mercenário e Judas. Logo ele, calado, sempre fiel a seus princípios, nunca envolvido em polêmicas. Um cara que nasceu em Suitland, nos arredores da capital norte-americana, Washington, D.C, de uma família de classe média baixa.

A família de Kevin

Wanda tornou-se mãe, aos 18 anos, de Anthony. Aos 21, deu à luz a Kevin. Antes do mais novo completar 1 ano, o pai das crianças abandonou a família. Ela, então, deixou de lado estudos e sonhos para criar os meninos da melhor forma possível, com a ajuda da mãe, Barbara. Fez de tudo, inclusive ter dois empregos, para que eles tivessem acesso a escolas e ficassem bem longe das drogas e da violência, tão comuns naquela região.

Ronald Martinez/Getty Images/AFP

Wayne, pai dos dois, voltou à vida de Kevin quando ele tinha 13 anos. E o pré-adolescente aprendeu o que era perdoar. Conviveu em paz e sem problemas com outras duas irmãs, Brianna e Rayvonne. Quando novo, chegava chorando em casa porque os colegas de turma colocavam apelidos nele por causa da altura. “Eu me lembro que minha avó materna, Barbara, me falava que ser tão grande era, na verdade, uma bênção, e que um dia eu veria isso”, conta Kevin.

Ele nunca deixa de contar essa história. Gentil, de poucas palavras, solta o verbo só quando é para dividir as glórias. “O mais difícil para mim foi vir para cá e ajudar o time”, “É tudo sobre o grupo”, “Gostaria de agradecer minha família, meus amigos e cada um do time” foram as frases mais repetidas por ele na coletiva após o título. Durante os play-offs, afirmou que estava disposto a receber menos para que os outros jogadores renovassem por ganhos maiores, sem que a equipe atingisse o teto salarial definido pela NBA. Difícil não gostar de um cara tão humilde e que joga tão bem. Se depender dele, a dinastia do Golden State Warriors vai continuar por um bom tempo. Ele conseguiu uma vez e pode conseguir de novo.

Kevin Durant em números

Títulos da NBA: 2016-17 (Golden State Warriors)
MVP das finais: 2016-17
MVP da temporada regular: 2013-14
MVP do All-Star Game MVP: 2011-12
Novato do ano da NBA: 2007-08
Bicampeão olímpico: Rio-2016 e Londres-2012
Campeão mundial: Turquia-2010
542 jogos na NBA
Média de 27,4 pontos por partida
Média de 6,9 rebotes por partida
Média de 2,5 assistências por partida
Média de 1,3 roubos de bola por partida
Média de 38,2 minutos em quadra por partida