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Ronald diz que nunca parou de treinar nos dois anos suspenso por doping

Após cumprir metade dos quatro anos de suspensão, o ex-ala-pivô do UniCeub comenta os momentos mais difíceis nesse período

postado em 07/05/2018 15:06 / atualizado em 07/05/2018 16:05

Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press

Cria do UniCeub, o ala-pivô Ronald Reis era campeão da Liga Sul-Americana-2015 e com passagens pela Seleção Brasileira quando foi flagrado em exame antidoping nos playoffs do Novo Basquete Brasil (NBB), temporada 2015/2016. À época com 24 anos, o jogador acabou punido com quatro anos de suspensão. Depois de cumprir metade da pena, ele conta ao Correio sobre o momento mais duro nesse período e diz que nunca parou de treinar.

"Quando vi a notificação de doping no e-mail, meu mundo desabou. Chorei igual a uma criança no colo da minha mãe", lembra o jogador de 26 anos. A amostra colhida depois do segundo jogo das oitavas de final contra o Caxias, em Brasília, apontou a presença de cinco esteroides anabolizantes: androstestosterona, boldenona, estanozolol, etiocolanolona e testosterona. "Depois da notícia foi aquela loucura de correr atrás de advogado, foi uma semana de agonia."

O ala-pivô tinha sofrido uma lesão no tornozelo em outubro de 2015 e foi diagnosticado com caxumba em fevereiro de 2016. Naquela temporada, o UniCeub disputava a Liga das Américas, além do NBB. O jogador conta que numa loja de suplementação um vendedor ofereceu um produto que "resolveria a vida" do atleta, com a promessa do fim das dores no pé e de retorno aos treinos em uma semana. "Eu nunca tinha sofrido lesão grave, ficado parado ou perdido jogos nem treinos, então isso ficou martelando na minha cabeça”, lembra.

Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press
Depois de um mês e meio do uso do produto, Ronald foi avisado pelo fisioterapeuta Carlinhos que faria o exame antidoping após o jogo contra o Caxias do Sul, pelos playoffs do NBB, disputado em 6 de abril de 2016. "Nem passou pela minha cabeça que eu poderia cair (no antidoping). Eu sabia que tinha usado, mas fazia muito tempo, não tinha noção do período que essas substâncias ficam no organismo", assume.

Os olhos se enchem de lágrimas ao falar destes dois anos de suspensão, o equivalente à metade da pena. A impossibilidade de disputar competições oficiais, porém, não diminuiu a paixão pela modalidade. "Eu amo basquete, assisto a todos os jogos que passam na tevê. Fui assistir a alguns do UniCeub, mas sentia muita falta, dava aquela sensação ruim de não poder entrar em quadra. Então, continuei acompanhando mais pela tevê." 

Foi longe dos companheiros de quadra que o ala-pivô soube e lamentou o fim do time tricampeão do NBB, no qual foi revelado e que defendeu por sete temporadas. Também a distância ficou feliz com as duas equipes do DF inscritas na Liga Ouro 2018, torneio de acesso à elite do basquete nacional. “Mesmo não estando em nenhuma das duas”, lamenta, ao explicar que recebeu propostas para jogar a competição pelo Corinthians, por meio do técnico do time paulista, Bruno Savignani; e pelas equipes de Brasília: Búfalos e Cerrado.

Finanças

Ronald segue morando em Taguatinga, com a mãe e o padrasto, que têm condição econômica confortável. O UniCeub estava devendo aojogador quando ele foi suspenso e seguiu pagando o salário atrasado por mais um ano até quitar a dívida, o que o ajudou num momento delicado financeiramente. "Está dando para viver. Claro que, quando eu jogava, a minha vida era diferente, mas minha mãe sempre me pôs rédia para não gastar dinheiro à toa, para guardar e investir”, explica. Era a mãe quem administrava os rendimentos do ala-pivô, já que ele se dizia muito jovem e sem maturidade para projetar o futuro.

Esperança de reduzir a pena


Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press
Embora a suspensão por doping seja de quatro anos, Ronald alimenta a esperança de reduzir a pena, pois confessou o uso, não pediu a contraprova e se propôs a colaborar com as investigações sobre o fornecedor. "Existe a possibilidade de diminuir o tempo de suspensão, mas eu teria de fazer uma espécie de 'delação premiada' da pessoa que me vendeu, com endereço, nome, essas coisas", explica. "Está difícil, porque o rapaz que me vendeu sumiu do mapa, mas não é impossível. Vou correr atrás."

A esperança motiva o ala-pivô a seguir frequentando a academia de manhã e treinando à noite, somente ele e o técnico, de segunda a sábado. "Agora, tenho mais tempo, porque antes treinava em dois períodos. Gosto de sair com minha família e meus amigos, mas nunca deixo de treinar", ressalta.

A disciplina em manter os treinamentos o faz acreditar que não terá percalços para retomar a carreira. "O problema é que tem mais dois anos de suspensão, é complicado. Vou estar com 28, estarei novo ainda, mas quatro anos parado é tempo perdido demais."