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Itamaraty não pode interferir em possível inquérito contra brasileiros na Rússia

Ministério adverte que denúncias serão apuradas pelas autoridades russas

postado em 20/06/2018 19:23 / atualizado em 20/06/2018 19:51

Reprodução
O Ministério das Relações Exteriores acompanha o caso dos brasileiros que geraram polêmica ao constranger uma mulher russa, mas ressalta que não pode interferir em uma possível abertura de inquérito na Rússia. "Denúncias sobre qualquer tipo de infração à legislação russa são recebidas e apuradas pelas autoridades daquele país", disse trecho de nota enviada à reportagem.

O Itamaraty destaca que elaborou em conjunto com o Ministério do Esporte um guia consular para orientar torcedores e turistas brasileiros em viagem à Rússia durante a Copa do Mundo. O guia traz recomendações expressas contra atos de violência verbal, visual ou física, em especial que insultem ou humilhem pessoas em razão de gênero, raça, etnia, origem social, religião e orientação sexual. O documento fala inclusive de canções que violem normas de decoro.

O guia possui 138 páginas e tem dicas sobre as leis do país, costumes, idioma, moeda, documentação e transporte. Trecho da carta ressalta que "comportamento interpretado como assédio sexual enseja multa e prisão de até um ano".

Outra parte do documento lembra que não cabe às autoridades diplomáticas brasileiras "evitar detenção de cidadão brasileiro ou garantir sua liberação, quando acusado de crime ou infração, ou providenciar-lhe tratamento diferenciado, em prisão, daquele prestado a nacionais russos".

Seis escritórios de assistência consular auxiliam os brasileiros durante a Copa do Mundo em Moscou, São Petersburgo, Sochi, Rostov, Samara e Kazan. O Brasil é o terceiro país que mais comprou ingressos para o Mundial. Cerca de 66 mil bilhetes foram vendidos para residentes no país.

Outros casos

São vários os casos de assédio praticados por brasileiros na Rússia durante a Copa do Mundo. No primeiro vídeo de maior repercussão, homens que foram ao país europeu assediam uma pessoa que não fala português. Eles cantam uma música em alusão à cor do órgão sexual da mulher, que aparece nas filmagens sem entender bem o que estava ocorrendo. 

Dos seis homens que aparecem no vídeo com a mulher estrangeira, o primeiro identificado foi o advogado Diego Valença Jatobá, ex- secretário de Turismo, Esporte e Cultura de Ipojuca, no Litoral Sul de Pernambuco. Ele exerceu o cargo durante a gestão do prefeito Pedro Serafim (PDT) e já foi condenado pelo Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE), em 2015. Diego descumpriu o artigo 89 Lei de Licitações (Lei Federal nº 8.666/93) e firmou, sem licitação, 12 contratos ilegais para contratar atrações artísticas em nome da prefeitura de Ipojuca.

O segundo identificado foi o tenente da Polícia Militar de Santa Catarina Eduardo Neves é um dos homens brasileiros que aparecem em vídeo em que assediam uma mulher estrangeira na Rússia. A identidade foi confirmada pela Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC), na manhã desta terça-feira.

Moradores de Jaicós, no Piauí, identificaram nessa terça-feira mais um homem que aparece no vídeo. Trata-se do empresário Luciano Gil Mendes Coelho. O jornal piauiense O Dia revelou que ele já foi preso em uma operação da Polícia Federal que desarticulou esquema de desvio de dinheiro público. A fraude ocorreu em licitações da prefeitura de Araripina, em Pernambuco, no ano de 2015, quando Luciano ocupou cargo de inspetor do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Piauí (CREA-PI).

Demissão

Outro caso de grande repercussão aconteceu com dois brasileiros assediando três mulheres na Rússia. Eles pedem às garotas, que não falam português, para repetir a frase ‘eu quero dar a b... para vocês’. Ao final, os brasileiros dão gargalhadas.

Um dos envolvidos foi identificado e acabou demitido da empresa onde trabalhava. A companhia aérea Latam confirmou nesta quarta-feira a demissão do supervisor de aeroportos Felipe Wilson.

Em nota, a Latam afirma que “repudia veementemente qualquer tipo de ofensa ou prática discriminatória e reforça que qualquer opinião que contrarie o respeito não reflete os valores e os princípios da empresa”. A empresa afirma, ainda, que “tomou as medidas cabíveis, conforme seu código de ética e conduta”.

Mineiro envolvido

Em outro caso, que veio à tona nesta quarta-feira, por meio de um vídeo, um morador de Montes Claros, no Norte de Minas, induz uma mulher estrangeira que não fala português a repetir palavras de cunho sexual. O homem só não esperava que sua imagem aparecesse no reflexo dos óculos escuros da vítima. Minutos depois, a gravação viralizou nas redes sociais e permitiu a identificação do autor. Trata-se do comerciante Leandro Dias. Ele é dono de uma loja de conserto e acessórios de telefone de celular no Shopping Popular, no Centro de Montes Claros.

Prática até contra crianças

Um torcedor brasileiro, que acompanha a Copa do Mundo na Rússia, gravou e divulgou um vídeo contra duas criança com teor homofóbico. Em vídeo que circula nas redes sociais, os menores de idade repetem termos em português, sob a orientação do rapaz.

O brasileiro acabou identificado. Chama-se Lucas Marcelo. Ele pediu para que um dos garotos estrangeiros repetisse as seguintes frases: “Eu sou filho da puta”, “eu sou viado” e “eu dou para o Neymar”. O torcedor insistiu e conseguiu as respostas conforme orientou o garoto.

Lucas Marcelo chegou a gravar um novo vídeo se desculpando pelo que chama de “brincadeira”. Nas imagens, ele tenta se retratar com a “nação russa” e diz que “esse tipo de brincadeira não faz parte da nossa nação brasileira”. 

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