Kolinda honrando sua fama de torcedora raiz: na arquibancada, ao lado do povo croata
Enviado especial Moscou
Em uma Copa do Mundo que começou com o machismo ocupando as manchetes – seja pela própria cultura russa ou pelos vídeos de brasileiros que viralizaram nos primeiros dias –, duas mulheres chegam à final com protagonismo em suas funções pela Croácia, adversária da França, no domingo, às 12h (de Brasil), no Luzhniki, em Moscou. Primeira mulher presidente do país de pouco mais de 4 milhões de habitantes, Kolinda Grobar-Kitarovich vem fazendo sucesso por assistir aos jogos no meio da torcida e viajar à Rússia em voo comercial para torcer. Já Iva Olivari é a chefe da delegação croata e única mulher a sentar no banco de reservas no Mundial.
Na semifinal, o primeiro-ministro Emmanuel Macron foi à loucura com a classificação da França à final, terça-feira, em São Petersburgo, mas quem vem roubando a cena entre os chefes de estado neste Mundial é Kolinda, justamente, por se portar como uma torcedora comum, vibrando com jogadores e torcida nos jogos em que esteve na Rússia. A presidente, de 50 anos, virou um fenômeno de simpatia nas redes sociais. Ainda na fase de grupos, trocou as tribunas de honra pela arquibancada – e só mudou a rotina diante da Rússia, quando viu a partida ao lado do presidente da Fifa, Gianni Infantino, e do primeiro-ministro russo, Dimitry Medvedev.
Kolinda ao lado do presidente da Fifa, Gianni Infantino, e do primeiro-ministro russo, Dimitry Medvedev
No meio da euforia pela classificação à semifinal, desceu ao vestiário e cantou com os jogadores, sem se preocupar com protocolo. Os vídeos, em sua página no Facebook, superam os 2 milhões de visualizações.
A popularidade de Kolinda, entretanto, vai muito além de sua imagem e da vibração. Apaixonada por futebol, ela viajou à Rússia em voo comercial, pago do próprio bolso, e desconta do salário os dias que deixou de trabalhar para assistir futebol. As imagens nos voos comuns foram compartilhados nas redes sociais da presidente.
Presidente croata exibe camisa 9 da Croácia dada de presente ao presidente americano Donald Trump
Por causa de compromissos na Cúpula da Otan, em Bruxelas, Grabar-Kitarovic não foi ao Luzhniki para ver a Croácia vencer a Inglaterra, por 2 a 1, na prorrogação. Na Bélgica, presenteou a primeira-ministra britânica Theresa May e o presidente norte-americano Donald Trump com uma camisa de Croácia. Em seu Facebook, externou a felicidade. “Meu povo, é possível. Bravo. A Croácia está na final!”
Primeira-ministra britânica Theresa May também ganhou uma camisa da Croácia, mas com número 10
CONFUNDIDA COM ATRIZ
No meio de tanta popularidade, Kolinda foi vítima, nos últimos dias, de notícias falsas. Começaram a circular fotos da atriz e modelo norte-americana Nicole Coco Austin como se fosse a presidente. As imagens da top model de biquini, em uma praia, rodaram o mundo como se fosse a presidente. Não foi a primeira vez que Kolinda foi confundida. Durante as eleições, em 2015, um tabloide croata publicou um suposto vídeo íntimo da presidente – informação que foi desmentida posteriormente.
Kolinda foi eleita em 2015, no segundo turno da eleições gerais, pelo partido União Democrática Croata (HDZ). Antes de se tornar presidente, fez carreira na diplomacia, como embaixadora da Croácia nos Estados Unidos, além de ocupar cargos na União Europeia.
TIA IVA
Ex-tenista, Iva Olivari tem 49 anos e passou por diversos cargos administrativos até chegar à função de chefe da delegação croata, em 2012 – cargo semelhante a de Edu Gaspar na Seleção Brasileira. Há quatro anos, no Brasil, ela já ocupava alto posto na federação de futebol do país, mas, na Rússia, passou a ter mais protagonismo, sentando no banco de reservas ao lado do técnico Zlatko Dalic.
Iva Olivari é a chefe da delegação croata e única mulher a sentar no banco de reservas no Mundial
Cabelos louros, óculos de armação grossa, semblante sério e celular sempre em mãos – afinal, ela é a responsável por resolver todos os problemas extra-campo do time finalista –, Olivari gesticula e conversa com atletas e delegação durante os treinos. Dalic é responsável pelo que acontece dentro de campo, mas todo o resto passa pelas mãos da chefe, chamada carinhosamente por alguns jogadores de “tia Iva”.
“Os mais jovens, quando chegam ao time, costumam estar assustados, e me chamam de tia Iva. Mas isso é rapidamente esquecido e passo a ser apenas Iva”, disse recentemente à AFP. “Como gerente da equipe, sou a rainha dos papéis. Sou responsável por toda a administração, comunicação com rivais, clubes, viagens… tudo que se precisa para participar de um torneio”, contou.
Olivari começou a carreira em 1992, depois de uma lesão a tirar precocemente das quadras. Desde então, especializou-se na administração de futebol dentro da Federação Croata de Futebol, criada logo depois da independência do país da Iugoslávia, em 1991, hoje presidida por Davor Suker, maior ídolo do futebol croata.
Nessa quinta-feira, dia seguinte à vitória sobre a Inglaterra que garantiu a Croácia na primeira decisão de sua história, Dalic elogiou o trabalho de Olivari. “Ela é muito importante no nosso staff. Ela tem o espírito do time, resolve os problemas. É um orgulho para nós tê-la conosco”, disse o técnico.
