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Jejum do Ramadã deixa Salah mais propenso a lesões, alerta especialista

Atacante que lesionou o ombro não começa em campo na estreia diante do Uruguai. Períodos sem se alimentar podem ter dificultado a recuperação

postado em 15/06/2018 06:00 / atualizado em 15/06/2018 07:43

Khaled Desouki/AFP
Vinte oito anos se passaram desde a última participação do Egito em Copas do Mundo, na Itália, em 1990. A alegria do retorno aos Mundiais, porém, deu lugar à preocupação por uma série de problemas extracampo. Além de ter caído em um dos grupos mais equilibrados da competição — com o bicampeão Uruguai, Arábia Saudita e a dona da casa Rússia —, os Faraós, que estreiam nesta sexta (15/6), às 9h, contra a Celeste, precisaram lidar com a lesão do camisa 10, Mohamed Salah, que não será titular na partida, e com o Ramadã, o mês sagrado do Islã.

Os dois desafios, aliás, podem ter relação entre si. Durante o Ramadã — que começou em 16 de maio e terminou nesta quinta-feira (14/6) —, os muçulmanos fazem um jejum total durante o dia e só podem comer no período entre o pôr e o nascer do sol. Salah é um deles. E, de acordo com o professor Antonio Herbert Lancha Junior, da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE/USP), os longos períodos sem comer podem ter atrapalhado a recuperação do atacante. Pior: podem deixá-lo mais propenso a novas lesões.

"O jejum diminui a cognição e a capacidade de tomada de decisão, essenciais em esportes como o futebol. Então, os atletas que estão nessas condições têm, sim, mais chances de lesão", explicou o docente. A presença de Salah na partida contra o Uruguai foi garantida pelo técnico da seleção egípcia, o argentino Héctor Cúper. Em entrevista coletiva, o treinador disse que o atleta do Liverpool, que lesionou o ombro na final da Champions League, está "muito bem" e só não entrará em campo caso aconteça algum imprevisto "no último momento".

Demais atletas

O Ramadã também pode ser uma preocupação para os demais atletas da seleção egípcia — composta, na maior parte, por adeptos do islamismo. Cabe ressaltar que o mês sagrado acabou nesta quinta. Então, os jogadores já poderiam se alimentar normalmente no dia da partida. Lancha Junior, contudo, avalia que o melhor é que eles mantenham a rotina adotada ao longo dos últimos 30 dias, uma vez que seus corpos já estariam adaptados a fazer reservas de energia para suportar os longos períodos sem alimentação. "O ideal é evitar novidades no dia da competição. Se eles já estavam treinando adequados ao jejum, seria interessante que mantivessem e, só depois, retomassem o padrão de alimentação", pontua.


A partida está marcada para as 17h no horário de Ecaterimburgo (9h, no horário de Brasília). No verão russo, a aurora costuma acontecer por volta das 4h. Ou seja, caso mantenham o jejum, os jogadores egípcios entrariam em campo sem se alimentar há 13 horas. "Os prejuízos disso poderiam ser sentidos na diminuição da velocidade e na dificuldade de manter um esforço por mais tempo. Ele pode até ter um arranque, mas não conseguiria manter", diz o professor da USP.

Para amenizar tais prejuízos, o docente crê que os atletas estejam sendo orientados a fazer refeições noturnas repletas de fontes de carboidratos, como massas e pães, além de garantir uma hidratação equilibrada. "É preciso fazer um consumo mais regulado de água. Não é beber muita de uma vez. É fracionar bem o consumo até a hora do jogo", explica.

Além do Egito, duas seleções de países de maioria muçulmana se enfrentam nesta sexta-feira, às 12h (horário de Brasília): Marrocos e Irã. A Arábia Saudita foi a campo nesta quinta e acabou derrotada por 5 x 0 pela Rússia. Se o resultado teve alguma relação com o jejum, só Alá sabe.