Copa do Mundo

PMSC vai abrir processo contra policial que participou de vídeo assediando russa

Em nota, a PM de Santa Catarina não divulga o nome do policial, mas diz que a atitude "é incompatível com a profissão e o decoro da classe"

postado em 19/06/2018 19:20 / atualizado em 19/06/2018 21:13

Reprodução
 

Depois de a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Pernambuco divulgar uma nota repudiando a atitude de um advogado diante de uma torcedora russa, na Copa do Mundo, mais um dos envolvidos no episódio pode ter problemas no trabalho. O vídeo, que viralizou na internet nos últimos dias, mostra um grupo de brasileiros ensinando uma russa a repetir palavras de baixo calão. Com a repercussão, a Polícia Militar de Santa Catarina anunciou que um dos homens trabalha na corporação e que ele será submetido a um processo administrativo disciplinar.

Em nota, a PMSC não divulga o nome do policial, mas diz que a atitude "é incompatível com a profissão e o decoro da classe." Afirma, ainda, que ele deverá ter o comportamento analisado, "independentemente de estar em período de férias, folga de serviço ou qualquer outra situação de afastamento."
 

No vídeo, a russa, que não entende o que repete em Português, acompanha o grupo. A ação foi repudiada por diversos internautas. Entre eles, várias famosas, como a apresentadora Fernanda Lima, a atriz Bruna Linzmeyer e a cantora Ivete Sangalo. "Não é engraçado. É machismo. Misoginia. E vergonha. Muita vergonha", diz o texto da campanha, que é acompanhado pelas hashtags #MachismoNaCopa e #NãoPassarão.

Também têm se espalhado nas redes mensagens que sugerem que os brasileiros peçam à Embaixada do Brasil em Moscou que expulse do país o grupo que aparece no vídeo. Para que isso, aconteça, porém, seria necessária uma representação por parte da vítima. Procurado pela reportagem, o Itamaraty ainda não se pronunciou sobre o episódio.

OAB

Um dos torcedores do vídeo é o advogado Diego Valença Jatobá e, por isso, a OAB de Pernambuco emitiu uma nota repudiando a atitude. "A preconceituosa atitude é causa de vergonha para todos nós, brasileiros, e vai na contramão do atual contexto de luta contra a desigualdade de gênero, em que cada dia mais as instituições públicas e privadas estão em busca de soluções conjuntas para que nenhuma mulher sofra qualquer tipo de violência ou discriminação pelo fato de ser mulher", diz o documento. 
 

Senado e Ministério do Turismo

A ação dos brasileiros também foi repudiada por entidades públicas. A Procuradoria Especial da Mulher no Senado disse que "o grupo de torcedores envergonha nosso país". "Eles se aproveitaram do fato de a mulher não compreender nosso idioma para humilhá-la e ridicularizá-la. Postado na internet, o fato multiplica a gravidade da cena, que mostra em poucos segundos porque as mulheres brasileiras têm razão em lutar contra ao machismo e uma realidade de estupros e feminicídios que os homens insistem em pintar de cor-de-rosa", diz a Procuradoria, que ainda pede que a "solidariedade coletiva feminina tranquilize e alivie o coração de nossa irmã estrangeira".
 
Já o Ministério do Turismo se manifestou para negar funcionários da pasta integrassem o grupo que aparece nas imagens, mas aproveitou para condenar a atitude: "o machismo e a misoginia não são aceitáveis sob nenhum aspecto, muito menos em um evento como a Copa do Mundo". 
 

Novo vídeo

Além das imagens que se tornaram mais famosas, um outro vídeo começou a circular nas redes sociais, com um brasileiro pedindo que um grupo de russas repetisse uma expressão de cunho sexual. O autor da ação foi identificado como Felipe Wilson, que trabalha como supervisor de aeroporto da companhia aérea Latam. Em nota, a empresa disse repudiar a atitude e afirmou que está "apurando os fatos".
 
 

Confira a nota da PMSC na íntegra:

"Sobre um vídeo gravado na Rússia, em que um grupo de homens brasileiros desrespeita uma cidadã estrangeira, a Polícia Militar de Santa Catarina esclarece que:
 
1. Um policial militar foi identificado como um dos integrantes que aparecem no vídeo;
 
2. A corporação não corrobora com este tipo de atitude que é incompatível com a profissão e o decoro da classe, previsto no Regulamento Disciplinar e no Estatuto da PMSC, independentemente de estar em período de férias, folga de serviço ou qualquer outra situação de afastamento, devendo portanto, responder por suas atitudes.
 
3. Assim que se der seu retorno, a corporação abrirá um processo administrativo disciplinar para apurar a conduta do militar." 

Confira a nota da OAB-PE na íntegra:

"A Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Pernambuco, por intermédio da Comissão da Mulher Advogada, repudia veementemente o conteúdo de um vídeo amplamente divulgado nas redes sociais em que um grupo de brasileiros ladeia uma mulher, que aparentemente não é brasileira nem fala português, e profere em coro ofensas relacionadas ao seu órgão sexual.

Dentre os protagonistas do lamentável episódio, identifica-se o advogado Diego Valença Jatobá, regularmente inscrito nesta Seccional.

Segundo dados da ONU, uma em cada três mulheres é ou será vítima de violência de gênero no mundo, sendo o Brasil o 5º país no ranking mundial de violência contra as mulheres.

De acordo com Relógios da Violência do Instituto Maria da Penha, a cada 2 segundos uma mulher é vítima de violência física ou verbal no Brasil e a cada 1.5 segundo uma mulher é vítima de assédio na rua.

As estatísticas são alarmantes e nos levam a uma profunda reflexão sobre a necessidade de uma mudança urgente da cultura machista e patriarcalista em que nossa sociedade ainda está, infelizmente, inserida.

A preconceituosa atitude é causa de vergonha para todos nós, brasileiros, e vai na contramão do atual contexto de luta contra a desigualdade de gênero, em que cada dia mais as instituições públicas e privadas estão em busca de soluções conjuntas para que nenhuma mulher sofra qualquer tipo de violência ou discriminação pelo fato de ser mulher.

A Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Pernambuco, por intermédio da Comissão da Mulher Advogada, reafirma seu compromisso de trabalho incansável para que os princípios do Estado Democrático de Direito sejam resguardados, proporcionando-se às mulheres a garantia de exercício de suas liberdades individuais e sexuais, com igualdade de espaço, de oportunidades e, sobretudo, de tratamento."
 

Confira a nota da Procuradoria Especial da Mulher no Senado na íntegra:

"A Procuradoria Especial da Mulher do Senado lamenta e repudia a atitude do grupo de torcedores brasileiros que ganhou repercussão internacional durante a Copa do Mundo realizada na Federação Russa. 
 
Explorando a oportunidade do clima de festa, eles se acercaram de uma moça estrangeira e entoaram, coletivamente, expressões de conteúdo misógino, pornográfico, com ofensas ao corpo da mulher. 
 
Esse grupo de torcedores envergonha nosso país. Eles se aproveitaram do fato de a mulher não compreender nosso idioma para humilhá-la e ridicularizá-la.
 
Postado na internet, o fato multiplica a gravidade da cena, que mostra em poucos segundos porque as mulheres brasileiras têm razão em lutar contra ao machismo e uma realidade de estupros e feminicídios que os homens insistem em pintar de cor-de-rosa.
 
A cultura do estupro brutaliza homens do Brasil desde sua formação mais tenra e por vezes os acompanha até a idade em que deveriam mostrar comportamento adulto e maduro.
 
Que o repúdio das mulheres do Brasil e do mundo tenha um caráter educativo para esses homens e que a solidariedade coletiva feminina tranquilize e alivie o coração de nossa irmã estrangeira."
 

Confira a nota do Ministério do Turismo na íntegra:

"O Ministério do Turismo esclarece que os envolvidos no vídeo assediando a torcedora na Rússia não são servidores da Pasta e não viajaram com dinheiro do ministério.

Condenamos a atitude registrada no vídeo e acreditamos que o machismo e a misoginia não são aceitáveis sob nenhum aspecto, muito menos em um evento como a Copa do Mundo, que promove a integração entre povos e culturas do mundo todo. "
 

Confira a nota da Latam na íntegra:

"A LATAM Airlines Brasil repudia veementemente qualquer tipo de ofensa e prática discriminatória e reforça que qualquer opinião que contrarie o respeito não reflete os valores e os princípios da empresa. A companhia confirma que o rapaz que aparece no vídeo faz parte do quadro de colaboradores da companhia e segue apurando os fatos."