Copa do Mundo

COPA DO MUNDO

Tite diz que marcaria pênalti sem VAR

Técnico critica mudança de atitude do árbitro, cobra dois pesos e duas medidas ao lembrar lance de Miranda e minimiza choro compulsivo de Neymar

postado em 22/06/2018 12:57

AFP
São Petersburgo - O técnico Tite disse na entrevista coletiva após a vitória por 2 x 0 sobre a Costa Rica que, se fosse o árbitro holandês Bjorn Kuijpers, não recuaria na decisão de marcar o pênalti em Neymar. O comandante da Seleção chegou a afirmar que se fosse ele, Adenor, apontaria marca da cal, expressão usada para apontar pênalti. 
 
Emocionado com a primeira vitória na Copa do Mundo, o treinador falou sobre o tombo que levou na comemoração, amenizou as lágrimas de Neymar depois do jogo, exaltou o momento de Philippe Coutinho, elogiou a forma como Douglas Costa entrou em campo no segundo tempo e abriu a possibilidade de Roberto Firmino atuar com Gabriel Jesus no comando de ataque. 
 
Questionado pelo Correio Brazliense se tiraria Neymar do jogo em caso de necessidade — o camisa 10 reclamou acintosamente com o árbitro no intervalo e no segundo tempo, quando foi punido com cartão amarelo — Tite respondeu: "Aqui não se poupa ninguém. Confira os trechos da entrevista do técnico:

» Dois centroavantes

"A gente tem um tempo junto com os atletas, e as características fazem com que você possa arriscar a execução de uma função. Estudamos bastante o Firmino na posição que ele tem, o adversário com uma linha de cinco e uma de quatro. E nisso estão inseridas as virtudes que ele tem ali. Conversamos, não treinamos, mas preparamos o atleta para essa função. Chamei ele: "a gente vai criando algumas alternativas táticas". Quando mostrei para ele no quadro ele abriu um sorriso: "Professor, eu gosto de jogar ali, eu tenho essa condição. A gente tá descobrindo as características do atleta"

» Tropeços dos favoritos

"Eu não posso falar dos outros, porque eu não assisti nenhum e poucos gols. Tamanha a atenção pra equipe, pras responsabilidades, pra alegria, ainda mais com esses aspectos do empate, da necessidade de vencer. Traz um componente emocional muito forte, que nós tivemos de manter a concentração, não desesperar, botar volume. Se você fizer um gol no início, vai ter 97 minutos pra decidir. Essa é a capacidade mental que essa competição exige.

» Desempenho

"Grande segundo tempo. Três vezes: grande segundo tempo. Conseguiu botar volume, precisão, Navas jogou muito. Primeiro tempo não, início nervoso, errando passe. Segundo tempo retomou, errando passe. "Domina bem pra passar bem, e aí vai poder criar as oportunidades". Douglas tem amplitude na direita e na esquerda, com a entrada do Firmino a gente tem o Fagner construtor e cinco mais enfiados. Outra coisa que eu preparei foi: "Vou ter problema com o Fagner, boto Marquinhos e Fernandinho pra fazer a função. Não precisou". Não imaginava que ia acontecer isso com o Danilo, no último lance do treino."

» Medo de empatar

"Não é possível, tudo que a gente tá fazendo e não sair gol, o Navas tirando tudo, a gente não acredita. Quando saiu o gol, o Ederson me bateu, aí quando eu vi o Cássio me bateu também, aí ferrou. Eu ia lá comemorar junto, mas não deu". 

» Atuações

Satisfeito com os atletas, com o grupo. A última substituição a gente segurou por causa do Fagner, que fez uma grande atuação. Foi bancado pelo departamento médico, pelo técnico, e do dia pra noite teve que jogar. É tudo muito rápido. Nós estávamos muito preocupados com o lado físico dele e ele aguentou muito bem."

» Individualidade de Neymar

"Toda a individualidade aparece se o conjunto estiver forte, é desumano colocar a responsabilidade em um atleta. Eu tenho que assumir a minha responsabilidade, o Sylvinho, o Douglas Costa pra individualidade surgir. O Neymar ficou três meses e meio parado e a partida anterior foi a primeira. Ele é um ser humano, precisa de tempo para retomar o padrão alto. Mas antes de um padrão alto, precisa de um time forte, de não ser dependente."

» Primeiro ou segundo?

"A busca de ser primeiro não está em pauta. Vejo a equipe consolidar e crescer, vai se construindo ao longo da competição. Eu como técnico tenho que ficar observando para oportunizar a construção dessa equipe. Se fosse uma equipe que nos dois jogos teu goleiro fez duas defesas, tu quer que tenha essa consistência defensiva? Sim. Quer a atuação ofensiva dos dois jogos? Sim. Mas quer a precisão desses dois jogos? Sim! A bola passou no meio das pernas do Navas, então bota aí a precisão. Em termos criativos e de construção, (a Seleção) está devendo. Precisa ser mais equalizado, equilibrado".

» VAR

"Eu assisti ao lance. Tanto pode dar quanto pode não dar. Estou falando eu, Adenor. Lá de São Braz, do meu cantinho. Foi um pouco mais que o do Gabriel, que foi de interpretação. Se sou eu o árbitro, cal. Mas respeito porque é passível de interpretação. Nós não precisamos de arbitragem para vencer os jogos, queremos que ela seja justa. E tal qual foi olhado agora, seja olhado antes. Nós não queremos auxílio, o Brasil não quer, o técnico, os atletas não querem. (A Seleção) quer ganhar sendo competente."

» Coutinho

"Quando você fala de Coutinho, fala de equipe. Quando fala que vem dois caras dar entrevista coletiva, é porque é uma equipe de trabalho. Esse é o desafio do futebol: encontrar individualidades que se potencializem, inclusive Coutinho, Neymar, os dois zagueiros que jogaram muito e outros que surgirem ao longo dos jogos."

» Sylvinho sobre o meio de campo

 "O Coutinho é um atleta com muita qualidade técnica e vai pegar muito na bola. É a característica dele em qualquer clube. O Casemiro teve três ou quatro saídas de bola com algum equívoco, mas está equilibrando algumas circunstâncias. Já o Paulo é ofensivo, é o homem da infiltração, o homem de gol. É um meio-campo que está se ajustando e estamos buscando um equilíbrio, mas é um meio-campo que é eficaz nesses dois anos.

» Choro de Neymar

"Eu não conversei com o Neymar. Vou para a minha parte até baixar a adrenalina, só tive contato com Coutinho. Nem vi esse lance, não tenho como fazer a avaliação. Mas uma coisa eu posso te falar: a alegria, a satisfação e o orgulho de representar a Seleção é muito grande. Ele tem a responsabilidade, a alegria, a pressão e a coragem pra externar esse sentimento. Eu, por exemplo, sou um cara emotivo, mas cada um tem a sua característica. Eu respeito as características de cada um". 

» Sofrimento nos dois jogos

"A gente explica que é Copa do Mundo, parceiro. A margem de erro é muito pequena. Ontem, as três equipes favoritas venceram por 1 a 0 em jogos importantes. O que eu trago para o Brasil é essa consolidação e crescimento, a equipe se forma campeã. É confirmar e crescer, mas o grau de dificuldade exige, o aspecto emocional é bastante forte."

» Vaga cativa de Neymar e excesso de reclamações

"A necessidade do Neymar, assim como a do Coutinho, do Douglas Costa, é da circunstância do jogo. Mas não é pra poupar ninguém, na Copa do Mundo não se poupa ninguém. Em relação à arbitragem, o técnico é ético e nunca vai falar publicamente o que ele vai falar publicamente, mas tem a noção exata do que deve ser feito. Aliás, fiquei contente que a equipe não reclamou. Inclusive, no primeiro jogo pedi pra ela: "Não reclamem". Tive uma reunião com o Seneme e ele falou: "Não reclamem, deixa pra arbitragem". Só vai lá e olhe. Se decidiu dar ou decidiu não dar, que olhem. O do Gabriel fica claro de frente pro gol, o toque dele retira dele a possibilidade de finalizar. Pra mim, é pênalti. Se foi olhar lá e não deu, isso é justiça."