Copa do Mundo

COPA DO MUNDO

Croácia e França inauguram uma nova ordem mundial do futebol

Rotina de prorrogação e pênaltis, novo melhor do mundo, manutenção do G-8 ou campeão do Leste Europeu: as quebras de paradigmas em jogo na inédita decisão de hoje

Luis Acosta/AFP
Moscou — Eleita a melhor da história pelo presidente da Fifa, Gianni Infantino, entre outros motivos, por ter registrado apenas um 0 x 0, a Copa da Rússia chega ao último capítulo, hoje, às 12h (de Brasília), no Estádio Luzhniki, com o desafio de quebrar paradigmas. Um deles, o roteiro repetido em finais. O título não é resolvido nos 90 minutos desde 2002, quando o Brasil derrotou a Alemanha por 2 x 0. As edições seguintes colocaram em cartaz “longa-metragens”. Decisões enfadonhas, arrastadas, com pouca emoção e muito suspense até as últimas consequências. A Itália ganhou o tetra nos pênaltis em 2006. Espanha (2010) e Alemanha (2014) foram econômicas. Marcaram apenas um gol, e na prorrogação.

Protagonistas da terceira final inédita no século, França e Croácia não têm o melhor ataque. As seleções mais ofensivas da Copa — Bélgica e Inglaterra — foram condenadas a decidir o terceiro lugar. No que depender da incansável seleção croata, teremos mais 120 minutos — e até pênaltis — na decisão da 21ª Copa da história. Foi assim que os balcânicos passaram por Dinamarca, Rússia e Inglaterra no mata-mata. A julgar pela campanha da França, serão 90 minutos de futebol. Os Bleus derrotaram Argentina, Uruguai e Bélgica no tempo normal.

A quebra de paradigmas passa pelos pés de pelo menos três craques. Os franceses Mbappé e Griezmann e o croata Modric são candidatos a usar a decisão de hoje para tirar da tela um outro filme repetido. Cristiano Ronaldo e Messi se revezam como número 1 do mundo desde 2008. Nesse período, a Copa não emplacou o melhor do planeta. O português e o argentino jamais conquistaram o título, mas convenceram os jurados pelo desempenho em um torneio cada vez mais valorizado: a Champions League. O zagueiro Cannavaro (2006) foi o último “rei do futebol” aclamado devido ao desempenho no Mundial da Fifa.

Enquanto os franceses defendem a “panelinha” do G-8, a Croácia, terceira representante do Leste Europeu a alcançar a decisão, tenta romper a cortina de ferro imposta por Brasil, Alemanha, Itália, Argentina, Uruguai, França, Inglaterra e Espanha. Depois da extinta Tchecoslováquia (1934 e 1962) e da Hungria (1938 e 1654), a ex-república iugoslava tentará inserir o antigo bloco comunista no seleto grupo dos campeões mundiais.
 
Adrian Dennis/AFP
 

Ineditismo em jogo

O século do ineditismo joga a favor da Croácia. Em 2010, a Espanha conquistou a Copa pela primeira vez. A Grécia faturou a Euro-2004. Portugal, a Euro-2016. O Chile é o atual bicampeão da Copa América (2015 e 2016). A Austrália ganhou a Copa da Ásia em 2015. Zâmbia (2012) e Tunísia (2004) levaram a Copa Africana de Nações. Argentina (2004 e 2008), México (2012) e Brasil (2016) ficaram com o ouro na Olimpíada.

A final da Copa pode romper com padrões preestabelecidos. Um deles, de que o título exige trabalho em longo prazo. Por essa ótica, a França é favorita. O técnico Didier Deschamps ocupa o cargo há seis anos. Nesse período, levou a seleção às quartas de final no Brasil, foi vice-campeão da Euro-2016 e está na decisão do Mundial — a terceira da França em 20 anos.

Do outro lado, Zlatko Dalic desafia a regra. O comandante da Croácia tem apenas 13 jogos no cargo. O de hoje pode ser o do título. Mais precoce do que ele, só o gênio Rinus Michels. O mentor da Laranja Mecânica levou a Holanda ao vice em 1974 com nove partidas de trabalho: três amistosos e os seis na Copa do Mundo.

A decisão tenta quebrar paradigmas até no auge da festa. Lloris pode ser o terceiro goleiro a erguer a Copa do Mundo, repetindo os feitos do italiano Zoff (1982) e Casillas (2010). Se der Croácia, Modric será o primeiro camisa 10 a receber o troféu desde Lothar Matthäus, em 1990. Por falar na Copa da Itália, o técnico Didier Deschamps — capitão da França há 20 anos, no título de 1998 — pode igualar o alemão Franz Beckenbauer e o brasileiro Mário Jorge Lobo Zagallo, campeões como jogador e técnico.


As finais da copa no século

2002:   » Brasil 2 x 0 Alemanha
2006:   » Itália 1 (5) x 1 (3) França (pênaltis)
2010:   » Espanha 1 x 0 Holanda (prorrogação)
2014:   » Alemanha 1 x 0 Argentina (prorrogação)