COPA DA VERGONHA

Os 14 motivos para o fiasco da Seleção Brasileira

A família Scolari conseguiu ser pior do que a criticada geração de Barbosa e não chegou sequer à final. As razões vão da empáfia à falta de treinos e de variações táticas

postado em 09/07/2014 08:15 / atualizado em 09/07/2014 12:40

Marcos Paulo Lima - Enviado especial /Correio Braziliense

REUTERS/David Gray

Belo Horizonte — Sessenta e quatro anos depois da derrota para o Uruguai na última rodada do quadrangular final da Copa de 1950, a Seleção Brasileira conseguiu fazer justiça com a geração de Barbosa. A esquadra de Flavio Costa será lembrada para sempre como o time que, ao menos, foi vice em casa. A família Scolari será, no máximo, terceira colocada. Os motivos para a maior tragédia em 100 anos vão da entrega do elenco nas mãos de um guru ao desperdício de datas e até de tempo para treinar.

Foram gritantes a displicência com o relatório da psicóloga Regina Brandão e o baile tático dado por treinadores menos experientes, mas estudiosos, como o argentino Jorge Sampaoli, do Chile, Miguel Herrera, do México, e, finalmente, Joachim Löw — responsável pelo maior vexame da Seleção na história.

A santíssima trindade formada por Luiz Felipe Scolari, Flavio Murtosa e Carlos Alberto Parreira — que chegou a dizer que o Brasil estava com a mão na taça na apresentação em Teresópolis — frustrou 200 milhões de torcedores. Cabe a Felipão cumprir o que disse um dia em uma palestra para alunos, em Brasília, na L2 Sul: “Se eu não ganhar a Copa do Mundo, vou pedir asilo aqui ao lado, na Embaixada do Kuwait”. A seguir, o Correio Braziliense aponta 14 motivos para o histórico fracasso na Copa do Mundo de 2014.


1. Desperdício de dias
Apenas um jogador convocado por Luiz Felipe Scolari participou da decisão da Liga dos Campeões da Europa:
o lateral-esquerdo Marcelo. Em vez de aproveitar e antecipar a apresentação do elenco em pelo menos uma semana, a Seleção Brasileira foi uma das últimas a dar início ao período de treinos para a Copa do Mundo.
No mínimo, seis dias jogados fora.

2. Nas mãos de um guru
Luiz Felipe Scolari chegou à Copa do Mundo de 2014 muito mais como motivador do que treinador. Na bagagem, levou para a Granja Comary o livro Como se tornar um líder servidor, com a intenção de conquistar o elenco na base da cordialidade. Foi assim na apresentação do elenco na Granja Comary, quando recebeu jogador por jogador na porta.

3. Stand up comedy
A troca de sorrisos, as piadas e até o momento talk show entre Felipão e Neymar na sala de imprensa do Itaquerão, na véspera da estreia contra a Croácia, eram apenas um disfarce da pressão que ambos tentavam evitar publicamente. No dia seguinte, apesar da vitória, parte do elenco demonstrou em campo que estava à beira de um ataque de nervos.

4. Refém de um sistema
Com a conquista da Copa das Confederações em cima da Espanha, Felipão “morreu” abraçado ao esquema 4-2-3-1 das cinco vitórias no evento teste de 2013. A maior falha é jamais ter testado o time sem Neymar. O camisa 10 começou todas as partidas da segunda era Scolari — à exceção da de ontem. Quando precisou se reinventar, Felipão entrou em pane: não tinha tempo e muito menos recursos humanos.

5. Sol tapado com peneira
A comissão técnica não teve sensibilidade para perceber e corrigir os buracos deixados pelos avanços de Daniel Alves e Marcelo ao ataque, expostos antes da Copa pelo fraco Panamá e a forte Sérvia. Os problemas se repetiram na estreia contra a Croácia, mais um alerta para o treinador, mas o problema foi empurrado para debaixo do tapete até o caos diante da Alemanha.

6. Teimosia
Felipão sabia que o volante de confiança vinha de uma péssima temporada no Tottenham, da Inglaterra. Em vez de testar opções, insistiu com Paulinho à exaustão e só jogou a toalha em Brasília, quando colocou Fernandinho em campo. O entrosamento de Luiz Gustavo com Fernandinho foi pouco ensaiado nos trabalhos na Granja Comary.

7. Novena
O treinador notou que o centroavante estava isolado no esquema tático. A bola não chegava a Fred nos coletivos, e o camisa 9 não mostrava mobilidade para recuar e buscar jogo. Na segunda parte dos treinos, saía Fred e entrava Jô, que pouco acrescentava. A ideia de Neymar como falso 9 jamais foi testada.

8. Sono ou displicência
Ou Felipão dormiu em cima do relatório entregue por Regina Brandão com o perfil dos 23 convocados, ou houve erro de avaliação da profissional de confiança dele. Ambos devem ter percebido que o capitão deveria ser outro, mas insistiram em manter a braçadeira com o zagueiro Thiago Silva. O diagnóstico foi exposto em público nos pênaltis contra o Chile.

9. Vista grossa
Foram muitas as horas vagas na concentração que poderiam ter sido usadas em treinamentos. Prova disso
foi a invenção de moda de Daniel Alves e Neymar, que aproveitaram a falta do que fazer para tingir os cabelos.
O cuidado estético representou a maior novidade “tática” da Seleção no empate por 0 x 0 com o México, no Castelão, em Fortaleza, pela segunda rodada da fase de grupos.

10. Falha recorrente
Felipão não teve a coragem de corrigir um dos problemas mais graves apresentados contra o Chile: o excesso de ligações diretas da defesa para o ataque. Um reflexo dos treinos, nos quais o treinador e os colegas Flavio Murtosa e Carlos Alberto Parreira foram incapazes de agrupar e ordenar que tocassem a bola com paciência diante de adversários retrancados.

11. Anestesia
A parceria de Felipão com Carlos Alberto Parreira teve ganhos e perdas. Calmo, sereno e tranquilo, o técnico do tetra foi, durante todo o tempo, uma espécie de calmante para Scolari. O atual treinador assumiu em algumas entrevistas que, às vezes, queria voltar a ser o Felipão de antes, dar um tratamento de choque no elenco e na imprensa, mas recuava ao ouvir
os conselhos do coordenador.

12. Sobrecarga
Felipão errou na convocação. Quando percebeu que deveria ter apostado em Robinho ou Kaká para diminuir a pressão sobre Neymar, era tarde demais. Olhou para o elenco, procurou um um jogador casca grossa para desviar o foco do camisa 10 e não o encontrou. Coube ao menos uma vez ao goleiro Julio Cesar assumir o papel e falar em nome do grupo na Granja.

13. Insegurança
Pedir ao assessor de imprensa pessoal para pegar seis jornalistas pelo braço na Granja Comary e levá-los para uma conversa reservada, a fim de pedir conselhos, foi a prova final de que Felipão havia deixado o elenco escapar das suas mãos. O desembarque às pressas de Regina Brandão em Teresópolis, para recolocar o grupo no divã, constituiu outra prova de que algo estava errado.

14. Salto alto
Tanto Luiz Felipe Scolari quanto Carlos Alberto Parreira chegaram a Teresópolis cantando vitória antes da hora. O experiente Parreira chegou a dizer: “O Brasil está com a mão na taça”, antes mesmo de a bola rolar. Depois da partida contra o Chile, Felipão reviu os conceitos e afirmou que, se a Seleção fosse derrotada, não seria o fim do mundo. Está sendo.