COPA 2018

Parte da geração de 2014 'se salva' e pode defender o Brasil em 2018

Parte do elenco pode perseguir o hexa daqui a quatro anos, na Rússia. Outros jogadores, porém, estão velhos ou desgastados demais para terem o mesmo sonho

postado em 09/07/2014 08:38 / atualizado em 09/07/2014 12:41

Lorrane Melo /Correio Braziliense

Em um mundo paralelo, Neymar bateria aquele primeiro escanteio do jogo, logo aos 2 minutos, no lugar de Oscar. Os três dias de treino na Granja Comary, em Teresópolis, teriam bastado para ele aprimorar o passe perfeito que tentava desde o início da Copa do Mundo. A bola iria no segundo pau, com Fred subindo mais alto que os gigantes alemães e cabeceando para baixo, onde o goleiro Neuer não poderia alcançar. Seria o início de um jogo difícil, embora vitorioso, do Brasil contra a Alemanha na semifinal. Mas a lesão na terceira vértebra da coluna lombar tirou o camisa 10 do Mundial, e a cena imaginada acima tornou-se impossível — assim como seria impossível prever a goleada histórica sofrida ontem no Mineirão, em Belo Horizonte.

Um jogo difícil estava no script. Os donos da casa contra os tricampeões mundiais, o grupo de alemães carismáticos que arrebatou parte da torcida local ao chegar ao Brasil e agir… como brasileiros. Dançar e não impor nenhum limite à zoeira. De Santa Cruz da Cabrália, na Bahia, para o Rio de Janeiro, onde Lukas Podolski abismou-se com a beleza e decidirá, com seus colegas, a final.

Ao Brasil resta uma última parada em Brasília antes da preparação para a Rússia que (ops!) não é logo ali. Em 2018, o país, do outro lado do mundo, deve abrigar 40 seleções. O modelo das eliminatórias ainda não foi definido e depende ainda da eleição presidencial que haverá na Fifa em 2015, mas a intenção é de que o caminho até o título fique ainda mais difícil.

O sonho do hexa continua vivo, claro. E, ao menos para alguns, dentro de campo. “Esses jogadores serão convocados futuramente porque a vida não acaba com essa derrota”, confirmou Luiz Felipe Scolari, com vasta experiência. Quantos? “12, 14”, extrapolou, em um momento de delírio (?) pós-traumático.

A derrota catastrófica mostrou o que há muito já se via em campos menos iluminados e arquibancadas não tão lotadas: o futebol brasileiro precisa de uma reformulação. De técnico, de diretores, de jogadores. De recolher o complexo de cachorro grande da empáfia derivada de cinco Copas do Mundo e quem sabe treinar. Para uma geração de torcedores que não precisam mais ler sobre o Maracanazo depois de viverem os 7 x 1 de ontem. Alguns atletas poderão ser marcados como Barbosa, o goleiro da fatídica decisão de 1950, e poucos terão a chance de voltar a defender a camisa da Seleção em um Mundial e, quem sabe, poder voltar a dormir com a consciência tranquila. Daqui a quatro anos.

Quem tem chances em 2018?

FP PHOTO / PEDRO UGARTE

David Luiz, zagueiro, 27 anos
Assumiu a braçadeira de capitão da equipe na última partida depois de estrear com certa desconfiança. O rapaz da cabeleira esvoaçante (foto ao lado) não é, à primeira vista, um beque daqueles em que se pode confiar a guarda da Seleção Brasileira. Campeão de popularidade, no entanto, mostrou neste Mundial que não é alto nem mesmo sensacional no jogo aéreo, mas transpira e grita raça enquanto parece estar em todo canto do gramado: salvando gol adversário em cima da linha ou batendo falta de chapa (com perfeição) e empurrando para o fundo das redes — meio de barriga/cotovelo/ombro — uma bola para dar a vitória à camisa amarela que parece uma extensão do próprio corpo dele.

REUTERS/Marcelo Del Pozo
Thiago Silva, zagueiro, 29 anos
E o capitão chorou… Sim, quando o Brasil precisou de Thiago Silva (foto abaixo) para cobrar o pênalti na quarta de final contra o Chile, o zagueiro se afastou dos companheiros, sentou-se na bola e protagonizou uma das cenas mais dramáticas da Copa. Pediu a Felipão para não bater a penalidade. Mas, oras, era o capitão. Tratava-se de Thiago Silva, zagueiro do Paris Saint Germain, considerado o melhor do mundo na posição e que, no jogo seguinte, contra a Colômbia, abriria o placar com um gol de coxa e a boca para dizer “aqui é Brasil!”. Ele pode, sim, continuar “se entregando de corpo e alma”, como gosta de dizer. O cartão que o deixou fora da semifinal faz parte. Os próximos quatro anos só devem amadurecê-lo ainda mais.

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Neymar, atacante, 22 anos
O joelho de Zúñiga acertou não só a coluna de Neymar, mas toda a estrutura da Seleção Brasileira. O atacante, em casa, atento a cada lance, vestido com o casaco amarelinho, não pôde fazer nada. Quando presente, foi essencial ao Brasil. Quando não estava, a falta dele era visível na busca dos olhos de cada um dos jogadores. O camisa 10 resolveu partidas com atuações brilhantes, como diante de Camarões, atraiu os adversários e deixou os companheiros livres para levar o país até a semifinal da Copa do Mundo. É o melhor jogador do Brasil, a referência, e a Seleção é, sim, completamente dependente dele — situação que tende a se manter até 2018.

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Oscar, meia, 22 anos
Ora isolado na frente, sem receber a bola, ora atrás, como um meia perdido tentando furar a retranca adversária. Oscar (foto abaixo) foi mal usado. O meia do Chelsea, que desabou em campo depois da derrota por 7 x 1, foi o autor do “gol de honra” na goleada vexatória. Herói e um dos melhores jogadores na estreia do Brasil na Copa, foi sumindo aos poucos, apagado pelo esquema de Felipão. O jogador, considerado mais ofensivo, não aparecia na criação, como se esperava, mas virou um ladrão de bola na Seleção, o que o tornou peça-chave no meio-campo e mostrou um crescimento no nível dele, que só deve melhorar nos próximos quatro anos.

AFP PHOTO / VANDERLEI ALMEIDA
Willian, meia, 25 anos
Willian foi um dos últimos atletas a garantir vaga no grupo de Felipão para o Mundial e esteve em campo por poucos minutos no torneio. Ponto positivo para ele, que não saiu queimado da Copa e ainda deixou marca com bons passes. Ainda mais com o fato de atuar ao lado de Oscar no Chelsea, o que contribui para o entrosamento dos dois meias.


Na porta de saída



REUTERS/Kai Pfaffenbach
Julio Cesar, goleiro, 34 anos
Questionado depois de ser chutado da Europa, o goleiro teve boas apresentações na Copa, mas os sete gols da Alemanha foram uma injusta despedida. Ele ainda sai traumatizado, como em 2010. Em 2018, terá 38 anos.

AFP PHOTO / VANDERLEI ALMEIDA
Daniel Alves, lateral-direito, 31 anos
Terminou o Mundial no banco. Um dos poucos remanescentes da última Copa do Mundo, o jogador não tem mais a confiança nem os lançamentos de quatro anos atrás. Dificilmente recuperará o antigo nível.

AFP PHOTO / PEDRO UGARTE
Maicon, lateral-direito, 32 anos
Já foi surpresa nessa convocação por causa da idade. A forma física, no entanto, não o impediu de assumir a posição de titular nos últimos dois jogos, embora não tenha desempenhado o papel de forma desejada.