Em um mundo paralelo, Neymar bateria aquele primeiro escanteio do jogo, logo aos 2 minutos, no lugar de Oscar. Os três dias de treino na Granja Comary, em Teresópolis, teriam bastado para ele aprimorar o passe perfeito que tentava desde o início da Copa do Mundo. A bola iria no segundo pau, com Fred subindo mais alto que os gigantes alemães e cabeceando para baixo, onde o goleiro Neuer não poderia alcançar. Seria o início de um jogo difícil, embora vitorioso, do Brasil contra a Alemanha na semifinal. Mas a lesão na terceira vértebra da coluna lombar tirou o camisa 10 do Mundial, e a cena imaginada acima tornou-se impossível — assim como seria impossível prever a goleada histórica sofrida ontem no Mineirão, em Belo Horizonte.
Um jogo difícil estava no script. Os donos da casa contra os tricampeões mundiais, o grupo de alemães carismáticos que arrebatou parte da torcida local ao chegar ao Brasil e agir… como brasileiros. Dançar e não impor nenhum limite à zoeira. De Santa Cruz da Cabrália, na Bahia, para o Rio de Janeiro, onde Lukas Podolski abismou-se com a beleza e decidirá, com seus colegas, a final.
Ao Brasil resta uma última parada em Brasília antes da preparação para a Rússia que (ops!) não é logo ali. Em 2018, o país, do outro lado do mundo, deve abrigar 40 seleções. O modelo das eliminatórias ainda não foi definido e depende ainda da eleição presidencial que haverá na Fifa em 2015, mas a intenção é de que o caminho até o título fique ainda mais difícil.
O sonho do hexa continua vivo, claro. E, ao menos para alguns, dentro de campo. “Esses jogadores serão convocados futuramente porque a vida não acaba com essa derrota”, confirmou Luiz Felipe Scolari, com vasta experiência. Quantos? “12, 14”, extrapolou, em um momento de delírio (?) pós-traumático.
A derrota catastrófica mostrou o que há muito já se via em campos menos iluminados e arquibancadas não tão lotadas: o futebol brasileiro precisa de uma reformulação. De técnico, de diretores, de jogadores. De recolher o complexo de cachorro grande da empáfia derivada de cinco Copas do Mundo e quem sabe treinar. Para uma geração de torcedores que não precisam mais ler sobre o Maracanazo depois de viverem os 7 x 1 de ontem. Alguns atletas poderão ser marcados como Barbosa, o goleiro da fatídica decisão de 1950, e poucos terão a chance de voltar a defender a camisa da Seleção em um Mundial e, quem sabe, poder voltar a dormir com a consciência tranquila. Daqui a quatro anos.
Quem tem chances em 2018?David Luiz, zagueiro, 27 anosAssumiu a braçadeira de capitão da equipe na última partida depois de estrear com certa desconfiança. O rapaz da cabeleira esvoaçante (foto ao lado) não é, à primeira vista, um beque daqueles em que se pode confiar a guarda da Seleção Brasileira. Campeão de popularidade, no entanto, mostrou neste Mundial que não é alto nem mesmo sensacional no jogo aéreo, mas transpira e grita raça enquanto parece estar em todo canto do gramado: salvando gol adversário em cima da linha ou batendo falta de chapa (com perfeição) e empurrando para o fundo das redes — meio de barriga/cotovelo/ombro — uma bola para dar a vitória à camisa amarela que parece uma extensão do próprio corpo dele.
Thiago Silva, zagueiro, 29 anosE o capitão chorou… Sim, quando o Brasil precisou de Thiago Silva (foto abaixo) para cobrar o pênalti na quarta de final contra o Chile, o zagueiro se afastou dos companheiros, sentou-se na bola e protagonizou uma das cenas mais dramáticas da Copa. Pediu a Felipão para não bater a penalidade. Mas, oras, era o capitão. Tratava-se de Thiago Silva, zagueiro do Paris Saint Germain, considerado o melhor do mundo na posição e que, no jogo seguinte, contra a Colômbia, abriria o placar com um gol de coxa e a boca para dizer “aqui é Brasil!”. Ele pode, sim, continuar “se entregando de corpo e alma”, como gosta de dizer. O cartão que o deixou fora da semifinal faz parte. Os próximos quatro anos só devem amadurecê-lo ainda mais.
Neymar, atacante, 22 anosO joelho de Zúñiga acertou não só a coluna de Neymar, mas toda a estrutura da Seleção Brasileira. O atacante, em casa, atento a cada lance, vestido com o casaco amarelinho, não pôde fazer nada. Quando presente, foi essencial ao Brasil. Quando não estava, a falta dele era visível na busca dos olhos de cada um dos jogadores. O camisa 10 resolveu partidas com atuações brilhantes, como diante de Camarões, atraiu os adversários e deixou os companheiros livres para levar o país até a semifinal da Copa do Mundo. É o melhor jogador do Brasil, a referência, e a Seleção é, sim, completamente dependente dele — situação que tende a se manter até 2018.
Oscar, meia, 22 anosOra isolado na frente, sem receber a bola, ora atrás, como um meia perdido tentando furar a retranca adversária. Oscar (foto abaixo) foi mal usado. O meia do Chelsea, que desabou em campo depois da derrota por 7 x 1, foi o autor do “gol de honra” na goleada vexatória. Herói e um dos melhores jogadores na estreia do Brasil na Copa, foi sumindo aos poucos, apagado pelo esquema de Felipão. O jogador, considerado mais ofensivo, não aparecia na criação, como se esperava, mas virou um ladrão de bola na Seleção, o que o tornou peça-chave no meio-campo e mostrou um crescimento no nível dele, que só deve melhorar nos próximos quatro anos.
Willian,
meia, 25 anosWillian foi um dos últimos atletas a garantir vaga no grupo de Felipão para o Mundial e esteve em campo por poucos minutos no torneio. Ponto positivo para ele, que não saiu queimado da Copa e ainda deixou marca com bons passes. Ainda mais com o fato de atuar ao lado de Oscar no Chelsea, o que contribui para o entrosamento dos dois meias.
Na porta de saídaJulio Cesar, goleiro, 34 anosQuestionado depois de ser chutado da Europa, o goleiro teve boas apresentações na Copa, mas os sete gols da Alemanha foram uma injusta despedida. Ele ainda sai traumatizado, como em 2010. Em 2018, terá 38 anos.
Daniel Alves, lateral-direito, 31 anosTerminou o Mundial no banco. Um dos poucos remanescentes da última Copa do Mundo, o jogador não tem mais a confiança nem os lançamentos de quatro anos atrás. Dificilmente recuperará o antigo nível.
Maicon, lateral-direito, 32 anosJá foi surpresa nessa convocação por causa da idade. A forma física, no entanto, não o impediu de assumir a posição de titular nos últimos dois jogos, embora não tenha desempenhado o papel de forma desejada.