Garotada do projeto do Brasília Futebol Academia e da Creche Dona Diva
Wellington Fernandes Paiva, 11 anos, foi convidado a jogar futebol por clubes como Flamengo, Internacional, Coritiba e Vitória. Lateral direito, o garoto, que tem o apelido de “Montanha”, segue os passos do irmão, de quem herdou inclusive um sinônimo do apelido. Gustavo Fernandes Paiva, ou melhor, Gustavo Morrão, 16 anos, já havia despertado o interesse de olheiros de Figueirense e Coritiba, em outra oportunidade. O caçulinha dos irmãos também corre solto pelo campo. David Morrinho, 6 anos, completa a safra de craques produzida por Jesusmar e Marta Fernandes Borba.
A “descoberta” de Montanha veio em uma seletiva do Futebol City, evento realizado no Parque da Cidade no mês passado. Mas o trabalho feito com crianças e esporte tem mais tempo. Os três irmãos são atendidos pela Creche Dona Diva, projeto social fundado por Ana Paula Soares, no Núcleo Rural Córrego da Palha, próximo ao Varjão. O nome do local foi uma homenagem à mãe adotiva, que pegou Ana Paula para criar quando ela tinha 3 meses. A nova mãe era bordadeira, casada com um mestre de obras e cuidadora de outros 12 filhos. Foi aprendendo a dividir que Ana Paula cresceu, estudou e passou a retribuir a família que ganhou ajudando outras crianças a verem que podiam correr atrás dos sonhos.
Montanha e Morrinho posam com Lúcio
Desde 2009, a Creche Dona Diva tem uma parceria firmada com o Brasília Futebol Academia, onde os garotos treinam duas vezes na semana. A escolinha de futebol busca concretizar um sonho comum a muitas crianças: se tornar jogador de futebol. “Eu tive esse sonho e consegui vivê-lo. Agora, quero fazer com que outros meninos possam viver isso também”, diz Ecio Antunes, responsável pela escolinha de futebol, que conta com outros dois professores na instituição.
Além de Montanha, outros 11 garotos que fazem parte da parceria entre os dois projetos sociais foram selecionados por olheiros de oito equipes do Campeonato Brasileiro no Futebol City. Segundo Ecio, a escolinha é uma fábrica de talentos. “Já revelamos 48 meninos para clubes brasileiros e três atletas para times no exterior”, orgulha-se.
No caso dos irmãos Morrão, Montanha e Morrinho, o pai é cobrador de ônibus e a mãe, cozinheira. Juntos, eles se desdobram para acompanhar os filhos. “Sempre que posso, assisto ao jogo deles”, orgulha-se Jesusmar. Ela, Marta e a filharada — os dois ainda têm uma filha — moram em Santo Antônio do Descoberto, distante mais de 50km de Brasília.
Solidariedade
Em dia de partida dos filhos, Jesusmar acorda às 4h30, prepara o café da manhã e pega o ônibus das 5h30. Nas ocasiões em que o trabalho não o permite acompanhar os filhos nos jogos, a solidariedade de Ana Paula, fundadora da Creche Dona Diva, e do técnico Ecio ganham vez. “Tem dia que vai um monte de menino lá para casa. Dou lanche e fazemos o que é preciso para eles poderem realizar o sonho deles”, conta Ana Paula. Jesusmar confirma a confiança depositada neles.
No dia da seletiva em que estariam presentes olheiros de vários clubes das principais divisões do Campeonato Brasileiro, Jesusmar controlou o nervosismo de ver o filho Wellington Montanha ser observado. O desempenho de Montanha agradou a quatro clubes — ele acabou se apresentando no Flamengo com dois colegas do Instituto. Para dizer quem é o jogador preferido, Wellington Montanha abre o sorriso: Neymar. Já o pai nem titubeia: “Craques, para mim, são meus filhos”.
