CANDANGÃO

Com problemas no Rorizão, Samambaia ameaça mandar jogos em Minas Gerais

Até o momento, o site da FFDF mantém o jogo contra o Brasiliense, e todos os outros com mando de campo do Cobra Cipó, para o Estádio Rorizão

postado em 17/01/2018 18:14 / atualizado em 18/01/2018 12:36

ASCOM/Samambaia
Maior inquilino do Mané Garrincha desde a inauguração da arena mais cara da Copa de 2014, o Flamengo fez escola. Faltando apenas dois dias para o início do Campeonato Candango, o futebol da capital do país enfrenta problemas relacionados aos palcos aptos a receber os jogos do torneio, e um clube genuinamente do Distrito Federal ameaça mandar seus jogos em Minas Gerais. Qualquer semelhança com o asilo recente a clássicos do Carioca em Brasília é mera coincidência. Nos últimos dois anos, a cidade recebeu um Fla-Flu e dois Clássicos dos Milhões.

O Rorizão é a dor de cabeça. A demora na liberação dos laudos de segurança da arena fez com que o Samambaia manifestasse, nesta quarta-feira (17/1), junto à Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF), o desejo de transferir todas as suas partidas para a cidade de Urucuia (MG), situada a 300 km de Brasília. Boa parte dos palcos do Candangão — incluindo o Mané Garrincha — só conseguiram os documentos na última semana. A situação do Augustinho Lima, em Sobradinho, só foi resolvida na tarde de quarta-feira.

Em comunicado assinado pelo presidente Neimar Frota e destinado a Daniel Vasconcelos, mandatário da FFDF, o clube justifica o pedido salientando a dificuldade enfrentada pelo governo para regularizar a situação do Rorizão. O estádio foi indicado como casa do Samambaia. O dirigente do Cobra Cipó também cita o “desrespeito do Executivo de Brasília com a população da cidade” como um dos motivos para solicitar a mudança. “Nós temos um governador que não se preocupa com o futebol local. Estou mudando meu jogo para Urucuia (MG) até que resolvam isso. Não vou ser mais um presidente de clube que fica calado com esses problemas”, indignou-se Neimar Frota.

A FFDF confirmou ao Correio que o estádio localizado em Samambaia ainda não tem todos os laudos para que seja regularizado. Segundo o diretor de futebol Márcio Coutinho, os problemas estão relacionados à divisão das torcidas, procedimentos de segurança e de higiene, como a construção de banheiros na ala dos visitantes. “O Rorizão realmente não conseguiu os laudos, mas ainda há tempo. O mando de campo deles é na segunda rodada”, pondera Coutinho, lembrando que o primeiro jogo do Samambaia como mandante ocorrerá em 28 de janeiro, quando o clube receberá o Brasiliense.

De acordo com o regulamento específico do Candangão, os locais de mando de campo podem sofrer modificação a pedido da FFDF ou por solicitação do clube mandante, desde que seja realizada em até 120 horas — ou cinco dias — antes da partida em questão. Portanto, o Samambaia teria até a próxima terça-feira (23/1) para definir o local do jogo contra o Brasiliense.

De malas prontas

Além do pedido de alteração enviado à federação, o presidente do Cobra Cipó diz já ter comunicado o Jacaré sobre a decisão. “Conversei com o Brasiliense e eles toparam sair de Brasília. Eu não jogarei no Rorizão. Inclusive, formalizei ao Rutilio Cavalcanti Filho (prefeito de Urucuia) a intenção de estar na cidade”, informou Frota. Até o momento do fechamento desta edição, a Prefeitura de Urucuia (MG) não havia confirmado o recebimento do documento.

A FFDF mantém esperança de modificar o panorama. “O presidente do clube está sendo precipitado. É possível aguardar um pouco para ver se o GDF cumpre e libera o estádio”, declarou Coutinho, que também responsabilizou o governo pelo problema gerado dias antes de iniciar o campeonato e afirmou que os membros do Executivo colocam o futebol abaixo de outros temas.

“Nós sempre pedimos para o governo tomar conta dos estádios. É uma pena. Temos um campeonato muito bom, com grandes jogadores, alguns conhecidos mundialmente, e quando vai começar temos esses problemas. A solução é conversar. Tem como o governo resolver”, reclama o dirigente.

Frota também lamenta a falta de comprometimento do Executivo e disse que não pretende negociar a permanência do jogo em Brasília com a FFDF. “Se a Federação colocar algum empecilho, que ela disponibilize ônibus para levar a minha torcida a outro estádio na cidade. “Ele (GDF) está brincando com todos os órgãos e eu serei o primeiro a bater o pé e não jogar aqui”, ameaça.

Distância pode ser empecilho

Surpreendido com o pedido de mudança de mando de campo feito pelo Samambaia, Márcio Coutinho afirmou que se reunirá com o presidente da Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF), Daniel Vasconcelos, e com o departamento jurídico da entidade para avaliar a viabilidade do pedido feito pelo Samambaia. “Eu não sei se juridicamente isso é possível”, precaveu-se o diretor de futebol da FFDF.

Um motivo para o empecilho seria a distância entre a cidade mineira e a capital federal: 300km. Historicamente, a FFDF aceita que clubes de outros estados participem do Candangão desde 1996. Um requisito é que a sede do clube esteja no máximo a 200km de Brasília.
 
Entretanto, no regulamento geral da competição, não há disposição que determine uma distância mínima para que um clube mande uma partida. Vale ressaltar que o Campeonato Candango de 2018 terá a participação de três clubes de fora do Distrito Federal: Paracatu-MG, Formosa-GO e Luziânia-GO, que estão, respectivamente, a 234km, 81km e 60km de Brasília.

A cidade onde o Samambaia pretende mandar seus jogos no Candangão também é a sede da pré-temporada do clube. O time usa as dependências do complexo esportivo da cidade mineira desde 1º de setembro. O retorno está programado para amanhã.

“A cidade tem tudo o que precisamos. Um centro de treinamento com cinco campos e academia. Tudo dentro da Vila Olímpica”, alegou o presidente Neimar Frota.

A estreia do clube está programada para sábado contra o Paracatu, no Estádio Frei Norberto. Até o momento, o site da FFDF mantém o jogo contra o Brasiliense e todos os outros com mando de campo do Cobra Cipó para o Estádio Rorizão, em Samambaia. (DQ).

GDF rebate ataques do Samambaia

Um dos membros do governo que acompanhou de perto as vistorias realizadas nos estádios do DF, o secretário Apolinário Rebelo explicou a situação. Segundo ele, o fato de a federação ter procurado o governo no fim de novembro é um dos motivos para a demora na regularização, já que os trâmites para conseguir os materiais necessários para as intervenções demanda tempo.

“Esse prazo foi muito curto. Mesmo assim, nós visitamos os estádios e fomos atrás dos problemas. Porém, é preciso seguir o rito e os prazos do governo, que são diferentes”, explica. “O governo tem um limite, e os valores das obras precisam passar por licitação. Fizemos o que foi possível”, defendeu-se.

O secretário afirmou que respeita a decisão do clube de sair da cidade, mas que isso não justifica “procurar culpados”. “O clube tem autonomia de mandar os jogos onde achar melhor. É muito apressado querer responsabilizar o governo por esse atraso, e isso não ajuda.
 
Estamos fazendo um movimento em conjunto para enfrentar esse problema e há coisas que demoram mais”, salienta Rebelo, que preferiu não estipular um prazo para liberar o Rorizão. “Isso não é como um pão de queijo, que se joga no forno e em 40 minutos está pronto. É preciso ser solidário. Tensionar as relações não ajuda ninguém”, finalizou.
 
*Estagiário sob a supervisão de Marcos Paulo Lima 

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