Segunda Divisão Candanga

Conheça o delegado que é escritor e goleiro nas horas vagas

Sérgio Bautzer disputou uma competição profissional aos 41 anos pelo Cruzeiro-DF

postado em 11/10/2018 16:23 / atualizado em 11/10/2018 18:50

Arquivo pessoal
Entre plantões e folgas, o delegado Sérgio Bautzer da 27ª DP do Recanto Das Emas, conseguiu realizar dois sonhos: o de virar goleiro profissional e o de recriar o fatídico 7 x 1. Em agosto, o policial lançou seu primeiro livro de ficção: "Como um gato". A obra começou a ser escrita após a derrota do Brasil para a Alemanha na Copa do Mundo 2014. O objetivo era superar o trauma da derrota escrevendo um novo final. Com a repercussão do livro, ele, que já havia sido goleiro nos Jogos Mundiais dos Policiais e Bombeiros, foi chamado pelo Cruzeiro-DF para disputar, aos 41 anos, a Segunda Divisão do Campeonato Brasiliense.

Paulista de Barra Bonita, Bautzer sempre foi um apaixonado pelo futebol. Na infância, jogava futsal, além de brincar nos campos da cidade. A decisão por ser goleiro era por mais oportunidades e tempo de jogo. “Quando eu tentava jogar na linha, era sempre o último a ser escolhido, então eu percebi que, como goleiro, eu jogava todas as partidas”, explica. O desejo de buscar uma carreira profissional chegou tardiamente, apenas com 18 anos houve a oportunidade de aprender os fundamentos com profissionais.

Em 1993, Sérgio tentou ser oficial da PM de São Paulo, mas acabou reprovado na prova. Com essa derrota, ele decidiu estudar para o vestibular de direito. Aprovado, o então universitário conheceu os Jogos Jurídicos e, para poder participar, começou a treinar no time do Noroeste, em Bauru. Ali permaneceu por dois anos e escutou do massagista que ele jamais jogaria no futebol profissional. Essa frase foi o carro condutor de Sérgio. 

No livro que lançou há dois meses, o delegado goleiro apresenta Erick Moreno da Silva, um protagonista que se mistura com os sonhos do próprio autor. A publicação narra a vida de um goleiro de sucesso, apresentado-o como o melhor da era moderna. Nele, Bautzer recria todas suas grandes frustrações futebolísticas. Corintiano, ele inicia a história na final do Campeonato Paulista de 1993, transformando Erick no goleiro campeão pelo Timão. No mundo real, o time do Parque São Jorge saiu derrotado pelo Palmeiras. O enredo se desenvolve com o ‘Goleiro Herói’ presente em jogos históricos e sempre transformando os resultados. No livro, o Brasil ganha as Copas do Mundo de 1998, 2006 e 2014. 

A volta aos gramados


Divulgação
Os caminhos de Sérgio sempre estiveram ligados por derrotas que o conduziram para vitórias. Reprovado no concurso para delegado de São Paulo, ele acaba passando e sendo nomeado em Brasília, em 2006. Na capital, além de assumir a responsabilidade de delegado plantonista, passando por várias cidades satélites, ele começa a dar aulas de cursinho nos horários de folga. Com uma agenda cheia, Bautzer encontra tempo em 2016 para começar a treinar para as seletivas dos Jogos de Policiais e Bombeiros. No ano seguinte, se torna vice-campeão do torneio com a Polícia Civil do DF. 

O convite para treinar no Cruzeiro-DF veio do preparador de goleiros Adalberto Bizarro, que já sabia do sonho de Sérgio. Diferentemente do personagem Erick Moreno, Sérgio não assinou nenhum contrato milionário. Pelo contrário, ele sequer recebia salário e só treinava nas folgas da delegacia. Mas isso não impediu de ver seu nome nos registros de profissionais da CBF. "Entregar minha carteirinha da federação de profissional foi a minha maior realização", comemora. "Eu só fiquei no banco em um jogo e já foi especial. Ter o nome no BID foi uma das coisas mais sensacionais que me aconteceram”, completa. 

Sérgio Bautzer não se sente frustrado por não ter tido uma carreira de sucesso no futebol. Fora dele, virou delegado, passou a ser professor de cursinhos e tornou-se escritor. Dentro de campo, o Cruzeiro-DF não avançou da primeira fase da Série B do Candangão, mas ele experimentou a sensação de ser um goleiro profissional.


*Estagiária sob supervisão de Maíra Nunes