Futebol Internacional

COPA DO MUNDO

Em entrevista ao Correio, o sérvio Petkovic analisa grupo do Brasil na Copa

O sérvio mais brasileiro do mundo avisa que aceita ser consultor de Tite se não for convidado para contribuir com o país que nasceu

postado em 11/12/2017 10:51 / atualizado em 11/12/2017 11:24

Maurício Val/Vipcomm
No dia do sorteio da fase de grupos da Copa do Mundo de 2018, Dejan Petkovic embarcava no Brasil justamente para a Sérvia, terceira adversária da Seleção no Grupo E, em 27 de junho, no Estádio Spartak, em Moscou. Foi a Nis participar de uma festa de família e aproveitou para matar saudade de uma especialidade do pai dele — o rakia. A bebida dos bálcãs é mais forte do que uísque. Seu Dobrivoje Petkovic é fabricante. Mas relaxe. Pet, o filho, estava sóbrio na entrevista ao Correio.
 
Dividido entre o país de origem e a nação que o abraça há 20 anos, o ídolo do Vitória e do Flamengo fala a seguir sobre o duelo entre suas duas pátrias. Aos 45 anos, o ex-meia diz que está disponível para colaborar com a Sérvia como espião, montar um dossiê sobre a Seleção de Tite se for necessário, mas admite virar a casaca se não for convidado. “Por que não? Claro que, se eu fosse consultado, ajudaria o Tite também com as informações. Eu estou aqui”, ri.
 
Petkovic conhece bem o duelo. Em 1998, defendeu a extinta Iugoslávia contra a Seleção Brasileira no Estádio Castelão, em São Luís. O amistoso terminou empatado por 1 x 1 — gols de Marcelinho Carioca e Savo Milosevic. Aquela partida em 23 de setembro de 1998 foi a última exibição de Petkovic com a camisa de seu país.

Você está na Sérvia. O que se diz aí sobre o Grupo E, com Brasil, Suíça e Costa Rica?
A análise aqui na Sérvia é de que caímos no grupo de um pentacampeão e favorito a conquistar a Copa do Mundo. O sentimento é de que não vai ser fácil também porque a Costa Rica foi muito bem em 2014, chegou às quartas de final (depois de passar em primeiro num grupo que tinha Itália, Uruguai e Inglaterra). E a Suíça esteve nas últimas Copas e na Eurocopa. Acho que não tem jogo fácil no Mundial. São as 32 melhores seleções.

Que análise você faz da Sérvia no momento?
Neste momento, não tem como analisar muito a seleção da Sérvia, porque está sem técnico. O interino é o Mladen Krstajic, que já mudou o estilo de jogo.  O nome do novo técnico não está definido ainda.

Quem é o “Petkovic” da Sérvia?
Um camisa 10 clássico assim, como Petkovic, não temos. Temos um camisa 10, que é o Dusan Tadic, que joga na Inglaterra (Southampton). Ele atuou bem nas Eliminatórias, mas não joga muito no seu time, não acumula muitas partidas na temporada (dois gols em 15 jogos pelo Campeonato Inglês e Copa da Liga). Mas é um excelente jogador.

A Sérvia aderiu à moda da linha de cinco defensores...
A Sérvia jogou com linha de cinco defensores nas Eliminatórias, mas não acredito que vai continuar assim. A Sérvia não joga assim há 15, 20 anos. Mas o sistema tático vai depender do novo técnico que vai ser contratado.

Slavoljub Muslin classificou a Sérvia para a Copa. Por que foi demitido?
Não sei exatamente. Não conheço o ambiente interno, mas a cobrança maior é de que nós não estávamos jogando um futebol bonito. Quando jogávamos bonito, perdíamos; e, quando jogávamos feio, ganhávamos.

Mladen Krstajic tem apoio para comandar a seleção na Rússia?
Não acho que será efetivado para dirigir a Sérvia na Copa. Tanto que está demorando para ele ser efetivado e contratado o novo técnico. Acho até que deveriam dar uma chance a ele, mas, pelo que tenho ouvido aqui, isso não passa de 20% de chance de acontecer.

A Sérvia teve dois técnicos estrangeiros: o holandês Dick Advocaat e o espanhol Javier Clemente. Há possibilidade de um novo técnico importado?
Sempre existe a possibilidade de contratar um técnico estrangeiro, mas depende de ser um treinador bem cotado mundialmente. Hoje, não tenho palpite se vai ser sérvio ou não.

É um dos seus sonhos ser técnico da Sérvia?
Qualquer um que é patriota teria esse sonho de comandar a sua seleção numa Copa do Mundo. Não sei se isso vai acontecer comigo um dia ou não, mas isso nunca se descarta.

Se tivesse de escolher uma seleção para ajudar: Sérvia ou Brasil?
Acho que o mais importante é ajudar a Sérvia. O Brasil é favorito. As minhas informações são mais importantes para a Sérvia, porque o Brasil é o favorito contra a Sérvia (risos). Mais isso depende de quem manda. Eu acho que poderia contribuir muito com as informações não somente sobre o time do Brasil, mas sobre a cultura, a forma como jogam. Há muitas coisas, não somente questões técnicas. Se pedirem, é claro que eu vou ajudar.

O que recomendaria à Sérvia para enfrentar o Brasil?
O segredo contra a Seleção Brasileira é jogar sério. Será uma partida boa, inédita para a Sérvia numa Copa do Mundo (depois da extinção da Iugoslávia). A Sérvia terá de jogar o melhor do seu futebol e, logicamente, tentar anular todas as virtudes dos jogadores brasileiros e aproveitar as poucas oportunidades que vão aparecer.

Se a Sérvia não consultá-lo, você toparia ser um dos informantes do Tite?
Sim, por que não? Torço pelo Brasil e pela Sérvia na Copa. Claro que, se eu fosse consultado, ajudaria o Tite também com as informações. Eu estou aqui (risos).

Que avaliação faz do trabalho do Tite?
Sobre o Tite, tudo de melhor. Chama a atenção o fato de o trabalho dele ser sistêmico. O grupo que trabalha com ele é atento a todos os detalhes, tem uma filosofia de futebol muito boa, um conceito. A Seleção Brasileira mudou muito. Isso é a qualidade do Tite. Ele tem capacidade de fazer uma análise global que eu não tinha visto nos treinadores anteriores da Seleção.

No dia do sorteio, o Correio fez uma matéria mostrando que a Sérvia tem a seleção mais alta da Copa e que isso é um problema para o Brasil...
Sim, a bola aérea pode ser um trunfo da Sérvia no Grupo E. Temos jogadores altos, um time mais compacto, difícil de ter a marcação quebrada, então, isso pode ser um trunfo, sim.

A Sérvia foi campeã do Mundial Sub-20 em 2015 contra o Brasil. Como tem sido a transição para a seleção principal?
Os jogadores que ganharam o título do Mundial Sub-20 de 2015 contra o Brasil ainda são pouco aproveitados, mas isso quer dizer que, futuramente, nós podemos ter grandes jogadores. A seleção atual aposta mais na experiência em competições internacionais.

A Suíça é comandada por um xará sérvio, o Vladimir Petkovic. O que sabe sobre ele?
Não conheço o técnico da Suíça pessoalmente, mas, se ele tem o meu sobrenome, então é bom (risos). Está comandando a Suíça há muito tempo, é uma seleção que vai para a terceira grande competição com ele, então isso mostra que há um trabalho consolidado.