Futebol Nacional

PAPO DE CAMPEÃO

'Ainda tenho um pouquinho de lenha pra queimar', relata Lúcio aos 41 anos

Em entrevista ao Correio, o pentacampeão falou sobre visão de futebol, título mundial e aposentadoria

postado em 16/09/2019 18:19 / atualizado em 16/09/2019 18:44

<i>(Foto: Luis Nova/Esp. CB/D.A Press)</i>
Lucimar da Silva Ferreira, de 41 anos, mais conhecido como Lúcio, atualmente no Brasiliense, é natural de Planaltina-DF, e é um dos principais nomes da história do futebol. Em entrevista ao Correio, o atleta comentou sobre carreira, seleção brasileira, aposentadoria e falou sobre o futebol dos dias de hoje. O jogador também analisou a importância de Neymar Jr, atacante do Paris Saint-Germain, nos gramados. 

Sobre o Var, o atleta afirmou que a tecnologia ajuda a combater irregularidades, mas acaba atrapalhando o futebol com a demora na hora de validar ou não o gol. “Por outro lado, acaba tirando a emoção do futebol. Seja no momento do gol ou no instante em que o jogador sai pra comemorar, fica esperando por dois ou três minutos pra confirmar o gol. Isso deixa o esporte chato e tira o que sempre foi a emoção do futebol”, comentou. 

Ao ser questionado sobre a situação atual de Neymar, o zagueiro contou que ele precisa de uma sequência vitoriosa e de atuar como Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. Ainda pontuou sobre a importância do atleta no elenco de Tite: “É um grande jogador. É um cara que sabe fazer gol, tem uma qualidade muito grande e vem se destacando ano após ano. Claro que tem alguns momentos difíceis, é normal, todos os jogadores enfrentam no decorrer da carreira. Ele é um jogador que ainda é importante para a seleção brasileira.” 

Ao tocar no assunto de uma provável aposentadoria, Lúcio demonstrou que está em forma e que ainda tem um tempinho pra atuar nos campos. “Hoje consigo me manter em forma, consigo correr bem com os mais jovens e isso me deixa tranquilo e feliz em saber que tenho ainda um pouquinho de lenha para queimar”, assegurou, após dizer que trabalha com a ideia de lidar como técnico no futuro. 

Em uma das mais emblemáticas derrotas da seleção brasileira em uma Copa do Mundo, o famoso 7 a 1 de 2014, o zagueiro reitera que o episódio foi um desastre para a história do esporte. “É difícil falar, foi um desastre e uma marca muito negativa pra nossa seleção. Ali faltou maturidade para todos, para saber administrar um resultado quando se sai atrás do placar”, alegou. 

Entrevista // Lúcio

Qual foi a principal dificuldade que encontrou no início da carreira?


A dificuldade sempre é você estar em um lugar em que se pode ser observado. As condições do futebol de Brasília não são as melhores, o esporte é muito fraco em comparação com outros estados. A maior dificuldade mesmo é você sair e se destacar. 

O que mais te marcou quando passou pelo Planaltina-DF?


O que mais me marcou foi o meu início na equipe principal. Nos meus 16 para 17 anos, já tinha um lugar de destaque no time e conseguia jogar de igual para igual com os mais velhos. Isso me deixou muito feliz. 


Inter de Milão, Juventus, Bayern de Munique e Bayer de Leverkusen foram os clubes em que teve passagens. Qual desses você acha que teve uma melhor atuação?


A minha melhor atuação nos clubes europeus ocorreram no Bayern de Munique e na Inter de Milão. Pois foi lá que consegui vários títulos e marcar uma passagem bonita pelo continente. No inter, conquistei o mundial e a Champions League. E isso é o maior desejo dos atletas quando vão jogar internacionalmente. 


Por que o futebol da Europa é mais valorizado do que o do Brasil?


Isso é uma resposta simples e básica. Todo mundo vê uma evolução no futebol europeu. Lá estão concentrados os maiores investimentos e as maiores empresas, pois facilitam a engrenagem do dinheiro. E também a Europa é um sonho de quase todos os atletas brasileiros. Isso valoriza muito mais. A organização, o empenho e o profissionalismo dos europeus estão muito à frente dos brasileiros.

Como foi participar da conquista do penta em 2002?


Foi uma sensação e uma bênção de Deus indescritível. Pois se tornar campeão mundial aos 24 anos não é nada fácil. Aquele grupo era um grupo muito qualificado, tínhamos o Ronaldo Fenômeno, Roberto Carlos, Ronaldinho Gaúcho, Cafu, entre outros. A gente se encaixou e se empenhou muito bem. A mão do treinador (Felipão) também foi essencial, ele organizou a equipe taticamente, o que não era fácil. Esse título foi tão marcante que até hoje colhemos o fruto. Isso me deu orgulho de ter servido a seleção. A história interessante e engraçada foi quando o Ronaldo Fenômeno fez o cabelo igual do Cascão para a final. Todo mundo achava que ele ia tirar o cabelo depois do lanche, mas ele foi mesmo assim para a partida e a zueira foi total no ônibus. 


Em 2014, o Brasil passou por um vexame que jamais pensaria em passar, o famoso 7 a 1. Se você estivesse na partida, o que teria feito para evitar esse placar?


É difícil falar, foi um desastre e uma marca muito negativa pra nossa seleção. Ali faltou maturidade para todos, pra saber administrar um resultado quando se sai atrás do placar. O Brasil se afobou demais e quis resolver de uma hora pra outra, resultando no 7 x 1. Também faltou experiência e muita calma na hora. 


Considera o Neymar um grande jogador da seleção?


Sim, o Neymar é um grande jogador. É um cara que sabe fazer gol, tem uma qualidade muito grande e vem se destacando ano após ano. Claro que tem alguns momentos difíceis, é normal, todos os jogadores enfrentam no decorrer da carreira. Ele é um jogador que ainda é importante para a seleção brasileira. Para conquistar o título de melhor do mundo, acho que sem dúvida ele tem que manter títulos e se destacar a cada jogo, assim como Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, que estão sempre em alta. Esse é o caminho, ele tem que ter sequência.


O futebol de hoje está diferente? Quais foram as principais transformações?


Mudou muito, hoje em dia a tecnologia ajuda bastante. O cuidado e a alimentação recebem uma preocupação maior atualmente. O futebol está mais veloz e os jogadores estão um pouco mais fortes e mais capacitados. Agora o Var, talvez teria que ser mais ou menos como é em outros esportes, como o tênis e vôlei, em que o time tem o direito de pedir uma análise de vídeo. Mas também acho que o Var ajuda a inibir as jogadas mais violentas que o juiz não vê. Por outro lado, acaba tirando a emoção do futebol. Seja no momento do gol, seja no instante em que o jogador sai pra comemorar e fica esperando por dois ou três minutos pra confirmar o gol. Isso deixa o esporte chato e tira o que sempre foi a emoção do futebol.


O time em que se encontra foi eliminado do Brasileirão série D. Qual foi o grande erro do clube e o que precisa para chegar a série A novamente?


Infelizmente, nós não fizemos uma boa partida. O adversário também teve o seu mérito. Eles souberam jogar e usaram uma estratégia melhor do que a nossa. Acho que o Brasiliense precisa de muita qualificação e de profissionais de alto nível para que possa voltar à série A. O que pode melhorar no time é qualificar cada vez mais o clube no geral e trazer material humano, que são jogadores competentes que estão acostumados a vencer e que assim possam crescer.

O Brasiliense será o seu último time antes de se aposentar?


Provavelmente será. O meu contrato termina em maio de 2020, vou estar com 42 anos e o cansaço mental já começa a pesar bastante. Fora que tem o desgaste e o estresse. Mas gosto de pensar em um dia após o outro. Hoje consigo me manter em forma, consigo correr bem com os mais jovens e isso me deixa tranquilo e feliz em saber que tenho ainda um pouquinho de lenha para queimar. Mas, com certeza, quando encerrar minha carreira como atleta, penso em fazer um curso de gestão esportiva e de treinador. 


História


Com carreira profissional iniciada em 1997, o esportista acumula diversos prêmios na trajetória. Já levou alguns títulos como melhor jogador. Entre eles, estão: Bola de Prata (2000), Bundesliga (2002 e 2004), MasterSix Bola de Ouro (2007), FifPro World XI (2010), Prêmio Futebol no Mundo (2010) e o último como melhor zagueiro no Campeonato Paulista (2014). 
 
Pelo Brasil, Lúcio teve passagens nos times de Planaltina, Gama e Internacional. E antes de ir para a Europa, foi convocado pelo então técnico Vanderlei Luxemburgo, em 2000, para disputar os jogos olímpicos de Sidney. Ao retornar, chamou a atenção do clube alemão Bayen de Leverkusen e foi contratado para integrar o elenco da época. Com boa atuação e conquistando diversos prêmios, o futebolista acabou indo parar na seleção. Ao lado de Ronaldo Fenômeno, Cafu, Roberto Carlos, Ronaldinho Gaúcho e entre outros, deu ao país o pentacampeonato no ano de 2002. 
 
Além de títulos individuais, Lúcio faturou uma Copa das Confederações, um Mundial de Clubes e a tão sonhada Champions League. 
O sucesso do jogador não parou e foi destaque em outros times da Europa, como Bayen de Munique, Inter de Milão e Juventus. Ao retornar ao Brasil, em 2013, Lúcio jogou em dois grandes clubes rivais, o Palmeiras e o São Paulo. No ano de 2015, foi para o futebol indiano atuar no FC Goa. Voltou novamente ao país de origem, em 2017, para o Gama-DF. Desde o ano passado, o atleta está no Brasiliense. 
 
* Estagiário sob a supervisão de Vinicius Nader