Futebol Nacional

CAMPEONATO BRASILEIRO

Segundo turno do Brasileirão tem 34 dias a menos do que o primeiro

Preparador físico do tetra mostra que calendário apertado do futebol brasileiro dura décadas; convocações da Seleção agravam problema

postado em 23/09/2019 14:27 / atualizado em 23/09/2019 15:24

<i>(Foto: Alexandre Vidal/Flamengo)</i>
O segundo turno do Campeonato Brasileiro 2019 revela os mesmos dramas dos áureos tempos do São Paulo de Telê Santana no início dos anos 1990: calendário extenuante. A segunda metade do Nacional deste ano terá 34 dias a menos do que a primeira. De 24 de abril a 15 de setembro, foram 113 dias de competição, descontando a pausa para a Copa América. Já do último sábado (21/9) a 8 de dezembro, os clubes da Série A terão 79 dias para disputar mais 19 rodadas. Sete delas no meio de semana!

Como se não bastasse o aperto na folhinha, convocações por atacado como as dessa semana das seleções principal, pré-olímpica e sub-17 abalam grandes e pequenos elencos da elite brasileira. A bagunça no calendário, porém, perpassa décadas e tem testemunhas oculares da história. Aos 68 anos, Moraci Sant’Anna, preparador físico da Seleção Brasileira na conquista do tetracampeonato na Copa de 1994, e do São Paulo do início da década de 1990, lembra em entrevista ao Correio o episódio em que avisou a Telê Santana para abrir mão de uma das três competições que o tricolor disputava no segundo semestre de 1992.

“Fizemos os testes de potência anaeróbia nos jogadores e o resultado deu muito abaixo. Achamos até que estava errado, mas fizemos outra vez e o resultado deu o mesmo. Então, convencemos o Telê de que tínhamos de abdicar de uma competição pelo risco de não aguentar”, conta Moraci. Entre o Campeonato Paulista, a Supercopa dos Campeões e a Copa Intercontinental — depois substituída pelo Mundial de Clubes —, a opção foi colocar a equipe reserva mesclada com jogadores do sub-20 no confronto das quartas de final do torneio continental.

Apesar da derrota em casa para o Olímpia no primeiro jogo, por 2 x 1, o São Paulo fez gol. Na volta, derrota por 1 x 0 no Defensores del Chaco. “A garotada queria mostrar serviço, e o Telê olhava para mim preocupado. Sofremos um gol de falta e nos olhamos aliviados”, conta Moraci, aos risos. “Como pode comemorar derrota?”, ironiza. A recompensa veio depois. Vitória sobre o Palmeiras no primeiro jogo do Paulista, viagem para Tóquio, no Japão, para jogar a Copa Intercontinental contra o Barcelona, e retorno ao Brasil com o título mundial nas mãos para voltar a enfrentar o arquirrival pelo estadual. “Valeu a pena”, diverte-se.
 

Mais causos de Moraci

Em 2013, como preparador físico do AthleticoPR, Moraci viveu outro caso emblemático. O presidente Mario Celso Petraglia não quis colocar a equipe principal para disputar o campeonato estadual com o objetivo de se sair bem no Campeonato Brasileiro daquele ano. O clube havia acabado de subir para a elite. “O início foi difícil. Tínhamos jogadores sem experiência de Série A e não fizemos muitos amistosos, mas fomos muito bem nas competições daquele ano por causa da falta de desgaste do início da temporada”, acredita . A equipe terminou como terceira colocada do Brasileiro, se classificando para a Libertadores, e chegou à final da Copa do Brasil contra o Flamengo, após ter eliminado Grêmio e Palmeiras no caminho.

Preparador físico do Brasil nas Copas de 1982, 1986, 1994 e 2006, Moraci avalia que os clubes com elencos mais qualificados devem sofrer menos na maratona do segundo turno. "A vantagem não é em relação ao maior elenco, mas sim ao mais qualificado, que tiver dois jogadores com mais ou menos o mesmo nível para a equipe não perder técnica nem taticamente quando precisar substituir os titulares”, aponta. O drama é que Flamengo, Corinthians, Atlético-MG e Grêmio estão envolvidos em competições continentais. Além da sobrecarga física, há a entrega e a pressão das partidas. “A tensão é um componente que aumenta o desgaste dos atletas. Por tudo isso, o risco de lesão aumenta”, crava Moraci.

Seleção Brasileira, outra vilã dos clubes? 


<i>(Foto: Lucas Figueiredo / CBF)</i>
Como se não bastasse o calendário achatado do segundo turno, as datas Fifa e a overdose de convocações para as seleções principal, pré-olímpica e sub-17 podem desequilibrar o Brasileirão. A lista tríplice apresentada na sexta-feira (20/9) arrancará jogadores de 11 dos 20 clubes da Série A para os amistosos de outubro. O Flamengo, por exemplo, ficará sem Gabriel Barbosa, artilheiro isolado da Série A com 16 gols no primeiro turno. Gabigol defenderá a seleção contra Senegal e Nigéria, em Singapura, com fuso horário de 11 horas à frente do Brasil.

Para driblar as cobranças da imprensa pelas baixas para os clubes brasileiros, Tite lembrou que havia tentado minimizar o prejuízo para as equipes nos amistosos contra Colômbia e Peru, nos Estados Unidos, em setembro. “Existe outro lado da questão, que é a convocação da Seleção Brasileira, que tem que entregar desempenho e resultado”, argumentou ontem, em entrevista coletiva na sede da CBF, no Rio. Nos amistosos anteriores, o treinador chamou seis atletas que atuam no país, evitando nomes que estavam na Copa do Brasil e na Libertadores.

Tite ainda alfinetou os presidentes dos times. “O calendário não é da CBF. É dos clubes também”, encerrou o comandante da Seleção Brasileira.