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MEMÓRIA

Saudades de Ferenc Puskas: 10 anos sem o Major Galopante da Hungria e do Real Madrid

O maior jogador húngaro e um dos mais brilhantes de todos os tempos morreu há uma década, mas até hoje é lembrado por comandar o ataque da seleção do país dele e do time espanhol, entre as décadas de 1950 e 1960

postado em 17/11/2016 06:00 / atualizado em 16/11/2016 20:24



Na madrugada de um 17 de novembro de 2006, há exatos 10 anos, morria em um hospital em Budapeste, na Hungria, uma das maiores lendas do futebol mundial: Ferenc Puskas. O craque, que faleceu aos 79 anos em consequência do mal de Alzheimer, com o qual convivia desde os 73, é considerado ainda hoje o maior esportista de seu país e o sexto melhor jogador de todos os tempos — segundo lista da IFFHS, entidade de história e estatística do futebol reconhecida pela FIFA. Líder da Seleção Húngara que encantou o mundo na década de 50, o Major Galopante, como era conhecido, formou, ao lado do argentino Di Stefano, um dos maiores ataques da história no Real Madrid entre os anos de 1958 e 1967.

Reprodução/Internet
 

De acordo com o IFFHS, os 512 gols de Puskas na carreira — anotados em apenas 528 partidas — fazem dele o terceiro maior artilheiro do século 20. Apenas pela Hungria, o craque tem a incrível marca de 84 gols em 85 jogos — Pelé marcou 95 em 114 partidas pela Seleção Brasileira. Pelo Real Madrid, o craque anotou 242 gols em 262 certames. Nascido em 2 de abril de 1927, o craque húngaro conheceu o futebol por meio do pai, Ferenc Puskas Sr., ex-jogador e que treinava Kispest Futebol Clube, time da periferia de Budapeste. O envolvimento com o esporte passou a ser inevitável.

Aos 16, ele estreou na equipe principal, ainda durante os tempos da Segunda Guerra Mundial. Um ano após o fim do conflito, em 1946, foi convocado pela primeira vez para a seleção nacional. A decisão do exército húngaro de, em 1949, ter seu próprio time de futebol, deu início aos tempos dourados do esporte no país. O Kispest, então, passou a se chamar Budapest Honvéd (Defensores da pátria).

Com o poder da instituição militar no regime comunista, a equipe logo se tornou a mais forte da Hungria, reunindo os melhores jogadores do país e criando um entrosamento quase perfeito entre eles. Puskas, Czibor, Budai e Kocsis — artilheiro do mundial de 1954 — formaram o núcleo da equipe conhecida como os Magiares Poderosos, pentacampeão húngaro no início da década de 1950, base da seleção que encantou o mundo no período.

A Máquina Magiar

Assim como o Carrossel Holandês de 1974 — de Johan Cruyff — e a Seleção Canarinho de 1982 — de Zico, Sócrates, Falcão e companhia —, a seleção húngara de Puskas encantou o mundo na década de 1950, mas se despediu da história sem o título do maior dos torneios. Com um esquema tático inovador para a época — o WM, precursor do 4-4-2 que daria o primeiro título mundial do Brasil em 1958 —, a equipe ficou conhecida como “a mais avassaladora das seleções”, devido ao poder de ataque fulminante. A média absurda de 5,4 gols por partida na Copa de 1954, na Suíça — 27 tentos anotados em cinco partidas, sendo quatro deles nas quartas de final contra o Brasil — é até hoje a maior da história da competição.

Reprodução/Internet
 

A Máquina Magiar, como ficou conhecida a seleção húngara do período, ficou invicta de 1950 a 1954. Dos 32 jogos disputados no período, 28 vitórias e apenas quatro empates. Em 1952, o time venceu todos os jogos das Olimpíadas de Helsinque e conquistou a primeira e única medalha de ouro da história do país na modalidade. No ano seguinte, fez os ingleses conhecerem a primeira derrota em casa contra times não-britânicos: 6 x 3. O fim sequência vitoriosa viria no pior momento possível: diante dos alemães ocidentais, na final do Mundial de 1954, por 3 x 2, no que ficou conhecido como o Milagre de Berna. Puskas, mesmo machucado, marcou um dos gols húngaros daquela decisão.

Dois anos depois da triste derrota no Mundial, no entanto, tudo mudou — para pior — no futebol húngaro. Com a Revolução Comunista na Hungria, em 1956, Puskas e vários outros jogadores decidiram deixar o país. Em situação irregular pela Fifa, o craque ficou sem jogar profissionalmente por longos quatro anos, quando decidiu se mudar para a Espanha e retomar a carreira.

Lá, Puskas se juntou a Di Stefano e companhia para formar a primeira equipe galática do Real Madrid, com um dos ataques mais fantásticos que o mundo do futebol já viu. Em nove anos com os merengues, o Major Galopante conquistou cinco vezes a Liga Espanhola (1961, 1962, 1963, 1964 e 1965), três Ligas dos Campeões (1958, 1959 e 1960) e um Mundial Interclubes (1960).

No início da década de 1960, Puskas naturalizou-se espanhol para disputar a Copa daquele ano pela Fúria. Com isso, entrou para a seleta lista de seis atletas que disputaram mundiais por seleções diferentes. Na competição, no entanto, acabou eliminado pelos brasileiros — bicampeões mundiais no Chile — logo na primeira fase.

Prêmio

Em outubro de 2009, quase três anos após sua morte, o então presidente da Fifa, Joseph Blatter, resolveu criar o Fifa Puskas Award — ou Prêmio Puskas — para eleger o gol mais bonito do ano. “É importante preservar a memória dos grandes jogadores que marcaram a nossa história. Ferenc Puskas não só foi um atleta com grande talento que conquistou muitas honras, mas também foi um homem notável”, destacou Blatter na inauguração do prêmio, em 20 de outubro daquele ano, em Budapeste.

Fifa/Divulgação
 

O primeiro vencedor do prêmio foi o português Cristiano Ronaldo, autor de um belo chute de longe pelo Manchester United contra o Porto, nas quartas de final da Liga dos Campeões de 2008-09. O troféu também já foi concedido a dois brasileiros: Neymar, em 2011 — pelo golaço marcado diante do Flamengo, na Vila Belmiro, ainda nos tempos de Santos — e Wendell Lira, no ano passado — pelo voleio a favor do Goianésia diante do Atlético-GO, no Campeonato Goiano.

 

* Estagiário sob a supervisão de Leonardo Meireles