O futuro do esporte paralímpico americano esteve concentrado em São Paulo. Apenas seis meses após o Rio de Janeiro sediar as Paralimpíadas 2016 – as primeiras da América do Sul –, outra metrópole brasileira recebeu mais um grande evento do movimento paralímpico, desta vez, ligado a promessas de 13 a 21 anos de 20 países, que disputaram os Jogos Parapan-Americanos de Jovens. O evento composto por 12 modalidades representou também a oportunidade de estreitar laços com países vizinhos, especialmente os latinos. A aposta é que o desenvolvimento dos "hermanos" eleva o nível dos brasileiros.
”Quando podemos cooperar com esses países e eles trazem atletas de melhor nível para competir conosco, isso beneficia os nossos atletas”, avalia Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). O que refletiria em Jogos Parapan-Americanos, Sul-Americanos, Parapan juvenil mais competitivos. Para Parsons, até o Circuito Caixa, principal campeonato nacional, colheria frutos positivos, já que atrai vários competidores de nações latinas.
E a estratégia não se limita às trocas de experiências e conhecimentos somente durante as competições. No embalo do Parapan-Americano de Jovens, o Comitê Paralímpico Brasileiro assinou um acordo de parceria com os Comitês Paralímpicos de Chile, Equador e Peru com o intuito de estabelecer uma troca de informações técnicas e conhecimento organizacional. Na prática, técnicos, classificadores e oficiais técnicos do Brasil oferecerão treinamento com profissionais dos países envolvidos.
“Que bom que o Parapan de jovens está sendo no Brasil e que os países da América conseguiram enviar atletas. O nosso país vive uma crise e seria bem mais difícil se só houvesse competição na Europa, por exemplo”, comenta Yohansson Nascimento, campeão paralímpico de atletismo em Londres-2012. Portanto, fortalecer torneios na América pode refletir na diminuição da necessidade de levar os competidores brasileiros para Europa, Oriente, Estados Unidos ou Canadá com objetivo de intensificar a preparação. “No movimento paralímpico, ninguém cresce sozinho, ninguém vence sozinho”, resume Verônica Hipólito, medalhista de prata no atletismo na Paralimpíada do Rio-2016.
O Parapan-Americano de Jovens chega à quarta edição com participação recorde de atletas na primeira vez que o Brasil recebe o evento: 800 no total de 20 países diferentes. Um aumento considerável em relação à última edição, há quatro anos, em Buenos Aires, na Argentina, quando competiram 631 atletas de 16 países. Que, por sua vez, atraiu mais nações do que os dois primeiros eventos: em 2009, o Parapan de Bogotá, Colômbia, contou com 14 países; e o evento de Barquisimeto, Venezuela, com dez países.
Para o presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), Philip Craven, os Jogos Paralímpicos são a vitrine do movimento paralímpico. “Mas o coração é realmente em competições de jovens talentos”, pondera. “Ouve-se que as Américas vão crescer nos próximos Jogos Paralímpicos. A maneira que todas as nações se reuniram nos eventos recentes realizados no continente e trabalham juntas é a mensagem do movimento paralímpico.”
Americanos nas Paralimpíadas
Crescimento semelhante foi visto na participação entre os representantes americanos nos Jogos Paralímpicos, principal competição multiesportiva do movimento. Com toda a repercussão de um país americano sediar o evento, os Jogos do Rio-2016 contaram com participação recorde de 1.013 atletas. Maior do que em Londres-2016, quando 804 americanos disputaram; e do que em Pequim-2008, que levou 751 competidores das Américas ao evento.
O aumento quantitativo acaba se refletindo também no número de vezes que a bandeira de um país do continente americano é hasteada a cada ocasião em que um representante sobe ao pódio. Embora a conquista de medalhas entre atletas americanos tenha caído de 238 nos Jogos Paralímpicos de Pequim-2008 para 221 nos Jogos de Londres-2012.
Quatro anos mais tarde, na Rio-2016, o salto de rendimento seria mais expressivo: 274 medalhas de países americanos. “O recorde de atletas e nações participantes enfatiza o desenvolvimento do esporte paralímpico nas Américas e, especialmente, no Brasil nos últimos dez anos”, ressalta Philip Craven, presidente do Comitê Paralímpico Internacional.
Salto de rendimento brasileiro neste século
Neste século, o Brasil apresentou um salto de rendimento no esporte paralímpico. Nas Paralimpíadas de Sydney-2000, levou 22 medalhas, terminando na 24ª colocação geral no quadro de medalhas. Foi a partir de 2001 que o movimento paralímpico passou a receber verba pública prevista pela Lei N° 10.264, conhecida como Lei Agnelo/Piva, por meio do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Nos Jogos de Atenas-2004, o Brasil alcançou o 14º lugar no quadro de medalhas, após ter subido 33 vezes ao pódio.
No meio deste processo, o Brasil sediou os Jogos Parapan-Americanos do Rio-2007 antes dos Jogos Paralímpicos também no Rio, no ano passado. Tudo colaborou para que o país entrasse no top-10 nas Paralimpíadas de Pequim-2008, na nona colocação, e saltasse mais duas posições nos Jogos de Londres-2012. Para o evento sediado “em casa”, a meta de chegar ao top-5 não foi alcançada. Ainda assim, se tornou uma potência na América do Sul. Agora, para crescer mais, entende que depende do desenvolvimento dos vizinhos.