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ESPORTE PARALÍMPICO

Time de rúgbi em cadeira de rodas do DF disputará a Copa do Brasil

O time dos Lobos Vermelhos se prepara para estrear em novembro. Mas faz o convite para interessados em praticar

postado em 03/09/2017 09:17 / atualizado em 03/09/2017 10:24

 
A velocidade com que as cadeiras de rodas se movem e o barulho que ecoa quando se chocam chamam a atenção de quem assiste aos treinos do time de rúgbi Lobos Vermelhos. A modalidade, que ainda inicia o sucesso no Brasil, parece bruta demais para quem se locomove de cadeira de rodas. Para Jairo André da Conceição, de 30 anos, o esporte não tem nada de violento. Na verdade, significa um novo jeito de viver.

Ele é um dos atletas que entraram recentemente na equipe. Começou no início de 2016, quando um médico do Hospital Sarah Kubitschek apresentou para ele o esporte. Jairo ficou paraplégico em 2012, depois de ser atingido por nove tiros. “Levei os tiros por conta de coisas erradas que eu mexia antigamente, mas Deus permitiu que eu vivesse para mostrar que é possível mudar de vida”, afirma.

Cada um na equipe Lobos Vermelhos tem uma história para contar. Mas, agora, os brasilienses querem fazer história no esporte que escolheram, o rúgbi. Por isso, eles se preparam para a disputa da Copa Brasil, em novembro. Em julho, foram vice-campeões da segunda divisão do Campeonato Brasileiro. O grupo, atualmente com 16 atletas, começou a treinar em 2013. Dois anos depois, formaram uma equipe filiada à Associação Brasileira de Rúgbi em Cadeiras de Roda (ABRC). 

O ponto de partida para a criação do Lobos surgiu do desejo de alguns atletas do BSB Quad, clube do Gama, terem um local mais central para treinar. A Associação de Centro de Treinamento de Educação Física Especial (Cetefe), que trabalha a inclusão social de pessoas com deficiências, abraçou a ideia. Eles começaram a treinar, ainda ligados ao BSB Quad, no ginásio da Escola Nacional de Administração Pública (Enap). A primeira participação em competições veio em abril de 2014. 

Wesclei Alves, de 35 anos, lembra da época de muito esforço para a equipe. Ele é um dos atletas que está desde o início. Apelidado de Macarrão pelos colegas, também tem sua história: ficou tetraplégico depois de mergulhar em uma piscina rasa, bater a cabeça no fundo e fraturar a sétima vértebra cervical. Na época, o servidor público do Ministério da Fazenda tinha apenas 17 anos. “Foi bem complicado. Fiquei um tempo parado com os estudos. Depois, comecei a fazer fisioterapia, voltei a estudar e trabalhar. Hoje, dirijo, faço faculdade e esporte, que é muito importante para mim”, conta.  

Recuperação

O esporte ajudou na recuperação física e mental de Jairo e dos demais 13 homens e duas mulheres que formam o time. Depois de perder os movimentos das pernas, ele ficou dois anos sem sair de casa. O morador do Paranoá tinha uma vida esportiva ativa. Praticava vôlei, corria e brincava de tênis de mesa. Mas, após ter ficado paraplégico, desistiu de tudo. Até que conheceu o rúgbi em cadeira de rodas.

“Eu vim, fui conhecendo os meninos e treinando até saber se eu era elegível ou não para o esporte”, diz. A vontade voltou com tudo. Decidiu retomar os estudos, que tinha largado em 2008, e agora cursa o oitavo ano do ensino fundamental. “Isso aqui tem me ajudado muito. Não preciso andar para ser feliz. A vida da gente tem que seguir. Isso é o que o esporte tem me mostrado”, comenta Jairo. Tudo tem dado certo: ele e o companheiro de equipe Raphael Lucena já foram até convocados para a Seleção Brasileira da modalidade. 

A equipe começou a competir com o nome Lobos Vermelhos em fevereiro de 2015. O primeiro título veio no ano seguinte, quando o time se sagrou campeão da 2ª Copa de Bebedouro de Rúgbi em Cadeira de Rodas da segunda divisão. Este ano, assim como em 2016, o time conseguiu o vice-campeonato no Campeonato Brasileiro da segunda divisão e obteve o acesso para disputar a primeira. No elenco, 14 tetraplégicos e 2 paraplégicos — somente paraplégicos com lesões em três membros podem participar do campeonato. Eles treinam às terças e às quintas-feiras, das 19h às 21h30, e aos sábados, das 15h às 18h, no ginásio da Escola Nacional de Administração Pública. E o time convida: os encontros são abertos aos interessados em praticar o esporte.
 

Cooperação é a palavra

Luis Nova/Esp. CB/D.A Press
Algumas cadeiras usadas são remanescentes de um projeto iniciado em 2010 pela Associação Brasileira de Rúgbi em Cadeiras de Rodas (ABRC) e duas associações do DF. Por causa dos choques tão comuns, o equipamento quebra bastante. “Tanto que eu já aprendi a arrumá-las, consertar os pneus”, explica Paulo Higino, coordenador do time e irmão de José Higino, atleta que representou o Brasil na Paralimpíada Rio-2016. 

Cada cadeira custa entre R$ 6 mil e R$ 8 mil. As importadas, com mais qualidade, chegam a R$ 30 mil. Recentemente, o time passou a contar com o apoio da Faculdade Unyleya, que forneceu os uniformes de treino, passeio e jogo. Também recebeu ajuda do GDF para as viagens das quatro competições deste ano. 

“Conseguimos sensibilizar a diretoria no ano passado, a partir da Paralimpíada Rio-2016, de que seria interessante esse apoio”, comenta Guilherme Pessina, diretor de marketing da instituição de ensino. A faculdade também atua junto à Cetefe para receber e incluir os deficientes no mercado de trabalho, assim como distribuir bolsas de estudo.
  

Há quase 50 anos

O rúgbi em cadeiras de rodas surgiu no Canadá, em 1970, desenvolvido por atletas tetraplégicos. A modalidade entrou nos Jogos Paralímpicos de Atlanta-1996, como esporte demonstração. Os Estados Unidos ficaram com a medalha de ouro em duas oportunidades. A Austrália também foi campeã paralímpica duas vezes. E a Nova Zelândia, com uma conquista, completa a lista.

A modalidade é jogada por dois times de quatro atletas cada um, com oito reservas. O objetivo é passar da linha do gol com as duas rodas da cadeira e a bola nas mãos. Os jogos ocorrem em quadras de 15m de largura por 28m de comprimento e têm quatro períodos de oito minutos. O esporte tem sete classes funcionais: 0.5, 1.0, 1.5, 2.0, 2.5, 3.0 e 3.5. A soma dessas pontuações não pode passar de 8 em cada time.
 
 
* Estagiário sob a supervisão de Leonardo Meireles