Vencer a eleição de capoeirista mais completo do mundo é o desafio de um brasiliense que representará a capital em uma competição mundial. Aos 38 anos, o professor de capoeira Marcelo Quaranta busca incorporar o título ao currículo na próxima terça-feira (27/2). O primeiro passo é a disputa da primeira etapa do campeonato Red Bull Paranauê, em Salvador. Na fase inicial, ele e mais 29 atletas de todo o planeta disputam duas vagas na final.
Marcelo é o único atleta de Brasília que competirá na segunda edição do torneio. Como reside fora do país há 16 anos, ele se junta a outros 15 brasileiros na categoria mundo. Apesar da forte concorrência, o atleta garante que não está nervoso. “Tenho de fazer o que estou acostumado a fazer. Vejo como uma oportunidade para aprender e treinar”, ressalta. Para ser campeão, a competição exige que o competidor tenha conhecimento em três estilos de capoeira: Angola, regional e contemporânea.
O estilo preferido de Marcelo é o regional, mas ele acredita que pode se sair bem nos outros segmentos graças à experiência na modalidade. Com 28 anos de prática de capoeira e prestes a ser nomeado mestre da arte marcial, ele acredita que a oportunidade veio em boa hora. “No ano passado, não participei por conta da situação financeira. As passagens estavam muito caras e fiquei sabendo tarde. Neste ano, tive tempo para me programar”.
A história com a capoeira começou nas quadras de Brasília aos 10 anos de idade. “Eu e meus irmãos brincávamos muito embaixo dos blocos da Asa Sul e ouvimos a música de uma exibição de capoeira”, relembra. Bastou uma aula experimental para que Marcelo deixasse o judô e migrasse para a arte marcial de origem africana. Com os três irmãos, ele começou a praticar a modalidade. “O que me chamou a atenção foi a união entre a música e a luta. Havia dias em que a aula era puxada para a parte da luta e outros, para a dança”, comenta.
Na Europa
Hoje, Marcelo e os dois irmãos, Leonardo e André Luiz, continuam envolvidos com a capoeira. A irmã, Alessandra, foi a única que largou a arte marcial. Leonardo mora no Brasil e é o responsável pela academia da família, Aruê Capoeira. Já Marcelo e André moram fora do país. Em 2002, Marcelo se mudou para Madrid para divulgar a modalidade na Espanha. “Viajei para uma temporada de seis meses e acabei ficando”. Atualmente, ele dá aulas em escolas e academias e garante que a maioria dos alunos é espanhol.
O brasileiro chegou a abrir um espaço próprio, mas com a crise e a saída de alguns alunos precisou fechar o estabelecimento. A saída foi voltar a dar aulas em academias, universidades e escolas. Marcelo vê a arte marcial bem aceita na Europa. “Antigamente, os pais não conheciam a capoeira e davam valor a esportes mais tradicionais. Hoje, tem gente que vive na Espanha só de aula de capoeira infantil. Tenho alunos de 4 a 50 anos”, conta.
Para ele, a modalidade se adapta às peculiaridades regionais ao redor do mundo. “A capoeira se comporta de acordo com a cultura do país em que é praticada. No Brasil, sofreu algumas mudanças, mas a didática é a mesma em todo lugar.”
Red Bull Paranauê
A segunda edição da competição destinada a capoeiristas de todo o mundo acontece a partir da próxima segunda-feira, em Salvador, na Bahia. Neste ano, mais de 500 capoeiristas foram inscritos no torneio que conta com três mestres como jurados. Eles avaliam o jogo entre os atletas e escolhem quem avança de fase. O campeão da primeira edição foi o soteropolitano Lucas Dias “Ratto”. Em 2018, as mulheres ganharam uma categoria exclusiva.
Para saber mais
Entenda os três estilos básicos de capoeira:
Angola – é o estilo mais tradicional e lento, apresentando golpes e movimentos acrobáticos.
Regional – derivada da tradicional angolana, apresenta golpes mais altos e maior velocidade. É jogada predominantemente na vertical, exigindo reflexos apurados.
Contemporânea – jogada de forma mais livre, é a evolução e a mistura dos outros estilos, com maior diversidade de instrumentos na parte musical.