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ENTREVISTA

Zanetti quer se aposentar nas Olimpíadas 2020 com recorde; veja entrevista

Campeão olímpico, Arthur Zanetti almeja ser o primeiro ginasta a ganhar três medalhas nas argolas antes de encerrar a carreira

postado em 28/12/2018 08:00 / atualizado em 27/12/2018 18:59

Minas Panagiotakis/Getty Images/AFP


Rio de Janeiro —
Há um semblante em Arthur Zanetti difícil de notar quando um atleta fala de aposentadoria. A serenidade ao dizer que planeja se despedir da ginástica após os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 é a mesma que demonstra nas argolas para se manter entre os melhores do mundo nos últimos oito anos. O foco, ao contar ao Correio que almeja dar adeus à carreira como o primeiro ginasta na história a conquistar três medalhas olímpicas na prova em que é especialista, também é visto nas competições. O único brasileiro campeão olímpico na ginástica artística, nos Jogos de Londres-2012, e dono da prata na Rio-2016 precisa desafiar uma média de idade cruel na ginástica — os competidores homens das Olimpíadas carioca, por exemplo, tinham em média 23,4 anos. Aos 28 anos, porém, Zanetti voltou a subir ao pódio em Campeonatos Mundiais após ter ficado em sétimo no ano passado. Em 2018, o paulista de 1,56m e 63kg se recuperou de uma lesão no bíceps do braço direito a tempo de disputar o Mundial de Doha, no Catar, e voltou a incendiar a rivalidade contra o veterano Eleftherios Petrounias, também com 28. O grego e atual campeão olímpico venceu o mundial com apenas 266 centésimos a mais do que o brasileiro, que ficou com a prata com 15,100 pontos. Veja a entrevista com Zanetti após um ano em que também se casou e montou a primeira academia.


Você conquistou um ouro na sua primeira Olimpíada, em Londres-2012, e uma prata na segunda, no Rio-2016. Como compara esses dois ciclos olímpicos com o atual?
Vejo um atleta totalmente diferente do primeiro ciclo olímpico para o terceiro. Antes, tínhamos que mostrar para o pessoal. Conseguimos trazer um resultado ótimo para o Brasil e, a partir dali, me falaram que eu não precisava provar mais nada para ninguém. Mas a vontade de querer continuar dando resultado fez com que conseguíssemos trazer mais um resultado no Rio. Neste terceiro ciclo, a motivação é mais pessoal: se eu conseguir mais uma medalha nas Olimpíadas de Tóquio, serei o primeiro ginasta a ter três medalhas olímpicas nas argolas. Então, realizaria um feito não só para a ginástica brasileira, mas também em âmbito mundial. Tenho esse objetivo que está me motivando para ir ao ginásio treinar e conseguir esse resultado.

Qual a responsabilidade sobre você após a conquista do ouro olímpico em Londres-2012? 
A pressão aumentou muito devido à expectativa que se cria, ainda mais depois de um ouro, porque o povo brasileiro só quer o ouro. E, por ser uma Olimpíada em casa, o país parou e focou no esporte. Isso aumentou muito a pressão sobre os atletas, principalmente para aqueles que eram medalhistas. O pessoal falava que eu não precisava provar nada para ninguém, mas eu achava que devia, por ser uma Olimpíada em casa. Queria mostrar que conseguíamos segurar a pressão e dar resultado. Após 2016, é tudo satisfação pessoal.

A aposentadoria em 2020 é certa?
Sim, este é meu último ciclo olímpico. Não me enxergo fazendo outro. Pode ser que aconteça uma reviravolta e tenhamos que segurar mais um período, mas estou abrindo meus negócios para encerrar minha carreira em 2020 e seguir minha vida fora da ginástica como atleta, mas ainda no meio esportivo.

Quais são os planos para depois da aposentadoria como atleta? 
Eu me formei em educação física em 2016 e, neste mês, abri minha academia de cross em São Bernardo do Campo, perto de casa. Este é o meu plano. Por enquanto, é uma academia muito jovem, mas que tem como projeção bater 250 a 300 alunos.

Thomas COEX/AFP
Como você enxerga a rivalidade entre você e o grego Eleftherios Petrounias? 
Hoje, o esporte virou um show. Antigamente, nós entrávamos no ginásio todos perfiladinhos com as luzes acesas. Hoje, não. Colocam música e tem jogo de luzes. Olimpíada e Campeonato Mundial viraram um espetáculo. As pessoas vão para ver algo grandioso e, quando tem essa disputa como eu contra o Petrounias, todo mundo quer ver a final, porque, se tiver um vacilo de um, o outro ganha e vice-versa. Isso eleva a ansiedade do público para ir assistir e prestigiar, não só as argolas, mas a ginástica como um todo.

E como é a relação entre vocês dois?
Claro que eu quero ganhar dele e ele de mim e vamos fazer nosso máximo. Mas somos amigos fora da competição. O cara com quem eu mais converso é ele, mas conversamos mais só quando nos encontramos nas finais mesmo. Eu evoluí muito a minha ginástica por causa dele e ele disse que também evoluiu por minha causa. O esporte de alto rendimento é um tentando fazer um detalhe diferente para conseguir levar o melhor resultado. É uma rivalidade boa, que me motiva bastante a continuar treinando para dar o melhor resultado ao Brasil.

Em 2018 você voltou a subir ao pódio em Mundiais após um jejum de dois anos. Como foi viver isso na edição de Doha, no Catar?
Este ano foi bem atípico mesmo, porque antes do Mundial eu tive uma lesão no bíceps. E, desde que eu estou na Seleção adulta, isso nunca aconteceu comigo. Então tive de parar um tempo para recuperar, voltei aos treinos, fui para o Mundial e consegui o resultado. Foi um ano difícil, mas bem prazeroso. Fora 2012, é o ano mais especial para mim, pelas conquistas profissionais e pessoais. Voltei ao pódio, casei e montei minha academia.

Sobre a tão sonhada Olimpíada em casa, deu para você curtir os Jogos do Rio? 
Por ter sido no Rio, deu para curtir depois que acabou a minha prova. Nos Jogos de Londres, eu fui embora para casa no dia seguinte que acabou a minha participação. Então, não consegui ver nenhum esporte, nem aproveitar nada da cidade. No Rio, acabou minha final, fiquei mais cinco dias. Consegui ver outros esportes e ainda curtir o clima olímpico, além de comemorar a minha conquista da prata.

Ricardo Bufolin / CBG
Antes das Olimpíadas do Rio, você disse que seu objetivo era ajudar a ginástica brasileira masculina a se classificar por equipe. O que mudou depois dessa vaga?
O objetivo principal até 2016 foi essa vaga tão esperada pela equipe masculina. Foi maravilhoso conseguir levar um maior número de atletas e vimos o Brasil conquistar três medalhas. Então, não adianta ficar só pensando individualmente. Pensamos na equipe e conseguimos trazer muito mais resultados do que esperávamos. Vimos que o negócio é focar na equipe e, quando chegar na hora da competição principal, montar uma equipe para trazer o melhor resultado possível. Hoje, vemos que o conjunto faz com que o nível da ginástica cresça.

Então a primeira vaga olímpica da equipe masculina mudou a estratégia da ginástica no Brasil? 
Sim, com certeza. Hoje, podemos dizer que nosso principal objetivo é a equipe. Não importa qual seja a competição, o principal objetivo é a competição de equipes, é levar uma equipe boa e não só pensar em um atleta específico, como antigamente se fazia. Depois que mudou o ciclo, tudo o que falamos é pensando na equipe.

Há sucessores consolidados desta geração de ginastas brasileiros que conquistaram medalhas olímpicas e mundiais? 
Há talentos surgindo. O Diogo Soares (16 anos) é um dos grandes nomes para substituir boa parte dos ginastas de hoje. Eu não posso dizer pelos outros, mas provavelmente continue a equipe que esteve em 2016 até 2020, mas depois eu vou me aposentar. O Chico Barreto talvez esteja pensando na aposentadoria também. O Arthur Nory ainda não. Ele consegue levar mais um ciclo, mas precisa haver essa renovação, e o Diogo é um deles. O Murilo Miguel (16 anos), que também é de São Caetano, é um que está sempre no bolo, em primeiro e segundo. Acredito que será essa nova geração que vai nos substituir. E também tem de colocar na cabeça deles que o objetivo é a equipe.

A repórter viajou a convite do COB