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Conheça treinos adaptados longe da neve para amantes do inverno

A delegação brasileira é figurante histórica nas olimpíadas no gelo, mas o sonho de um dia subir ao pódio não chega a ser impossível. Algumas modalidades alimentam essa esperança porque possibilitam treinos longe da neve

postado em 08/02/2014 16:36 / atualizado em 08/02/2014 16:42

Maíra Nunes - Especial para o Correio


É difícil imaginar um campeão olímpico dos Jogos de Inverno nascido num país em que o calor e o futebol são cartões-postais para o resto do mundo. O fato, por sinal, de o Brasil ter levado 13 atletas para as Olimpíadas de Sochi, cuja abertura ocorreu ontem, já foi muito comemorado, pois representa a maior delegação brasileira na história da competição. Apesar de distante, o sonho de subir ao pódio não é necessariamente impossível nem implica ter que se mudar para outro país — apenas passar temporadas fora. Algumas modalidades permitem que se treine a maior parte do ano longe da neve. São nesses esportes que o Brasil tem maiores chances de desenvolver um campeão de inverno, mesmo que se leve um bom tempo.

A brasiliense de Sobradinho Gabriela Neres, 17 anos, pratica esqui cross country e biatlo. A parte do ano que passa em Brasília, a atleta dedica aos treinamentos físicos, que independem da proximidade com a neve. Para não perder a técnica de ambas as modalidades, ela usa o rollerski, um esqui adaptado com rodinhas na frente e atrás. Com o equipamento, consegue simular bem o movimento realizado com o esqui tradicional e tem rápida adaptação quando chega à neve.

Assim como os esportes praticados pela brasiliense, o snowboard demanda muita resistência do corpo. “Podemos fazer todo o treino físico no Brasil, já que não precisa de neve”, conta a pentacampeã sul-americana da modalidade, a brasileira Isabel Clark, de 37 anos, a mais experiente do país nas disputas em Sochi. Ela se aproveita dessa característica para passar cerca de cinco meses em casa, dedicando-se somente aos exercícios.

Apesar de os treinos técnicos de Isabel serem fora do país, há um centro de treinamento em São Roque (SP) com rampas artificiais que permitem a prática no Brasil. “Também é possível utilizar outros esportes de prancha para manter a base, mesmo não substituindo o snowboard”, comenta.

Espaços adaptados
Além do centro de treinamento em São Roque (SP) para modalidade no gelo, Gramado (RS) tem um parque indoor com neve. O espaço contribui para despertar o interesse do brasileiro pelo esporte. “O primeiro passo é aprender e gostar”, diz a pentacampeã sul-americana de snowboard Isabel Clark. Ela trabalhou como instrutora da prática no início da carreira de atleta. Assim, teve a oportunidade de se aperfeiçoar. “Isso ajudou bastante o meu desenvolvimento no esporte em uma fase que não contava com muito apoio”, explica.

Entre as modalidades em que se vislumbra uma chance de o Brasil desenvolver um campeão, está o esqui aéreo. Nele, o atleta desliza pelas montanhas de neve com esquis e precisa realizar saltos e manobras em determinados pontos do percurso. O esporte que atraiu a atenção da ex-ginasta Laís Souza — internada nos Estados Unidos em recuperação de um grave acidente — também possibilita o treino durante grande parte do ano longe das superfícies geladas. As acrobacias são feitas em uma cama elástica, e o contato com o esqui ocorre em rampas artificiais, que no Brasil estão situadas em Gramado e em São Roque. O maior desafio para quem faz o treino adaptado é a aterrissagem, que geralmente é praticada apenas na neve.

Depois de aprimorar a técnica, o Campeonato Brasileiro surge como o primeiro desafio para se profissionalizar e, dependendo dos resultados, conseguir apoio da Confederação Brasileira de Desporto na Neve (CBDN), que organiza treinos no exterior. “Não é de um dia para outro que tudo acontece, é um processo de muitos anos”, pondera Isabel Clark. E bota tempo nisso. São programas de longo prazo, que envolvem não só a parte técnica de desenvolvimento do esporte, mas as áreas de gestão, comunicação e marketing. “Leva pelo menos de quatro a cinco ciclos olímpicos (16 a 20 anos)”, estima o superintendente técnico da CBDN, Pedro Cavazzoni.