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ESPECIAL JOAQUIM CRUZ

Ex-campeões dizem que foco deve ser base

Treinadores e ex-corredores apontam a carência de projetos esportivos na escola como a principal razão da falta de uma equipe forte no atletismo brasileiro

postado em 05/08/2014 10:44 / atualizado em 06/08/2014 11:25

Gustavo Marcondes /Correio Braziliense , Lorrane Melo /Correio Braziliense

Edilson Rodrigues/CB/D.A Press

Trinta anos depois do maior feito do atletismo de pista do Brasil, a medalha de ouro de Joaquim Cruz nos Jogos de Los Angeles-1984, o país praticamente não evoluiu na forma como descobre os talentos. Até hoje, o esporte depende de fenômenos isolados para conseguir resultados expressivos na modalidade. Foi assim com o meio-fundista brasiliense, há três décadas, foi assim com a saltadora Fabiana Murer, campeã mundial em 2011. Apesar de indícios de mudança no ar, com maior estrutura de pistas, equipamentos e competições, não há um sistema em funcionamento pleno que permita a revelação dos atletas desde a base.

A iniciação esportiva na escola é apontada por quem trabalha na área como o passo fundamental para o Brasil ter um atletismo realmente forte. E os projetos de evolução nesse sentido ainda engatinham no país (leia ao lado). "Hoje, está pior do que na minha época. Nos anos 1970, a educação física era, ao menos, em um turno separado. Agora, nem isso. Não há oportunidade de desenvolvimento esportivo", analisa um Joaquim Cruz indignado.

A opinião dele é compartilhada por outros ex-atletas, treinadores e dirigentes. "Os atletas ainda são descobertos da mesma forma que ocorreu com o Joaquim ou comigo: um treinador percebe o talento e consegue estimular o desenvolvimento. Imagina quantos campeões são perdidos dessa forma", questiona o tricampeão pan-americano Hudson de Souza.

O caminho ideal apontado pelos especialistas é claro: o primeiro passo é o país ter uma grande base de estudantes do ensino básico que pratiquem esporte; os professores de educação física devem ser capacitados a reconhecer bons desempenhos, por meio das competições estudantis, além de receberem uma boa remuneração; na adolescência, os mais talentosos são encaminhados a clubes ou projetos comunitários específicos da modalidades; e, só então, após uma ampla preparação, os atletas devem tornar-se profissionais.

"Não é milagre, não é segredo. Um clube tem, no máximo, 100 atletas. Enquanto isso, há milhões de talentos desperdiçados anualmente. Não existe educação física obrigatória nas escolas nem as condições ideais para treinamento", critica Roberto Gesta, que presidiu a Confederação Brasileira de Atletismo por 25 anos (1987-2013), período em que o Brasil não conseguiu repetir o feito de Joaquim Cruz na pista.