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ESPECIAL JOAQUIM CRUZ

Projetos para o atletismo no Brasil são incipientes e vão demorar a dar resultado

Mudanças no atletismo brasileiro estão na fase inicial de implementação. Para os Jogos do Rio, em 2016, há pouca expectativa de medalhas

postado em 06/08/2014 11:05 / atualizado em 06/08/2014 11:25

Gustavo Marcondes /Correio Braziliense , Lorrane Melo /Correio Braziliense

Carlos Vieira/CB/D.A Press

Completam-se hoje 30 anos da medalha de ouro de Joaquim Cruz nos 800m rasos das Olimpíadas de 1984, em Los Angeles. Um feito histórico, nunca repetido em provas de pista, que escancara o atraso do Brasil na formação de atletas no principal esporte olímpico, o atletismo. Daqui a dois anos, o país recebe os Jogos em casa, no Rio de Janeiro, e a esperança de que esse longo jejum acabe é praticamente nula.

Na última reportagem da série sobre a conquista do meio-fundista nascido em Taguatinga, o Correio mostra que o país passa por mudanças na forma como se trabalha o atletismo, mas que as ações são incipientes. Tanto o governo federal, principalmente por meio do Ministério do Esporte, quanto a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) começaram, recentemente, projetos que visam dar mais estrutura ao esporte. Essas iniciativas, contudo, vieram na esteira da preparação para o Rio-2016. Ou seja, levarão tempo para dar resultados efetivos.

“Não será nesta geração (2016) que teremos medalhistas produzidos pelo trabalho que está sendo realizado”, opina Robson Caetano, bronze olímpico em Seul-1988 e em Atlanta-1996. Para o ex-atleta, as provas individuais de pista, como a de Joaquim Cruz, devem levar ainda mais tempo para ter atletas entre os melhores do mundo. “Havia falta de interesse em trabalhar esse tipo de corredor. São muito detalhes, e não houve renovação (depois da geração vencedora dos anos 1980 e 1990)”, analisa.

A CBAt evita até falar em medalhas nos Jogos do Rio-2016, traçando como meta a obtenção de 12 finais. Em Londres-2012, o país deixou as Olimpíadas sem conquistas e com apenas três finais — só uma em provas de pista (revezamento 4x100m feminino), não incluindo a maratona e a marcha atlética.

No Mundial de Moscou, no ano passado, mais um fiasco. Foram seis finais e nenhum pódio. Na prova em que o país teve chance real de medalha, o revezamento feminino 4 x100m, as brasileiras deixaram o bastão cair na última passagem. A maratona e o decatlo, que não têm finais, garantiram bons resultados, mas sem pódio.

Jogos do Rio
Em 2016, o revezamento feminino e a maratona são praticamente as únicas opções de conquista na pista para o atletismo brasileiro. Outras esperanças são concentradas nas provas de campo, como Fabiana Murer (salto com vara), Mauro Vinícius (salto em distância) e Fábio Gomes (salto com vara). Nenhum deles, porém, chegará como favorito.

Presidente da CBAt por 25 anos, de 1977 a 2013, Roberto Gesta defende sua gestão, apesar de ter visto o número de brasileiros medalhistas minguarem ao longo dos anos. “Nesse período, construímos centros de treinamento, trouxemos treinadores estrangeiros e nenhum atleta que conseguiu índice deixou de viajar para o exterior”, argumenta.

Com um orçamento de R$ 30 milhões por ano, José Antonio Fernandes assumiu em 2013 com o discurso de profissionalização da gestão, mas o novo projeto apenas se inicia. Entre os objetivos principais estão a formação de um banco de dados nacional informatizado, com atualização dos resultados por professores; a criação de núcleos de desenvolvimento, para receber os atletas promissores; e a formação de treinadores. “Hoje, temos 650 técnicos de atletismo. Precisamos de 5 mil”, alerta Antonio Carlos Gomes, superintendente de alto rendimento da CBAt. “Podemos contar com resultados disso em 2020, 2024. Para 2016, seria ilusão.”

O projeto do Ministério do Esporte para a modalidade é a Rede Nacional de Atletismo, estabelecido por lei federal de 2011, com orçamento de R$ 918,4 milhões. Nele, está prevista a construção de 53 pistas oficiais em 22 estados e no Distrito Federal, além de 168 centros de iniciação no esporte, com minipistas. Apenas 14 dessas estruturas estão finalizadas. “A lógica é que o resultado apareça em dois ou três ciclos olímpicos”, avalia Ricardo Leyser, secretário de Alto Rendimento do Ministério do Esporte.