CANDANGÃO

Mais jovem do torneio, Pedrinho faz a primeira partida como profissional no duelo de rebaixados

Brasília e Taguatinga se despediram da elite do futebol brasiliense com um empate

postado em 30/03/2017 11:39 / atualizado em 30/03/2017 11:53

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
Pedro Lucas Andrade se tornou o primeiro jogador nascido no século 21 a atuar no Campeonato Brasiliense, ontem, na última rodada da fase classificatória. Pedrinho, como é chamado, estreou no futebol profissional vestindo a camisa 10 do Clube Atlético Taguatinga. Ele foi a campo um mês e dois dias depois de ter completado a idade mínima permitida para jogar profissionalmente: 16 anos. O início da carreira, porém, ficou longe do almejado: “Não era exatamente o jogo do sonho. Esperava estrear com o time já classificado para a fase mata-mata do Candangão. Infelizmente, foi no rebaixamento”, lamenta.

Só mesmo a vibração dos pais de Pedrinho para quebrar o clima de velório da partida disputada no meio da manhã, no Estádio Abadião, entre Brasília e Taguatinga. Os dois clubes chegaram à última rodada da fase de classificação já rebaixados à segunda divisão e se despediram da elite do futebol local com empate por 2 x 2. Ainda assim, para Leandro Marques, pai do estreante, o jogo estava mais para decisão de título. Da arquibancada, aos gritos, ele orientava o filho: “Vai, Pedro, encosta”.

Peñarol — apelido do pai mais coruja entre os 30 convidados que compareceram ao Abadião — é mordomo do Taguatinga. Embora conheça todo o elenco, ele não foi econômico na torcida pelo garoto: “Deixa o Pedro bater a falta”; “tira o Feijão, ele não toca para o Pedro”; “pede bola, Pedro”; “é só passar para o Pedro, que o time chega bem”, gritava. Ao fim da partida, o meia reconheceu o carinho: “Meus pais são meus heróis, estão sempre me incentivando”.

Pedrinho atuou por 50 minutos. Fez uma falta, sofreu outra e tocou cinco vezes na bola. Deu quatro passes — um deles resultou em bela enfiada que deixou o companheiro de frente para o goleiro, embora a jogada não tenha terminado em gol — e ainda chegou a empurrar a bola para o fundo das redes após rebote do goleiro. O primeiro gol dele no profissional, contudo, acabou anulado, pois estava impedido. Antes, pegou a bola para bater falta na lateral do campo, mas um colega assumiu a cobrança por ordens do técnico. Aos cinco minutos do segundo tempo, Pedrinho foi substituído sentindo incômodo na coxa direita em decorrência de um tostão sofrido no fim da primeira etapa.

“Não fui muito bem, porque não deu para fazer o meu gol e tive de sair no segundo tempo”, avalia Pedrinho. Ele descreve o próprio estilo em campo: “A visão de jogo é o meu futebol, com uma batida diferenciada e, se pegar a bola na entrada da área, é gol”. Para estrear no profissional, o estudante do segundo ano do ensino médio contrariou a mãe ao perder uma prova de física no Colégio da Polícia Militar José Alencar, no Novo Gama. “Vou ter de conversar com a professora e recuperar a nota nos outros bimestres”, planeja o garoto, que se diz bom aluno, embora confesse que física seja “mais complicado”.



Três torcedores para o jogo dos rebaixados

Apaixonados por futebol, os paulistas Guilherme Araújo, 28 anos, e Eduardo Nascimbere, 30, saíram de Águas Claras para ir ao Estádio Abadião, em Ceilândia, conhecer o futebol candango. “Somos curiosos pelo lado menos glamouroso do futebol”, explica Guilherme, que está de férias em Brasília. O confronto escolhido para o “estudo de caso” foi exatamente entre os dois clubes já rebaixados. Esse detalhe, eles confessaram que não sabiam. Ainda assim, apostaram qual seria o público: um falou em 36 pessoas, o outro, em 12. Nenhum ganhou. Eles se depararam com portões fechados, decisão do mandante do confronto, o Brasília.

O outro torcedor frustrado por não poder entrar no estádio foi Edmar da Costa, 43 anos, morador do Recanto das Emas. Numa bicicleta com duas caixas de isopor repletas de dindim, o pedreiro e pintor — há um ano e meio desempregado — diz aproveitar os jogos do Campeonato Brasiliense para faturar. “Sempre vendo dindim nos estádios para ver se consigo tirar um dinheiro, porque a crise está grande. Mas também gosto de assistir aos jogos e acompanhar o Candangão”, conta o torcedor do Brasiliense desde 2002.