CANDANGÃO

Entrevista Marcos Aurélio: 'Falta cobrador de falta clássico no país'

O camisa 10 do Brasiliense participou dos três gols da vitória sobre o Gama, por 3 x 1, no 1º jogo da final do Candangão 2020. Todos em bola parada

postado em 29/08/2020 11:41 / atualizado em 29/08/2020 12:24

(Foto: Gama/Ascom)
O meia Marcos Aurélio foi decisivo no primeiro jogo da final do Candangão, participando dos três gols que acabaram com a invencibilidade de dois anos e 30 jogos do arquirrival Gama, na vitória por 3 x 1, na última quarta-feira. Todos os gols saíram de bola parada, situação que o cobrador de faltas do Brasiliense considera uma raridade no futebol brasileiro, devido ao aumento da intensidade na marcação no meio de campo. 

Dedicado aos treinos, porém, Marcos Aurélio, 36 anos, não pôde treinar com bola por 90 dias em função da pandemia de covid-19. Passou a quarentena dentro de um apartamento, em Águas Claras, e teve a parceria da esposa nos exercícios para manter a disciplina e a forma física. Camisa 10 do Brasiliense, o veterano aposta no cuidado com o corpo para manter o alto rendimento e usa a bagagem acumulada pelos 20 clubes em que atuou para ser categórico sobre a segunda e decisiva partida, neste sábado (29/8), às 16h, no Estádio Bezerrão: “Ainda não tem nada ganho, mas a postura do time tem de ser igual, temos de manter o empenho e o foco, porque, se bobear, eles podem reverter o placar”.


Qual foi a sensação de quebrar a invencibilidade do Gama? 

Quando se pensa em clássico, existe uma sensação muito boa, é a disputa contra o maior rival. Sabemos que a equipe do Gama é muito boa, que estava invicta, mas, em clássico, só se pensa naquele jogo, todos entraram sabendo que teríamos uma partida difícil. A concentração e o foco foram fundamentais. Clássico não tem favorito e, geralmente, é resolvido nos detalhes. Ainda bem que consegui encontrar as oportunidades de gol e a equipe soube aproveitar para construir um placar excelente. Ainda não tem nada ganho, mas a postura tem de ser igual, temos de entrar focados novamente. 

Uma final com clássico perde um pouco do charme sem a presença da torcida, mas isso ocorre por segurança devido à pandemia. Como está vendo este momento? 

Delicado... Se pudessem escolher, todos gostariam de jogar com torcida, ainda mais em uma final de clássico. Mas sabemos que todo o protocolo de segurança é importante, é um vírus novo, que não conhecemos, então procuramos fazer a coisa certa para não levá-lo para casa e colocar em risco os nossos familiares. Em relação ao protocolo, é tudo muito novo. Não estamos acostumados a usar máscaras e tomar todos esses cuidados. Eu joguei na Ásia, no futebol da Coreia do Sul e do Japão. Lá, é mais comum o uso da máscara. Mas para nós, no Brasil, é totalmente novo. Às vezes, entro no elevador do hotel atrasado para descer para o café da manhã ou para o jantar, percebo que estou sem máscara, então, volto correndo para colocar. Acontece...

Você é um meio-campista acostumado a marcar gols e balançou as redes desde estreia no Brasiliense. Quais características você destaca do ataque do time?

Temos a oportunidade de trabalhar com diferentes jogadores, como Zé Love, Neto Baiano e Douglas. São atletas com muita qualidade e experiência, que acabam dando um salto à equipe. Mas os treinamentos são fundamentais para manter uma boa performance e estamos sabendo aproveitar as oportunidades. São jogadores que pensam o jogo. Todos têm entrosamento, mesmo os que chegaram há pouco tempo, adaptaram-se rápido. A minha característica é essa: chutar para gol, deixar os companheiros em boas condições e bater bem nas bolas paradas.

Sua precisão nas bolas paradas sempre foi um ponto forte. Como fez para mantê-lo durante e depois da quarentena?

Sou um atleta que não gosta de ficar parado, sem treinar. Na quarentena, fazia exercício funcional no meu apartamento, pegamos pesos na academia para praticar em casa, minha esposa me acompanhava. É difícil para quem estava acostumado a treinar no campo, sempre com bola. Uma coisa que minimizava era correr na rua, mas de máscara é difícil. Então, procurei fazer o trabalho na minha casa e manter a boa alimentação nos quase 90 dias de quarentena sem treinos. Nesse tempo, fiquei sem treinar com bola, mas, na volta, estava bem com a parte física e deu para calibrar o pé facilmente. Quando tem um jeito certo de bater na bola e a experiência de fazer isso há bastante tempo, ajuda na volta dos treinamentos.

No primeiro jogo da final, as suas cobranças de falta foram decisivas. Você fica até mais tarde treinando falta?

Não só no Brasiliense, como em todos os clubes que passei, sempre gostei de treinar. Isso vale inclusive para uma das minhas características, que é bater bem na bola. Eu não gosto de ficar fora de treino ou jogo, não gosto de ser poupado. Quando faz bem o treino, com certeza, dá condições de fazer bem no jogo. No ano passado, quando joguei pelo Botafogo-PB, tive várias oportunidades de bater falta de média distância e foi muito bom. Claro que prefiro aquela falta mais próxima da área, que dá para bater na bola com mais precisão, porque não precisa colocar tanta força. 

Faltam batedores de falta clássicos nos clubes brasileiros atualmente? 

Costumo acompanhar o futebol, outros times, e, com certeza, acabou esse meia que tem facilidade nas faltas, como era o Petkovi%u0107, excepcional cobrador de falta, que me ajudou também a ser um bom cobrador. Mostrou-me como era importante o treinamento. Eu via que os caras treinavam para caramba e eram daqueles que, quando tinha gol perto da área, era gol, trave ou o goleiro chegava na bola. Desse jeito teve também o Alex, o Marcelinho Carioca. Hoje, está escasso, não se vê tanto gol de falta no futebol brasileiro. Acredito que foi pela mudança no estilo de jogo, que passou a exigir muita força física. Antigamente, o futebol era muito mais posicionado, em um ritmo mais cadenciado. Hoje, tem de estar com o preparo físico 100%, o jogo tem muita velocidade pelas laterais e os meias têm de ajudar na marcação. 

O Brasiliense é composto por alguns veteranos. Como essa característica reflete no estilo de jogo do time? Na pausa para a quarentena, isso fez diferença? 

A nossa parte física precisa estar em dia, porque não temos mais 20 a 25 anos, idade em que corríamos tranquilamente, jogávamos os 90 minutos e, se tivesse mais, jogaríamos outros 90. Mas a nossa preparação física é excelente e todo mundo está se ajudando dentro de campo, porque, quando todos ajudam, acabamos correndo menos no jogo. A experiência, por outro lado, conta muito em jogos de decisão. São jogadores que viveram partidas grandes e importantes. Mantemos a tranquilidade para jogar, conversamos com o restante do elenco e passamos essa confiança aos mais novos. 

O Brasiliense construiu uma vantagem, por 3 x 1, no primeiro jogo da decisão do Candangão. Qual será a estratégia para o jogo decisivo?

Será mais um jogo difícil, mas não temos de nos apegar ao regulamento. Não podemos mudar a postura de jogo, temos de manter o empenho e o foco, porque, se bobear, podem reverter o placar. Conseguimos fazer uma boa vantagem, mas, no futebol, é um placar possível de reversão. Então, temos de fazer um grande jogo de novo. 

Apesar da expectativa pelo título do Candangão, o seu grande objetivo no Brasiliense é subir para a Série C nacional. O que espera para o restante da temporada? 

Quando vim para o Brasiliense, o projeto era chegar à final do estadual, classificar para a Copa Verde e o acesso na Série D. Temos a decisão e precisamos nos concentrar o máximo agora para começar a pensar na fase de grupos da Série C e, mais para frente, buscar o acesso. Mas, primeiramente, está todo mundo ciente do projeto e confiante de que vai conquistar os objetivos.