ANIVERSÁRIO

Há 20 anos, o Gama era campeão da Série B

Em entrevista ao Correio, personagens da conquista recordam a campanha, e o inesquecível 20 de dezembro de 1998 no velho Mané

postado em 20/12/2018 14:12 / atualizado em 20/12/2018 16:46

Carlos Silva/CB/D.A Press
Era ano de Copa. Ressaca depois da derrota por 3 x 0 para a França na final. O Brasil tentava curar o trauma das cabeçadas de Zidane — eleito o melhor jogador do mundo. Nas eleições, Fernando Henrique Cardoso conquistava o segundo mandato. Em meio à revolução tecnológica, nascia a empresa Google. Nas artes, tristeza com as perdas de cantores como Tim Maia e Frank Sinatra; e aplausos para o português José Saramago — Prêmio Nobel de Literatura.

No fim de 1998, a energia dos “Raios Gama” contagiava o Distrito Federal. Não estamos falando de física, mas de futebol. Em 20 de dezembro daquele ano, a Sociedade Esportiva do Gama faturava o maior título em 43 anos: a Série B do Campeonato Brasileiro. Ausente na primeira divisão desde 1986, a capital do país voltava a ter um time na elite nacional após a vitória por 3 x 0 sobre o Londrina, num velho Mané abarrotado.

Vinte anos depois, heróis contam ao Correio curiosidades, histórias e bastidores da trajetória. A fase não era boa no início da segundona. O time não encaixava sob a batuta de Orlando Lelé. A esperança do torcedor era a permanência na Série B. Após três derrotas consecutivas, chegava o fim da linha para o técnico. Rei dos acessos à época, Vagner Benazzi assumiu e venceu quatro de seis jogos à frente do alviverde.

O lateral-direito Paulo Henrique conta como foi a guinada. “Na partida de volta contra o Remo, o Benazzi dizia não acreditar que nós deixaríamos acontecer aquele menosprezo que estavam dizendo nos jornais sobre nossa equipe. Vencemos por 4 x 1. Depois, olhamos os jornais e não tinha nada sobre nós. Uma maneira inteligente de mexer com nosso brio”, pondera o jogador.

O atacante Romualdo destaca a superstição de Vágner Benazzi. “Na sequência de vitórias que tivemos, ele não trocava os titulares nem os reservas. Os 11 iniciais deviam ser os mesmos e os reservas sentar-se nos mesmos lugares da vitória anterior”, recorda.

O Gama embalou. Ninguém parava aquele time. Passou com tranquilidade pelo Remo, líder isolado do grupo, por 5 x 1 no placar agregado de um playoff em melhor de três. Nem houve o terceiro round. Na terceira fase, um quadrangular classificou Gama e Desportiva-ES no Grupo A; e Botafogo-SP e Londrina no B. O quarteto brigaria por duas vagas na elite e pelo título da Série B. O time candango não perdeu. Foram quatro empates e uma vitória antes do jogo decisivo, no velho Mané Garrincha, contra o Londrina.

Presidente da Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF) à época, Weber Magalhães, hoje mandatário do Gama, lembra o otimismo naquele 20 de dezembro de 1998. “Saí na noite anterior para comprar um troféu. Na época, a entrega da taça oficial era feita dias depois, no Rio. Não podíamos deixar o elenco e a torcida sem volta olímpica. Comprei uma taça para fazermos a festa no Mané. Tinha certeza do título”, revela.

Em 20 de dezembro, no velho Mané Garrincha, o torcedor alviverde vibrou com a goleada por 3 x 0 sobre o Londrina para assegurar a taça e o acesso à Série A.

Márcio Almeida, historiador e conselheiro do Gama, revive o drama. “Parecia nunca chegar a hora do jogo. A cidade estava mobilizada, torcedores e simpatizantes. Até quem torce para times de fora queria ver o Gama campeão. Era a sensação do ano”, vibra.

O jogo não foi complicado. Aos sete minutos, Renato Martins marcou de cabeça. Willian, aos 27, e Nei Bala, aos 33 da etapa final, fecharam o placar e coroaram o Gama campeão da Série B de 1998.
 
Joédison Alves/CB/D.A Press
 
Rodrigo “Beckham”, craque do Gama na temporada e artilheiro do time com oito gols, não esquece os companheiros e a ótima fase da carreira na capital. “Os guerreiros que batalharam ao meu lado e foram vitoriosos têm um lugar especial no meu coração, no sentido de que, a qualquer momento, eu estarei preparado para recebê-los e dar toda minha atenção, porque é algo muito especial, que ficou marcado”, emociona-se o meia.

 
 
 
 
Após quatro temporadas na primeira divisão, com direito a uma batalha duríssima com a CBF, impedindo a entidade de organizar o Brasileirão de 2000 devido ao caso Sandro Hiroshi, o Gama caiu em 2002 para a Série B.

 Os anos seguintes foram de altos e baixos até 2010. O clube não se manteve na C e foi rebaixado. Em 2019, o clube é fora de série. Lutará no Candangão por vaga à Série D 2020. O Correio apurou que o símbolo do maior título  — o troféu da Série B — está quebrado. Sem perspectiva de conserto.

*Estagiário sob a supervisão de Marcos Paulo Lima

Campanha - Série B

1ª fase (grupos)
Gama 1 x 1 Tuna Luso-PA
Bahia 2 x 1 Gama
XV de Piracicaba-SP 2 x 1 Gama
Gama 1 x 2 Ceará
Gama 3 x 0 Americano-RJ
Americano-RJ 1 x 2 Gama
Ceará 1 x 0 Gama
Gama 3 x 1 XV de Piracicaba-SP
Gama 1 x 0 Bahia
Tuna Luso-PA 2 x 0 Gama
 
2ª fase (mata mata em melhor de 3)
Gama 1 x 0 Remo-PA
Remo-PA 1 x 4 Gama
 
3ª fase (quadrangular) 
Gama 1 x 0 Desportiva-ES
XV de Piracicaba-SP 1 x 0 Gama
Gama 2 x 1 Criciúma-SC
Criciúma 1 x 1 Gama
Gama 1 x 0 XV de Piracicaba
Desportiva-ES 2 x 0 Gama
 
Fase final (quadrangular)
Londrina-PR 0 x 0 Gama
Gama 2 x 2 Desportiva-ES
Botafogo-SP 1 x 2 Gama
Gama 1 x 1 Botafogo-SP
Desportiva-ES 2 x 2 Gama
Gama 3 x 0 Londrina-PR (jogo do título)
 
Relembre os melhores momentos da final:
 
 
Ficha da final: 

GAMA 3
Marcelo Cruz, Paulo Henrique, Gerson (Adriano), Jairo e Rochinha; Deda, Kabila, William l e Rodrigo; Nei Bala l (Robertinho) e Renato Martins l (Romualdo).
Técnico: Vagner Benazzi

LONDRINA 0
Renato, Valder, Ivanildo, Marcelo (Adoilson) e Marquinhos Capixaba (Alemão); Renan, Wagner Luís Carlos e Carlos Alberto (Gilmar Nass) ; Mauro e Alaor.
Técnico: Varlei de Carvalho

Data: 20/12/1998     Local: Mané Garrincha          Árbitro: Jorge Rabelo (RJ)

Tags: serie b brasileirao inedito titulo gama