COLUNA// JOVANE NUNES

Eu quero comprar, eles querem vender

postado em 13/08/2013 10:05


Mas não conseguimos fazer negócio. Como é difícil comprar um ingresso para ver um jogo de futebol em Brasília. Apesar de estarmos no século 21, com todo o aparato tecnológico, somos obrigados a ficar em filas gigantescas e vagarosas. Quarta-feira, fui comprar cinco entradas para Botafogo e Goiás. Fiquei duas horas esperando. Pelo menos, fiz novas amizades e bati um papo com os meus colegas de situação. Quando chegou a minha vez, a moça da bilheteria disse que eu só poderia comprar três ingressos com o meu CPF. Um amigo, na fila, ligou para a esposa, pegou o número do CPF dela e me emprestou. Meu Deus, se o Banco Central descobre que estou usando o CPF de outras pessoas, sou denunciado. Por fim, comprei os ingressos. No dia do jogo, peguei outra fila, imensa, para entrar no estádio, que é ótimo, como já havia constatado no jogo Brasil x Japão. Amigos meus, flamenguistas, disseram-me que, nos jogos do Mengão, também ocorre essa via-crúcis. A sorte do Flamengo é que a nação rubro-negra é gigantesca e lota o estádio de qualquer forma. Lota não, lotava. Daqui a pouco, o torcedor brasiliense do Flamengo começa a se aborrecer com os maus-tratos e fica em casa para ver o jogo pela tevê.

Quando o dólar era barato, eu podia e gostava de ir aos Estados Unidos. Em Nova York, fui a dois grandes estádios, o Metlife Stadium e o Yankee Stadium. Em ambos, não gastei mais que 10 minutos para descer do metrô, entrar no estádio e me sentar no meu lugar, sem filas e aborrecimentos. Ninguém me pediu o número do CPF. Lá, isso é desnecessário, Obama já vigia todos e sabe de tudo. O importante é lotar o estádio e vender donuts. Em Miami, em frente ao American Airlines Arena, vi um cartaz enorme com os craques do Miami Heat anunciando o próximo jogo. Incrível e óbvio, eles promovem os jogos como se fossem shows de rock. Fazem anúncios, promoções e tudo que for possível para aumentar no torcedor a vontade de comprar ingressos. Ou seja, lá, esporte é um negócio. Tio Sam, quando treina o pessoal da bilheteria, é bastante claro: venda ingressos até para quem não quer comprar. I want you!

Aprendi com meu pai, que era um excelente vendedor, que o cliente tem sempre a prioridade e deve ser tratado de forma especial. É ele quem põe comida no nosso prato. Então, por que os times brasileiros, todos amadores, tratam tão mal os seus clientes, os torcedores? Ora, não é o Botafogo que está fazendo um favor me vendendo um ingresso. Eu é que o estou ajudando, comprando logo cinco de uma vez. A diretoria botafoguense vive reclamando que não tem dinheiro para pagar as contas. Desse jeito, nunca terá. Como é possível, na oportunidade que tem de encher os cofres, por incompetência ou descaso, o Fogão se permitir faturar muito menos do que poderia? Por que começou a venda na quarta-feira e não na segunda, quando o jogo já estava confirmado? Por que não fez uma campanha publicitária aqui no Correio Braziliense, na internet ou na tevê? Por que não espalhou outdoors pela cidade com a foto de Seedorf convocando todos para o jogo? Que tal preços populares atrás dos gols? Por que não lotar o estádio e se contentar com 23 mil pagantes? Outra coisa: por que o Botafogo não ganhou o jogo? Isso faria com que os clientes que compraram ingressos saíssem do estádio felizes, com a certeza de que gastaram bem o seu suado dinheirinho, e com vontade de voltar.